Amílcar Caffé - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Amílcar Caffé
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Amílcar Caffé é jornalista. Mestre em Literaturas Modernas.

 
Textos publicados pelo autor

Pergunta:

O que é o sds, ou sd`s que eu vejo algumas pessoas assinarem nos emails?

Resposta:

Na tentativa de ser breve, uma consequência da velocidade gerada pela Internet, foram criadas várias abreviações. É o caso de sds, para saudações, assim como abs para abraços e bjs para beijos.

No caso, acredito que não se deve aceitar a forma "sd's", um mau anglicismo, porque nem em inglês se utiliza o apóstrofo seguido de “esse” para formação de um plural de termo que pode ganhar um “esse” – incorre-se no caso possessivo, o que não é o que se pretende ao enviar as saudações.

Pergunta:

Na generalidade dos "mass media" portugueses ouve-se e vê-se escrito "os Taliban". Na imprensa brasileira já vi "o Taleban". Penso que será por influência do inglês "the Taliban", em que o adjectivo que adquire a função de substantivo colectivo não tem marca de plural (-s). Em português, não deveria ser "os Talibãs" ou "o Estado Talibã"?

Rui Pombal
Lisboa
Portugal 

Deve escrever-se "taliban/talibans"? 

Ou "talibã/talibãs" (como me parece mais de acordo com a feição da nossa língua)?

João Araújo
Portugal 

Talibã ou Taliban?

O que originou o seu nome? 

Monteiro Luís
Portugal  

Aparece-me dito e escrito das duas maneiras: os taliban e os talibans. Explicaram-me que Taliban é uma sigla que significa estudantes muçulmanos e que serve para o plural e o singular. Mas não se deverá respeitar a tendência da língua portuguesa para distinguir entre o singular e o plural? E não se deverá empregar o til num termo que já se tornou corrente e, por isso, já pertence à língua portuguesa?

M. Coutinho
México  

Talibã ou taliban?

A escrita da palavra 'talibã(an)' em cada uma das formas está dependente apenas da convensão adoptada, ou há efectivamente uma correcta? Verifico que, por exemplo, o Público escreve 'taliban' e o Expresso 'talibã'.

Resposta:

Juntando as varias consultas recebidas sobre o tema:

 Os talibãs, o Estado talibã. Não se justifica, em português, dizer ou escrever "os talibã", sem concordância, e com n em vez de ã.

A palavra passou por várias formas de aportuguesamento, dos dois lados do Atlântico (taleban, taliban, talebã ou talibã). Não considero a utilização do e a mais correcta em português – trata-se da transcrição para a fonética inglesa do nome, originalmente em parse, língua falada na Pérsia na época dos últimos reis da dinastia sassânida (226-652 d.C.). O termo taliban vem de taleb, que significa «estudante», com o sufixo an, que faz o plural. Como o português apenas em poucos casos utiliza esta consoante no final das palavras, após vogais que não aceitam o til (abdómenhímen, etc.), recomenda-se a grafia talibã, no singular, e talibãs, no plural.

 

Cf. Talibã + As palavras da guerra + De "herdeiros" de Genghis Khan a alvos. Porque é que os hazaras temem os talibãs?

 

Cibernota: Amílcar Caffé é brasileiro e, no Brasil, a palavra dinossáurio não está dicionarizada. Em Portugal, alguns dicionários registam-na, apesar de ser termo mal formado e os etimologistas preferirem dinossauro, pelos motivos explicados na resposta Dinossauro melhor que dinossáurio, de 16 de Dezembro de 1999.

Pergunta:

Disseram-me que os apelidos com origem nos nomes de árvores (por exemplo, Ramos, Nogueira...) são de origem Judia. Será verdade?

Resposta:

Trata-se de uma mistificação. Se os apelidos (sobrenomes) com nomes de árvores fossem todos de origem judia, bastava à Inquisição chamar todas as pessoas com nomes de árvore e queimá-los para acabar com os cristãos-novos. Entre os nomes acusados pela Inquisição está o de Damião de Goes e, ao que eu saiba, Goes não é nome de árvore (os inquisidores chegaram a desenterrar os seus ossos para queimá-los, porque o homem já estava morto quando terminaram o processo). O principal dramaturgo português do século XVIII, António José da Silva, que terminou seus dias queimado numa fogueira, não tem nome de árvore - silva é um arbusto. Não há nenhum dado que permita afirmar que D. Nuno Álvares Pereira, o vencedor da batalha de Aljubarrota, tenha antepassados judeus. Também é importante ter em conta que até o século XIX, o apelido (sobrenome) não obrigatoriamente era passado de pai para filho. Podia muito bem passar do padrinho para o afilhado, ou ser escolhido ao acaso - a não ser em famílias nobres.

Pergunta:

Em que casos utilizo «à distância» e «a distância»?

Resposta:

A crase é utilizada quando existe uma contração/contracção da preposição a com o artigo a. Não se usa a crase quando apenas tiver de utilizar o artigo.

Para saber se é necessário o acento grave, tente substituir o a ou à por outra preposição. Como exemplos temos as seguintes frases:

1.«A distância entre Lisboa e o Porto é de 305 quilómetros.»

2. «Lisboa fica à distância de 305 quilómetros do Porto. (A expressão «à distância» pode ser substituída por «a uma distância».)

3. «A distância parece curta»

4. «À distância, parece uma pessoa normal.» (Pode ser substituída por «com a distância».)

 

Cf. Crase sem crise (video de Fernanda Pompeu, no blogue Acelera Texto)