Controvérsias - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Polémicas em torno de questões linguísticas.
A norma (in)culta do jornalismo
Ainda sobre o debate das fontes da norma culta no Brasil

«Você realmente acha que a linguagem jornalística pode ser tomada como fonte de norma CULTA, como modelo de exemplaridade idiomática, como alvo a ser desejado no que respeita à qualidade escrita?» – interroga o gramático brasileiro Fernando Pestana a respeito do debate à volta fonte da norma culta no Brasil. Texto publicado pelo autor no seu próprio mural de Facebook em 20 de fevereiro de 2025.

 A degradação das plataformas digitais
O anglicismo enshittification

O neologismo inglês enshittification descreve o processo de degradação de serviços e produtos, especialmente os digitais, à medida que se priorizam estratégias voltadas para o lucro em detrimento da experiência do utilizador. Se o traduzíssemos para português, como ficaria? "Enshitificação", "embostificação", "merdificação" seriam opções aceitáveis, ou a perífrase «degradação das plataformas em linha» é mais adequada? A esta pergunta responde a consultora Sara Mourato, num texto em torno de um anglicismo que ganhou vida em 2022.

Simplificar e popularizar a linguagem
A questão da linguagem simples no sistema judicial do Brasil

«Há séculos de estudo filosófico no campo da lógica, da retórica e da argumentação. Esses estudos convergem em mostrar que a complexidade de organização do pensamento, a seleção vocabular e as construções sintáticas fazem parte da própria ação de linguagem necessária. Reduzi-la a uma dimensão forçosamente simples é, em última instância, limitar a capacidade expressiva da língua [...].»

Trabalho da autoria do linguista brasileiro Jefferson Evaristo publicado em duas partes no mural de Facebook Língua e Tradição nos dias 20 de julho e 17 de agosto de 2024, a propósito dos possíveis problemas do Pacto Nacional do Judiciário pela Linguagem Simples e do Projeto de Lei 6256/19, que visam implementar a linguagem simples na comunicação pública.

Palavras com dono
Utopia, distopia, disforia e disrupção

«Quando, ainda perto de nós, o futuro era o horizonte para onde apontava o olhar político e nele se projectavam aspirações técnico-científicas sem a interposição de muitas sombras, era a palavra utopia que tinha alcançado extraordinários privilégios [...]. Quanto à distopia, o seu uso só recentemente saltou a fronteira do jargão técnico-literário e irradiou na direcção das representações pessimistas mais comuns.»

Reflexões do professor universitrário e crítico literário  português António Guerreiro a respeito do uso de distopia, disforia e disrupção, três palavras que partilham o prefixo dis- e traduzem certas tendências da atualidade, do pessimismo ao radicalismo. Artigo incluído no jornal Público em 14 de junho de 2024. Mantém-se a nornma ortográfica de 1945.

Na imagem, o quadro de 1898 que foi pintado por Francis Barraud (1856-1924) e depois, em 1900, utilizado como símbolo da marca comercial His Master's Voice (A Voz do Dono), mais conhecida pela sigla HMV.

 

 

Não são abusos, são crimes
As palavras como reflexo de mentalidades e de estruturas

«Abusar é utilizar mal, utilizar em excesso, sem colocar em causa a questão da propriedade ou de uma "utilização normal". Ora, em momento algum a violência física, sexual, independentemente do grau de gravidade, contra crianças é "normal", e estas não são propriedade da Igreja. Não se pode abusar de um direito que não se tem.»

Artigo da professora Luísa Semedo, transcrito do jornal português Público do dia 23 de março de 2023,  a propósito da expressão eufemística de «abusos sexuais», sejam os que envolvem sacerdotes ou os relacionados com as violências sexuais contra mulheres. 

Limpar livros de pecados linguísticos, <br> ou o elogio da estupidez
A higienização da literatura

«Atualmente, presumo, deve ler-se livros para estupidificar. Os leitores não podem ser confrontados com o que é ofensivo e fora das lentes atuais. Não devem aprender que o mundo nem sempre foi como é agora, as circunstâncias políticas e sociais mudam, e o quadro de valores das comunidades evolui. Estão arredados do princípio fundamental da leitura: um texto é sempre construído, e só assim se percebe, dentro do seu contexto.»

Artigo da  economista Maria João Marques, a propósito da decisão de certas editoras de limparem os livros de Roald Dahl e de Ian Fleming de palavras racistas e sexistas, incluído no jornal Público no dia 1 de março de 2023. 

Assédio, poder e sistemas de oportunidade
Conceitos de assédio

«O assédio na Universidade [em Portugal] é de espectro largo e em alguns casos de assédio moral corresponde ao sentido da palavra no discurso militar, i. e., o que verdadeiramente o que se faz é cercar, sitiar. São casos de perseguição que duram, muitos deles, anos a fio.» – escreve o professor universitário Carlos A. M. Gouveia refletindo sobre o conceito de assédio e os seus tipos na realidade universitária. Texto incluído no jornal Público em 23 de maio de 2022 e aqui transcrito com a devida vénia.

Quando os nomes próprios se transformam <br> em armas políticas
Antropónimos e eleições presidenciais em França

 «Uma das bandeiras que o candidato [às eleições presidenciais francesas] tem agitado na comunicação social é a do retorno aos "nomes franceses", defendendo a obrigatoriedade de "afrancesar os nomes próprios"», escreve a linguista Margarita Correia, em crónica publicada no Diário de Notícias de 3 de janeiro de 2022, a respeito do retorno à pretensa pureza dos nomes próprios franceses que é reivindicação de Éric Zemmou, candidato às eleições presidenciais francesas.

Joacine, o claro e o escuro
À volta do léxico associável à cor da pele

«Associar as dicotomias claro/escuro, luz/trevas ou dia/noite à concentração de melanina na pele é tão disparatado que se torna quase cómico», escreve o jornalista João Miguel Tavares*, discordando da deputada Joacine Katar Moreira e de todos os que, como ela, apontam a carga negativa associada à cor da pele em expressões e palavras herdadas dos tempos da escravatura e do colonialismo. 

Crónica disponível na edição de 7 de dezembro de 2021 do jornal Público, reproduzida a seguir, com a devida vénia, conforme a  norma ortográfica de 1945 do original..

Há racismo editorial no mundo literário em língua portuguesa?
O privilégio de que alguns escritores africanos gozam

«Não é novidade que os escritores africanos negros dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) têm mais dificuldades de publicar no estrangeiro se comparados aos seus pares brancos ou mestiços. Mia Couto, de Moçambique, ou José Agualusa, de Angola, por exemplo, têm sido uma espécie de "porta-bandeira" dos seus países na arena editorial internacional», escreve a linguista, escritora e jornalista moçambicana Nadia Issufo, nesta peça publicada no portal da Deutsche Welle no dia 25 de junho de 2021.