Com todo o respeito, permito-me discordar frontalmente da resposta dada à questão sob o título "...uma das autarquias que... apresenta/apresentam". Na frase em apreço, ao contrário do afirmado, não são possíveis ambas as hipóteses ("A C. M. do Porto é uma das autarquias que, a nível nacional, apresenta uma das mais baixas taxas de absentismo do país" e "A C. M. do Porto é uma das autarquias que, a nível nacional, apresentam uma das mais baixas taxas de absentismo do país").
Somente a segunda hipótese é correcta. Porque, invertendo: das autarquias que... apresentam uma das mais baixas taxas de absentismo do país, a C. M. do Porto é uma.
Concordo inteiramente com as respostas dadas pelo Ciberdúvidas em relação à frase "Soares foi um dos que lá estiveram" e à frase "Sou um dos que dizem". Trata-se de coerência sintáctica e não apenas de convenção.
O problema é que, nos últimos anos, se tornou verdadeiramente epidémico enveredar por plurais intermédios que seriam dispensáveis e aos quais se não dá sequência lógica na frase.
Em Portugal está, infelizmente, muito divulgado este tipo de erro. Veiculam-no políticos, jornalistas, tecnocratas e até filólogos - na televisão, na rádio e na imprensa. É certo existir quem o defenda como correcto (ou, pelo menos, como alternativa válida), mas a explicação reside em ignorância ou então no facto de que, perante a enorme difusão que o erro atingiu, há entendidos que optam pela lei do menor esforço e assim o avalizam. Surgem então argumentos pretensamente justificativos: "fazer a concordância com o núcleo da expressão, isto é, com "um"", "colocar em destaque o núcleo da expressão nominal, o pronome indefinido "um"", etc.
Ora, se se quis de facto colocar em destaque o pronome indefinido ou numeral "uma", o melhor teria sido dispensar rodeios e plurais intermédios, utilizando a forma mais simples, correcta e tradicional: "A C.M. do Porto é uma autarquia que, a nível nacional, apresenta uma das mais baixas taxas de absentismo do país".
Note-se que o Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem ("Obras Completas de Rodrigo de Sá Nogueira", Clássica Editora) condena firmemente como erradíssimas as construções do tipo "um dos que..." seguidas de verbo no singular.
Quanto ao argumento dos clássicos: Nos grandes escritores, os erros gramaticais não são erros - são flores de linguagem. Júlio Dinis termina um dos seus mais célebres romances com a frase: "A família ... é das que mais deve à Morgadinha". Mas, conforme muito bem se diz na resposta a "Sou um dos que dizem", não devemos seguir os descuidos, mesmo que propagados por autores de renome.
Por último, não entendo o argumento de Rodrigues Lapa, que, alegadamente, admitiria as duas concordâncias em nome da prática francesa (entre outros motivos). Quererá Rodrigues Lapa dizer que, em francês, é usual colocar o verbo no singular? Os franceses que, nas construções deste tipo, colocam o verbo no singular estão apenas a cometer o mesmo erro que entre nós anda cada vez mais divulgado, ou seja, estão a falar à balda (perdoe-se-me a expressão, se parecer excessiva). As pessoas de expressão francesa que, pelo menos no discurso escrito, procuram uma linguagem correcta e sintacticamente coerente, desmentem a existência de uma tal "prática francesa".
E a verdade é que as línguas castelhana, francesa e inglesa (estruturalmente, isto é, sintaticamente, idênticas à nossa) não costumam ser agredidas por esta forma na Radiotelevisión Española ou em revistas como "L´Express", "Time" ou "Newsweek", ainda que o possam ser na linguagem oral informal. Seriam, por exemplo, os casos de "una de las casas que fueron construidas" (e não "una de las casas que fue construida", pois, se é correcto dizer, em castelhano como em português, "una de las casas construidas", dificilmente se poderá aceitar, quer numa língua quer na outra, "una de las casas construida"); "un des enfants qui lisent la leçon" (e não "un des enfants qui lit la leçon"); "this is one of the persons who have a problem" (e não "this is one of the persons who has a problem").
Este assunto foi, aliás, tema de uma controvérsia entre a redacção da revista "Time" e um leitor norte-americano que sustentava, no caso transcrito em último lugar, a legitimidade da forma "has", por "one" ser singular - ao que o corpo redactorial da revista replicou que a forma correcta do verbo tinha de ser a do plural ("have"), uma vez que o sujeito, interposto por "who", era "persons" e não "one". O mesmo corpo redactorial fez ainda notar ao referido leitor que uma maneira fácil de testar o verbo consistiria em inverter a frase: "Of the persons who have a problem this is one".