Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Tema: Uso e norma
Carlos Alexandre Xavier Fernandes Reformado da aviação comercial Maia, Portugal 2K

Na frase «estás a ver, seu estúpido?», não deveria o pronome possessivo seu (2.ª pessoa) concordar com o verbo estar na 2.ª pessoa, ficando «Estás a ver, meu estúpido»? E, se não houver alteração do pronome, a frase não deveria ficar «Está a ver, seu estúpido»? Qual das frases é a correcta ou ambas o são?

Grato pela resposta.

André Duarte Investigador Coimbra, Portugal 6K

Em certas zonas do país usa-se em linguagem corrente expressões como «esqueceu-se-me», ou «fugiu-se-me», como por exemplo: «Esqueceu-se-me de comprar pão», em vez de «Esqueci-me de comprar pão». Em que conjugação / outra classificação gramatical é que estas formas se inserem, se nalguma?

Penso que uma conjugação reflexa seria  «Esqueci-me, esqueceste-te, esqueceu-se, ...». Se assim é, qual é a função do me no exemplo acima?

Obrigado!

Maria Jacinto Professora Almada, Portugal 12K

A palavra leite é uma palavra variável ou invariável? Apesar de pertencer à classe dos nomes, existe "leites"??

Wilhelm Zetzsche Ex-editor de publicações 3K

* Aportuguesamento da marca registada X-ACTO®

Por simples análise à palavra x-acto [ɛks-aktou], fica evidente que a corruptela X-ATO, tanto em forma escrita como fonética, e outras semelhantes da marca X-ACTO® [ɛks-æktou] resulta[m] do afastamento erróneo do dífono [cs] representado pela letra xis na sua primeira sílaba x-, cuja pronúncia [ɛks] é completamente desarticulada mediante a sua substituição pela forma escrita xis, que é o nome da própria letra. Na sequência fonética x-acto [ɛks-æktou], a articulação do xis é insuprível pelo seu próprio nome, na medida em que o xis aqui não é uma figuração ou adjectivo de incógnita ou unidade desconhecida, mas o xis do alfabeto latino pronunciável pelo dífono [cs] com o apoio vocálico [ɛ].

* Origem e formação da marca registada X-ACTO®

Ao decompor-se a marca X-ACTO®, pronunciada em inglês [ɛks-æktou], fica demonstrado que a sílaba inicial X- originalmente é uma corruptela criada de propósito (ainda no início dos anos 1930) com o adjectivo castelhano exacto, que se pronuncia [ɛks-aktou] para se chegar à escrita truncada X-ACTO, porém mantendo sempre a mesma pronúncia [ɛks-aktou]; e para esse fim a vogal e- foi suprimida no início da primeira sílaba ex- na sequência fonética do adjectivo em castelhano exacto, cuja grafia, por acaso, então em 1930, era igual à grafia de igual adjectivo em português, e articulado de modo quase igual. Aliás, a supressão da vogal e inicial não dificulta o reconhecimento do adjectivo exacto [ɛks-aktou], quer seja pronunciado em castelhano, quer seja em português, ou ainda em inglês [ɛks-æktou].

* O aportuguesamento irregular da marca X-ACTO®

Quando se faz a desarticulação da consoante x (dífono cs), pronunciada [ɛks], como unidade fonética para se construir em português a corruptela xis- baseada apenas no nome da letra, o seu valor fonético ex- já não pode ser realizado pela forma escrita xis-; e uma vez feita essa desarticulação o adjectivo exacto, tanto em português como em espanhol, fica truncado e a parte restante toma a aparência escrita acto que é a mesma forma escrita do substantivo acto em português. Assim, em teoria, a sílaba inicial X- da forma vocabular X-ACTO é convertida em partícula incógnita, a qual conforme os padrões da língua deve ser transposta para o final da palavra, onde forma a locução Acto X (sem hífen). A forma Acto X é a única adaptação regular aos padrões da língua em processo igual ao processo que trouxe ao português a locução «raios x» (lido xis), adaptada do inglês x-rays [eksreiz] ou mesmo directo do alemão X-Strahlen (Röntgenstrahlen).

* Aportuguesamentos anormais da marca X-ACTO®

Como se vê a derivação imprópria da marca X-ACTO® nada tem a ver com outros casos de palavras que sofreram algum processo de aportuguesamento em maioria verificados na variante brasileira da língua, exemplicados pelos seguintes casos: chiclete, fórmica, gilete, jipe, lambreta, licra, óscar, pírex, polaróide, rímel, tartã ou vitrola. Além disso, há que se considerar que as corruptelas da marca X-ACTO® só começaram a ter uso em Portugal, ainda quando a maioria das pessoas que as usava nunca tinha visto antes qualquer objecto com a marca X-ACTO®, e tão-pouco sabia que se tratava de uma marca. Estas pessoas, induzidas em erro provocado por comerciantes inescrupulosos, desataram a utilizar as corruptelas da marca X-ACTO®, como nome genérico dado a um certo e então desconhecido objecto que deveria ter começado a ser conhecido em português pelo nome: cortador ou mesmo "cúter" (snap-off blade cutter) OLFA® e que se refere ao invento do japonês Yoshio Okada em 1956 e também à faca (knife Stanley) mais usada para cortar alcatifa, anteriormente chamada naifa (do inglês knife) e mesmo ainda hoje designada na linguagem popular «naifa do japão» (knife OLFA®).

* Imprecisão fonética dos aportuguesamentos impróprios da marca X-ACTO®

A prova de que a maioria das pessoas que usam corruptelas da marca X-ACTO® nunca viu antes a marca X-ACTO® escrita alguma vez é sustentada precisamente pelas pesquisas feitas em corpora e em motores de busca que revelam ocorrências das formas "xizato" (em maior número até do que "xizacto"), o que demonstra a propensão que os falantes têm de aproximar palavras não escritas e até desconhecidas aos padrões da língua corrente – portanto não se trata só de palavras estrangeiras. A marca X-ACTO® começou a constar dos dicionários de língua portuguesa, com a grafia x-acto somente a partir de 2003 (DLP Editora, edição 2003) e depois no VOP como estrangeirismo, logo não se pode suprimir dessa grafia o fonema c, tal como também não se suprime o fonema c da palavra facto, por aplicação das regras do novo AO de 1990, pois a sua pronúncia sempre foi muito clara na sequência fonética ac-to da corruptela [xizacto]. A qualificação de faca de corte exacto é atribuída à faca de pena devido ao ângulo de corte da sua lâmina situado entre 13° e 19°, enquanto em outros instrumentos, como por exemplo, o cortador (cutter) OLFA® ou mesmo a faca (knife) OLFA® o ângulo de corte da sua lâmina está situado a 0°, portanto não há. Este é o motivo pelo qual o nome faca X-ACTO® [ɛks-æktou] não pode ser dado a qualquer outro instrumento de corte que não possua essa característica de precisão. Bisturi [não cirúrgico], estilete [de precisão] ou faca X-ACTO® [ɛks-æktou] são, respectivamente, os nomes genéricos dados em Portugal e no Brasil à faca de pena composta por uma pequena lâmina que é substítuível, muito afiada e ajustável por encaixe num pequeno mandril montado na ponta de um cabo tubiforme. Note-se, esta faca de pena não deve ser confundida com a “pequena lâmina” que se liga por articulação a um cabo de resguardo, designada correntemente canivete e classificável também como faca de pena. Mediante este comentário, torna-se evidente que somente por ignorância é que alguém pode pegar na corruptela «XIS-ATO» obtida do nome de marca registada X-ACTO® [eks-æktou] e atribuí-la ao cortador (snap-off blade cutter) OLFA® ou à faca OLFA® (conhecida também por “naifa do japão”). Certos dicionários portugueses fazem registos de entrada no conjunto de significações e explicações referentes à corruptela «X-ATO» da marca X-ACTO® [eks-æktou] e outras corruptelas semelhantes.

Seria providencial que uma resposta do Ciberdúvidas pudesse ajudar a rectificar as acepções impróprias para afastar a continuação das misturas de nomes genéricos, principalmente quanto à corruptela «xis-ato» que é uma forma fonética de uso frequente em Portugal, porém, como se vê, completamente errada.

 

[N. E. – O consulente segue a ortografia anterior à norma em vigor, a do Acordo Ortográfico de 1990.]

Bruno Melchiori Estudante São Paulo, Brasil 4K

Gramáticos há que rechaçam a expressão «outro que não», dando-lhe como alternativa «outro que» (nunca «outro que não eu», mas «outro que eu», a título de exemplo).

Qual a explicação de tal?

Borja Lebaniegos Estudante Madrid, Espanha 1K

[Sobre a expressão «boca do metro»] tenho uma dúvida:  é «boca do metro» ou «entrada do metro»?

Acho que a segunda opção é correta, mas também tenho encontrado a primeira opção  na  Internet. Qual é a  correta?

Nara Soares Estudante Ipatinga, Brasil 9K

Uma dúvida que me persegue há algum tempo: «ver ao vivo» deve ser dito só para se referir a pessoas ou pode se referir a coisas também?

Fui comprar um abajur agora e nos comentários sobre o produto alguém escreveu que «ao vivo o abajur é ainda mais bonito». Está correto esse «ao vivo» se referindo a objetos?

Aguardo ansiosa esse esclarecimento e já agradeço a atenção.

Maria Manuela Salvador Cunha professora aposentada Porto, Portugal 5K

Confrontando as frases:

«Já lhes digo.»

«Venho já chamá-lo.»

Qual é a justificação para as duas diferentes colocações do pronome?

Muito obrigada pela vossa colaboração.

Inês Silva Estudante Portugal 172K

A confusão acerca do uso das expressões latinas idem e ibidem é grande... Gostaria de saber qual a forma correta de usar estas expressões em citações bibliográficas, pois já aqui li que ibidem deve usar-se sempre precedida de idem, mas também já li que se deve usar isolada, caso o nome do autor, a obra e a página sejam os mesmos.

Pode usar-se ibidem sem ser precedida de idem? Se sim, em que circunstâncias? E idem pode usar-se sem mais informação? Qual a forma correta se quiser citar o mesmo autor e obra diferente? E o mesmo autor, mesma obra e página diferente? E se for tudo igual (autor, obra e página)?

Muito obrigada!

Luís Marques Tradutor Lisboa, Portugal 2K

Gostaria de saber se é correcto usar o adjectivo faminto seguido da preposição «de» quando o usamos num sentido figurado.Exemplo:

«As crianças, a morrerem de fome, famintas das ideias que já havia aqui e ali, gritaram: "Independência!"»

Uma vez que faminto pode significar, em sentido figurado, «muito desejoso» ou «ávido», não sei qual a regra admitida, se a preposição é de ou por ou se não é admitida preposição.

Muito obrigado.

 

[N. E. – O consulente escreve correcto e adjetivo, mantendo a antiga ortografia. As formas da norma em vigor são correto e adjetivo.]