Nos casos apresentados, é aceitável o uso tanto da ênclise do pronome como da próclise, ou seja, o pronome átono pode ser colocado tanto depois do verbo no infinitivo como antes do verbo no infinitivo1.
As construções «ter que / haver que» e «ter de / haver de»2 são equivalentes e têm comportamentos sintáticos similares no que respeita à colocação do pronome átono na oração infinitiva introduzida por que ou pela preposição de. Assim, nestes casos, é possível tanto a próclise (que é habitualmente considerada a opção mais normativa, pois que e de são atratores de próclise):
(1) «Tenho de/que o convidar.»
como a ênclise:
(2) «Tenho de/que convidá-lo.»
A própria literatura evidencia, nestes casos, uma oscilação de usos entre a ênclise e a próclise:
(3) «É muito importante, tenho que me ir embora.» (Agustina Bessa Luís, Os incuráveis)
(4) «Tenho de me conformar: os homens do meu género estão todos casados.» (Rita Ferro, Por tudo e por nada: crónicas)
(5) «Tenho que fazer-lhe alguma coisa.» (José Rodrigues Miguéis, Páscoa Feliz)
(6) «[…] por isso não me adianta nada procurar resposta ao Porquê na história a que chamam verdadeira, tenho de inventá-la eu próprio» (José Saramago, História do Cerco de Lisboa)
Disponha sempre!
1. cf. Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2280-2283.
2. Embora exista uma tradição gramatical que considera a forma «ter de» como a correta, os dicionários apresentam as expressões «ter de» e «ter que» como variantes: cfr., por exemplo, Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea.