O que é mais correcto: «Estou grata por este dia de sol», ou «Estou grata a este dia de sol»?
A questão é se o objecto da gratidão (este dia de sol) deve ser precedido de por ou de a. No mesmo sentido, quando se deve usar «grata por...» e «grata a...»?
Obrigada.
Poderiam confirmar-me a evolução fonética de dous>dois? Houve alguma epêntese do i? É apenas um processo de regularização da escrita? É esta a minha dúvida.
Obrigado pelo vosso trabalho.
O é da palavra xibolete pronuncia-se aberto ou fechado?
Sempre considerei que a grafia (e a pronúncia) da palavra nogado deveria ser assim mesmo, ou seja, sem acento e tendo como sílaba tónica a sílaba ga.
Hoje tive ocasião de ver uma reportagem da RTP [1] onde não só se escrevia como se pronunciava "nógado". Em todos os dicionários onde procurei só mencionam nogado, com exceção da Infopedia, que admite as duas formas.
A minha dúvida é se "nógado" é simplesmente uma versão corrompida da palavra original, que ganhou força por via da repetição, ou se existe algo mais que justifique a adoção dessa forma, que me parece estranha e afastada tanto do latim nucatus quanto do francês nougat (havendo até a versão nugá na língua portuguesa).
Muito obrigado pela atenção.
[1 O consulente refere-se a um apontamento da RTP sobre um nógado de mais de 60 m, confecionado para assinalar os festejos do Carnaval de 2019 na localidade de Vimieiro, no concelho de Arraiolos (Évora).]
Como pronunciar a palavra gaivotinha: com o aberto ou fechado? Porquê?
Obrigada.
O “caso” em questão data do ano passado, mas parece-me ter grande importância no actual contexto de perversão da língua portuguesa: a escrita com o Acordo Ortográfico de 1990 e a ortoépia com o “lisboetismo” (permitam-me o barbarismo).
Um consultante solicitou ao Ciberdúvidas qual a leitura correcta do ditongo /ei/. A resposta de um tal Carlos Rocha (a 14/12/18) é de antologia! Diz o senhor Rocha :
“ … feira, maneira e deixei, soam () como "fâirâ", "mânâirâ" e "dâixâi"… !
O senhor Rocha deve considerar que Portugal é o Terreiro do Paço… A pronúncia a que se refere não corresponde à realidade da maior parte das regiões do país. É, sem dúvida, a mais propagada pelos principais meios de comunicação nacionais – rádios e televisões – cujas sedes se situam invariavelmente em Lisboa. O ditongo /ei/, em galaico-português, pronuncia-se como /ei/ : Oliveira (não Olivâirâ"), peixeira (não pâixâirâ")… Talvez o senhor Rocha considere que deve pronunciar-se frio como “friu” e rio como “riu”.
A ortoépia das diversas regiões do país merecem respeito, mas a origem da língua portuguesa é nortenha, e por mais capital que seja Lisboa, o sotaque que tanto divulgam não é uma regra para todos. Recorde o senhor Rocha (e também a Ciberdúvidas que o publica), que Portugal não se limita – por enquanto – à área da Grande Lisboa.
Cito abaixo os nomes latinos e seu respectivo nome nórdico, colocando em seguida o nome aportuguesado que sugiro [exemplo: Adelus (Adils/Eadgils) – Adelo]. Como são nomes não atestados fora da Wikipédia, preciso do crivo de um linguista para usá-los.
* Adelus (Adils/Eadgils) – sugerido Adelo.
* Agnus/Agnius (Agne) – sugerido Agno ou Ágnio.
* Alaricus e Ericus (Alrekr e Eiríkr) – sugerido Alarico e Érico.
* Amundus (Amund) – sugerido Amundo.
* Anundus (Anund) – sugerido Anundo.
* Aunus (Aun) – sugerido Auno.
* Biornus (Bjørn/Bjǫrn/Björn) – sugerido Biorno. Há uso no espanhol e no italiano e há residual uso em português.
* Dagerus/Dagus Sapiens (Dagr Spaka) – sugerido Dagero/Dago, o Sábio.
* Dagnerus (Dyggve) – sugerido Dignero.
* Domalder (Domalde/Dómalda/Domalde/Dómaldi) – sugerido Domaldro.
* Elfus e Inguinus (Alf e Yngve/Alfr e Yngva) – sugerido Elfo e Inguíno.
* Fliolmus/Fiolni (Fiǫlnir/Fjǫlnir/Fjölner) – sugerido Fliolmo.
* Gudrodus (Guðrøðr/Gudrød) – sugerido Gudrodo.
* Hacus (Hake) – sugerido Haco.
* Haldanus (Halfdan) – sugerido Haldano.
* Hugleicus (Hugleik) – sugerido Hugleico.
* Iaroslaus (Jaroslav) – Jaroslau.
* Inglingus (Yngling) – sugerido Inglingo(s) (outro nome familiar), presente em ao menos um dicionário lusófono e obras hispânicas.
* Ingoldus (Ingjald) – sugerido Ingoldo.
* Inguar (Ingvar) – sugerido Inguar, com a possibilidade de também citar Igor, forma como esse nome nórdico antigo foi traduzido para o russo e como chegou ao português depois.
* Iorundus (Jörund/Jørund/Jorund/Eorund/Jörundr) – sugerido Jorundo.
* Iziaslaus (Iziaslav) – sugerido Iziaslau
* Mistislaus (Mistislav) – sugerido Mistislau
* Niordus (Njord) – sugerido Niordo.
* Olegus (Oleg) - Olego ou Olegue, forma que usei por aparecer residualmente em algumas obras lusófonas
* Ostenus/Augustinus (Östen/Eysteinn) – sugerido Osteno/Agostinho; o primeiro é uma latinização das fontes nórdicas, enquanto o segundo foi dado pelas fontes latinas mediterrânicas ao rei sueco que participou nas cruzadas.
* Ottarus (Ottar) – sugerido Otaro.
* Ragualdus (Ragnvald) – sugerido Ragualdo.
* Randverus (Randver) – sugerido Randúero ou Randuero.
* Rostislaus (Rostislav) – Rostislau
* Saxo Grammaticus – sugerido Saxão Gramático.É referido em latim em todas as fontes nórdicas e na literatura moderna. Há algumas fontes em português para Saxão Gramático.
* Scyldingus (Scylding/Skjöldung) – sugerido Escildingo(s) (é um nome familiar, não necessariamente um sobrenome).
* Scyldus/Scildus/Schioldus/Scioldus (Scyld/Skjöld) – sugerido Escildo, Esquioldo e Escildo.
* Sigurdus (Sigurd) – sugerido Sigurdo.
* Solvus/Salvus (Sölve/Salve/Sølve) – sugerido Solvo/Salvo.
* Stenchillus (Stenkil) – sugerido Estenquilo.
* Suercherus/Sverchervs/Swegthir (Sveigðir/Sveigder/Svegder/Swegde/Swerker) – sugerido Suérquero.
* Svetopolcus/Suetopolcus (Svyatopolk) – sugerido Esvetopolco ou Suetopolco
* Svetoslaus/Suetoslaus (Sviatoslav) – sugerido Esvetoslau ou Suetoslau
* Valander (Vanlanda/Vanlande/Vanlandi) – sugerido Valandro.
* Vsevolodus (Vsevolod) – Usevolodo
A lista é muito mais extensa, mas acho que com esses vários exemplos é possível ter um panorama daquilo com que estamos lidando. [...] Os que defendem os nomes nórdicos consideram o uso do latim equivocado por não ser uma língua de uso corrente – e por quererem ser puristas em relação ao nomes. Nós, latinistas, visamos o uso do latim, não só por também ter uso nas poucas fontes existentes (algumas das obras nórdicas só sobreviveram na sua versão latina), mas por ser a forma mais eficaz de chegarmos a nomes seguros no português e por melhor atender às demandas dos leitores de nossa enciclopédia, em sua maioria leigos e alunos pré-universitários.
Agradeço imensamente a atenção.
Queria saber qual é a razão por que subir é com b se tem a sua origem em latim subire e, pelo tanto, deveria ser com v, já que o b do latim é intervocálico.
Obrigada!
Numa série, para indicar a posição imediatamente a seguir à sexagésima nona, tenho escrito septuagésima. Porém, gostaria de saber se (à luz do acordo ortográfico) deverei escrever "setuagésima"?
Não poucas vezes, ouvi dizer, de brasileiros, “abissurdo” ou inguinorante”, mas sempre levei estes casos de anaptixe[1] à conta de agramaticalidades tipicamente brasileiras (tanto quanto sei, de origem africana ou mesmo angolana).
Quando, porém, ouvi senadores a pronunciarem o impeachment como “impichiment”, na sessão do Senado em que foi votada a exoneração da Presidente Dilma Roussef, perguntei-me se se tratava duma agramaticalidade ou, antes, de um brasileirismo, já enraizado na variedade brasileira do português. Agora, no discurso de tomada de posse de Jair Bolsonaro, ouvi-o dizer “corrupição” em vez de corrupção.
Gostava de saber, do Ciberdúvidas, se esta anaptixe é uma agramaticalidade fonética ou é um brasileirismo, já registado como aceite na variedade brasileira do português.
[1 N. E. – O termo anaptixe denomina «[a] epêntese de vogal no interior de um grupo consonantal (p.ex.: latim febrariu > português fevreiro > fevereiro; tramela > taramela; no português informal do Brasil, diz-se peneumonia por pneumonia, adevogado por advogado); suarabácti» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001). Por epêntese, entende-se a inserção de qualquer som no meio de palavra (português antigo cheo > português contemporâneo cheio; latim stella > português estrela) ou entre palavras (a água > português regional a i água) – Cf. Dicionário Terminológico. Segue- se a resposta da professora brasileira Eliene Zlatkin, a quem agradecemos o contributo.]
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