Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Área linguística: Fonética
Fátima Osório Administrativa Carcavelos, Portugal 33K

O que é mais correcto: «Estou grata por este dia de sol», ou «Estou grata a este dia de sol»?

A questão é se o objecto da gratidão (este dia de sol) deve ser precedido de por ou de a. No mesmo sentido, quando se deve usar «grata por...» e «grata a...»?

Obrigada.

Luís Pereira Professor Coimbra, Portugal 3K

Poderiam confirmar-me a evolução fonética de dous>dois? Houve alguma epêntese do i? É apenas um processo de regularização da escrita? É esta a minha dúvida.

Obrigado pelo vosso trabalho.

Lucas Moori estudante Porto Alegre, Brasil 18K

O é da palavra xibolete pronuncia-se aberto ou fechado?

Alexandre Festas Informático Povoa de Varzim, Portugal 2K

Sempre considerei que a grafia (e a pronúncia) da palavra nogado deveria ser assim mesmo, ou seja, sem acento e tendo como sílaba tónica a sílaba ga.

Hoje tive ocasião de ver uma reportagem da RTP [1] onde não só se escrevia como se pronunciava "nógado". Em todos os dicionários onde procurei só mencionam nogado, com exceção da Infopedia, que admite as duas formas.

A minha dúvida é se "nógado" é simplesmente uma versão corrompida da palavra original, que ganhou força por via da repetição, ou se existe algo mais que justifique a adoção dessa forma, que me parece estranha e afastada tanto do latim nucatus quanto do francês nougat (havendo até a versão nugá na língua portuguesa).

Muito obrigado pela atenção.

 

[1 O consulente refere-se a um apontamento da RTP sobre um nógado de mais de 60 m, confecionado para assinalar os festejos do Carnaval de 2019 na localidade de Vimieiro, no concelho de Arraiolos (Évora).]

Filomena Sousa Professora Coimbra, Portugal 3K

Como pronunciar a palavra gaivotinha: com o aberto ou fechado? Porquê?

Obrigada.

Antonio Serdoura Reformado Porto, Portugal 3K

O “caso” em questão data do ano passado, mas parece-me ter grande importância no actual contexto de perversão da língua portuguesa: a escrita com o Acordo Ortográfico de 1990 e a ortoépia com o “lisboetismo” (permitam-me o barbarismo).

Um consultante solicitou ao Ciberdúvidas qual a leitura correcta do ditongo /ei/. A resposta de um tal Carlos Rocha (a 14/12/18) é de antologia! Diz o senhor Rocha :

“ … feira, maneira e deixei, soam () como "fâirâ", "mânâirâ" e "dâixâi"… !

O senhor Rocha deve considerar que Portugal é o Terreiro do Paço… A pronúncia a que se refere não corresponde à realidade da maior parte das regiões do país. É, sem dúvida, a mais propagada pelos principais meios de comunicação nacionais – rádios e televisões – cujas sedes se situam invariavelmente em Lisboa. O ditongo /ei/, em galaico-português, pronuncia-se como /ei/ : Oliveira (não Olivâirâ"), peixeira (não pâixâirâ")… Talvez o senhor Rocha considere que deve pronunciar-se frio como “friu” e rio como “riu”.

A ortoépia das diversas regiões do país merecem respeito, mas a origem da língua portuguesa é nortenha, e por mais capital que seja Lisboa, o sotaque que tanto divulgam não é uma regra para todos. Recorde o senhor Rocha (e também a Ciberdúvidas que o publica), que Portugal não se limita – por enquanto – à área da Grande Lisboa.

Renato de Carvalho Ferreira Estudante de História São Paulo, Brasil 4K

Cito abaixo os nomes latinos e seu respectivo nome nórdico, colocando em seguida o nome aportuguesado que sugiro [exemplo: Adelus (Adils/Eadgils) –  Adelo]. Como são nomes não atestados fora da Wikipédia,  preciso do crivo de um linguista para usá-los.

 

* Adelus (Adils/Eadgils) – sugerido Adelo.

* Agnus/Agnius (Agne) – sugerido Agno ou Ágnio.

* Alaricus e Ericus (Alrekr e Eiríkr) – sugerido Alarico e Érico.

* Amundus (Amund) – sugerido Amundo.

* Anundus (Anund) – sugerido Anundo.

* Aunus (Aun) – sugerido Auno.

* Biornus (Bjørn/Bjǫrn/Björn) – sugerido Biorno. Há uso no espanhol e no italiano e há residual uso em português.

* Dagerus/Dagus Sapiens (Dagr Spaka) – sugerido Dagero/Dago, o Sábio.

* Dagnerus (Dyggve) – sugerido Dignero.

* Domalder (Domalde/Dómalda/Domalde/Dómaldi) – sugerido Domaldro.

* Elfus e Inguinus (Alf e Yngve/Alfr e Yngva) – sugerido Elfo e Inguíno.

* Fliolmus/Fiolni (Fiǫlnir/Fjǫlnir/Fjölner) – sugerido Fliolmo.

* Gudrodus (Guðrøðr/Gudrød) – sugerido Gudrodo.

* Hacus (Hake) – sugerido Haco.

* Haldanus (Halfdan) – sugerido Haldano.

* Hugleicus (Hugleik) – sugerido Hugleico.

* Iaroslaus (Jaroslav) – Jaroslau.

* Inglingus (Yngling) – sugerido Inglingo(s) (outro nome familiar), presente em ao menos um dicionário lusófono e obras hispânicas.

* Ingoldus (Ingjald) – sugerido Ingoldo.

* Inguar (Ingvar) – sugerido Inguar, com a possibilidade de também citar Igor, forma como esse nome nórdico antigo foi traduzido para o russo e como chegou ao português depois.

* Iorundus (Jörund/Jørund/Jorund/Eorund/Jörundr) – sugerido Jorundo.

* Iziaslaus (Iziaslav) – sugerido Iziaslau

* Mistislaus (Mistislav) – sugerido Mistislau

* Niordus (Njord) – sugerido Niordo.

* Olegus (Oleg) - Olego ou Olegue, forma que usei por aparecer residualmente em algumas obras lusófonas

* Ostenus/Augustinus (Östen/Eysteinn) – sugerido Osteno/Agostinho; o primeiro é uma latinização das fontes nórdicas, enquanto o segundo foi dado pelas fontes latinas mediterrânicas ao rei sueco que participou nas cruzadas.

* Ottarus (Ottar) – sugerido Otaro.

* Ragualdus (Ragnvald) – sugerido Ragualdo.

* Randverus (Randver) – sugerido Randúero ou Randuero.

* Rostislaus (Rostislav) – Rostislau

* Saxo Grammaticus – sugerido Saxão Gramático.É referido em latim em todas as fontes nórdicas e na literatura moderna. Há algumas fontes em português para Saxão Gramático.

* Scyldingus (Scylding/Skjöldung) – sugerido Escildingo(s) (é um nome familiar, não necessariamente um sobrenome).

* Scyldus/Scildus/Schioldus/Scioldus (Scyld/Skjöld) – sugerido Escildo, Esquioldo e Escildo.

* Sigurdus (Sigurd) – sugerido Sigurdo.

* Solvus/Salvus (Sölve/Salve/Sølve) – sugerido Solvo/Salvo.

* Stenchillus (Stenkil) – sugerido Estenquilo.

* Suercherus/Sverchervs/Swegthir (Sveigðir/Sveigder/Svegder/Swegde/Swerker) – sugerido Suérquero.

* Svetopolcus/Suetopolcus (Svyatopolk) – sugerido Esvetopolco ou Suetopolco

* Svetoslaus/Suetoslaus (Sviatoslav) – sugerido Esvetoslau ou Suetoslau

* Valander (Vanlanda/Vanlande/Vanlandi) – sugerido Valandro.

* Vsevolodus (Vsevolod) – Usevolodo

 

A lista é muito mais extensa, mas acho que com esses vários exemplos é possível ter um panorama daquilo com que estamos lidando. [...] Os que defendem os nomes nórdicos consideram o uso do latim equivocado por não ser uma língua de uso corrente – e por quererem ser puristas em relação ao nomes. Nós, latinistas, visamos o uso do latim, não só por também ter uso nas poucas fontes existentes (algumas das obras nórdicas só sobreviveram na sua versão latina), mas por ser a forma mais eficaz de chegarmos a nomes seguros no português e por melhor atender às demandas dos leitores de nossa enciclopédia, em sua maioria leigos e alunos pré-universitários.

Agradeço imensamente a atenção.

Natividad Diéguez Pardo Professora Silleda, Espanha 3K

Queria saber qual é a razão por que subir é com b se tem a sua origem em latim subire e, pelo tanto, deveria ser com v, já que o b do latim é intervocálico.

Obrigada!

António Rodrigues Motorista Viseu, Portugal 5K

Numa série, para indicar a posição imediatamente a seguir à sexagésima nona, tenho escrito septuagésima. Porém, gostaria de saber se (à luz do acordo ortográfico) deverei escrever "setuagésima"?

Miguel Faria de Bastos Advogado Luanda/LIsboa, Angola/Portugal 3K

Não poucas vezes,  ouvi dizer, de brasileiros, “abissurdo” ou inguinorante”, mas  sempre levei estes casos de anaptixe[1] à conta de agramaticalidades  tipicamente brasileiras (tanto quanto  sei, de origem africana ou mesmo angolana).

Quando, porém, ouvi senadores a pronunciarem o impeachment como  “impichiment”, na sessão  do Senado em que foi votada a exoneração da Presidente Dilma Roussef,  perguntei-me se se tratava duma agramaticalidade ou, antes, de um brasileirismo, já enraizado na variedade brasileira do português. Agora, no discurso de tomada de posse de Jair Bolsonaro, ouvi-o dizer “corrupição” em vez de corrupção

Gostava de saber, do Ciberdúvidas, se esta anaptixe é uma agramaticalidade fonética ou é um brasileirismo, já registado como aceite na variedade brasileira do português.

[1 N. E. – O termo anaptixe denomina «[a] epêntese de vogal no interior de um grupo consonantal (p.ex.: latim febrariu > português fevreiro > fevereiro; tramela > taramela; no português informal do Brasil, diz-se peneumonia por pneumonia, adevogado por advogado); suarabácti» (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001). Por epêntese, entende-se a inserção de qualquer som no meio de palavra (português antigo cheo > português contemporâneo cheio; latim stella > português estrela) ou entre palavras (a água > português regional a i água) – Cf. Dicionário Terminológico. Segue- se a resposta da professora brasileira Eliene Zlatkin, a quem agradecemos o contributo.]