DÚVIDAS

Não + pronome o: «Não no pode estorvar» (Camões)
Algumas ocorrências que encontrei de pronomes oblíquos átonos arcaicos: «Que estais no céu, santificado... Não no disse eu, menina? Seja o vosso nome…» (Almeida Garrett) «Ele ou é trova, ou latim muito enrevezado, que eu não no entendo.» (Almeida Garrett) «Via estar todo o Céu determinado / De fazer de Lisboa nova Roma; / Não no pode estorvar, que destinado / Está doutro Poder que tudo doma.» (Camões) «O favor com que mais se acende o engenho / Não no dá a pátria, não, que está metida…» (Camões) «Ora sabei, padre Fr. João, que eu bem no supunha, bem no esperava; mas parecia-me impossível, sempre me parecia impossível que viesse a acontecer.» (Eça de Queirós) «A culpa de se malograrem estes sublimes intentos quem na tem é a sociedade…» (Camilo Castelo Branco) «Parentes, amigos, nem visitas nenhumas parecia não nas ter.» (Almeida Garrett) Há alguma explicação para o uso da consoante n antes dos oblíquos átonos? Muito obrigado!
A pronúncia de racismo
Compreendo a forma de pronunciar certas palavras, quando as mesmas assumem uma forma com silabas adicionais. Como exemplo refiro: carro e carroça" (lendo-se cárro e cârroça), ou faca e faqueiro (lendo-se fáca e fâqueiro). Assim sendo, como explicar o caso de raça e racismo, onde as duas palavras são ditas como "ráça" e "rácismo"? Há alguma regra que possamos considerar para saber quando se abre ou fecha a vogal? Obrigado.
A nasalidade de mui e muito
A respeito da origem da nasalidade em mui/muito, José Joaquim Nunes, no seu Compêndio de Gramática Histórica (1975[1911]), afirma o seguinte: «embora MUI e MUITO sejam formas clássicas, nas cantigas 38 e 453 do Cancioneiro da Ajuda [séc.XIII], aparecem já nasaladas, como mostram as grafias MUYN e MUINTO donde se conclui não se moderna na língua a nasalização(...).» Já o gramático Said Ali, na sua Gramática Histórica da Língua Portuguesa (1964[1931]), pensa diferente: «No extraordinariamente usado MUITO , foi tão tardia a mudança, que o cantor d'Os Lusíadas [séc. XVI] ainda podia dar-lhe para rima FRUITO e ENXUITO. Não se sabe a data da alteração definitiva, porque em MUITO e MUI nunca se assinalou – caso único – a vogal nasal pela escrita. Que em português antigo se pronunciava a tônica como U puro e fora de dúvida, porque, em caso contrário, não lhe faltaria o til, sinal tão profusamente usado naquela época.» 1) O Cancioneiro da Ajuda é do séc.XIII, e Os Lusíadas do séc. XVI, qual dos estudiosos está certo ? 2) Há atualmente consenso entre os estudiosos a respeito de um período específico sobre o começo da nasalidade em mui e muito? Grato pela resposta.
A grafia de torriense
Em 1945 o gentílico «torreense» desapareceu. Uma palavra que está registada na história de Torres Vedras. Mas nos escritos nacionais atuais não existe e é considerado um erro. Porquê não voltar a colocá-la no dicionário? Este “erro” nos dias de hoje ainda existe. Dá nome ao clube de futebol da cidade, dá nome a várias empresas desta terra e relembra as bandas, a filarmónica, os refrigerantes e tantas outras empresas que atualmente já não existem. Reforço, porquê não voltar a colocar esta palavra com história no dicionário? De acordo com o ponto C da alínea 2 da base V do Acordo Ortográfico de 1990, estabelecia desta forma as grafias: “goisiano (relativo a Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano, torriano, torriense [de Torre(s)]”. É curioso que sineense, (também uma palavra com história local), atualmente existe no dicionário e também é considerada nos escritos nacionais atuais um dos gentílicos de Sines. Torreense, uma palavra com história e memória local, é atualmente uma palavra sem significado e inexistente nos escritos nacionais atuais. Aguardo uma resposta. Obrigado.
O regionalismo ressolho/rossolho (Aveiro)
Uma amiga minha da zona de Aveiro falou-me da existência do termo "ressolho" ou "rossolho" aplicado no sentido de «estar-se mal vestido, mal arranjado». Contudo, apenas conheço os vocábulos ressolho, com sentido de «redemoinho produzido nos pegos dos rios, quando há cheia», e de ressolhar, no sentido de «sentir-se (o cavalo) incomodado com os efeitos do sol forte». Como se explica, então, o uso oral do termo que apresentei no início? Muito obrigada!
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