Trata-se da classificação das consoantes no âmbito do estudo da fonética e da fonologia.
É matéria abordada sem grande aprofundamento no ensino não universitário, apesar de muito interessante e útil. Mesmo assim, não constitui grande novidade no currículo básico e secundário, visto que na década de 70 do século passado já fazia parte da descrição dos sons do português (cf. por exemplo, Compêndio de Gramática Portuguesa de Nunes de Figueiredo e Gomes Ferreira,1976).
Quem pretenda atualizar-se nesta área, pode consultar as páginas de A pronúncia do português europeu, um guia em linha, alojado no sítio eletrónico do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua. Também pode ajudar a consulta da secção de fonética e fonologia do Dicionário Terminológico (DT).
Segue-se o registo dos termos em questão acompanhados de definições e exemplos (entre barras ou colchetes1, usam-se os símbolos do Alfabeto Fonético Internacional):
– Fricativa: é um termo que define o modo de articulação de uma consoante2; este modo de articulação combina-se com diferentes pontos de articulação para produzir as consoantes de uma língua; em português, há uma série de fricativas surdas – os segmentos /f/, /s/ e /ʃ/, grafados, f, ç e ch respetivamente, como na mnemónica «faça chá» – e uma série de fricativas sonoras (o mesmo que vozeadas) – os segmentos /v/, /z/ e /Ʒ/, grafados v, z e j, que por exemplo, noutra menmónica, «vaza já».
– Uvular: termo que se aplica a um ponto de articulação, a úvula palatina (popularmente, conhecida por campainha); uma fricativa uvular é articulada na úvula ou por vibração desta e corresponde, em português, ao r- inicial de rato e ao rr duplo de carro, no meio de palavra (símbolo fonético [ʁ]; ouvir aqui), tal como se pronuncia em muitos países de língua portuguesa; em Portugal, este segmento e uma variante vibrante (ouvir aqui), ambos vozeados, estão a substituir a vibrante alveolar múltipla [r], produzida com o ápice da língua (ouvir aqui).
– Velar: termo aplicado a outro ponto de articulação, o véu palatino (ou mole), onde se produzem a consoante surda c (antes de a, o e u; símbolo fonético [k]), como em capa, copo e curso) e a sonora g (antes de a, o e u, como e gato, gota e gula; símbolo fonético [g]).
– Lateral: denomina um modo de articulação distinto do fricativo (ver acima) e do oclusivo (ver nota 1); trata-se de «consoante produzida por uma oclusão num ponto da região central do trato vocal, escapando-se o ar pelos lados da língua»2, como acontece com o l de lado, mala ou animal, e o lh de malha.
– Dental: termo relativo a mais um ponto de articulação, neste caso, os dentes; em português há oclusivas dentais – o t de mata e o d de dama – e fricativas dentais – o s de savana (ou os ss de passo, o c de cedo e o ç de caça) e o z de zumbido (ou o s de coser ou, ainda, o x de exemplo).
– Palatal: igualmente um termo designativo de um ponto de articulação, o palato; em português, regista-se uma oclusiva nasal palatal, o nh de Minho, e uma lateral palatal, o lh de palha; há descrições que classificam como palatais as consoantes fricativas representadas por x ou ch (baixo, chave) e j (janela) ou g antes de e e i (geral, girafa).
1 Usam-se as barras para a representação fonológica e os parênteses retos para a representação fonética. Sobre a diferença entre fonologia e fonética, ler aqui.
2 Por modo de articulação entende-se a «[...] forma como o ar atravessa as cavidades supraglotais, na produção dos sons, nomeadamente à presença ou ausência de constrição no tracto vocal e ao grau de constrição», conforme se assinala no DT, onde se acrescenta que «o modo de articulação permite distinguir, por exemplo, consoantes oclusivas, fricativas, laterais ou vibrantes»
3 Definição extraída da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (versão 1.0, Ministério da Educação/Departamento do Ensino Secundário, 2004).