Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Classe de palavras: advérbio
Artur Gabriel Gomes Estudante Curitiba, Brasil 738

Não foram poucas as vezes em que tive de pesquisar quais as situações nas quais se usa a palavra onde, após me deparar inúmeras vezes com ela sendo usada, muitas vezes de forma claramente incorreta, como referência às mais diversas coisas, desde períodos de tempo a textos e equações, em contextos que exigem linguagem formal, como notícias, artigos e livros texto.

Sempre cheguei à mesma resposta: a palavra onde deve ser usada unicamente como referência a lugares físicos.

Minha pergunta é: existe algum contexto dentro da linguagem formal em que seja permitido o uso da palavra como referência a algo que não seja um lugar, alguma nuance que o permita ou algum erro na resposta que encontrei inúmeras vezes?

Acho difícil acreditar que a palavra seja tão amplamente utilizada de forma incorreta em contextos formais, e é mais provável que seja eu quem está errado, mas não encontro nenhum material que indique isso.

Obrigado.

Xing yao Estudante Harbin , China 686

«Hoje estamos aqui para falar da origem do azulejo uma das artes da qual tanto nos orgulhamos.»

Nesta frase, existe uma palavra tanto, o que significa?

Maria Conceição Luís Professora Lisboa, Portugal 697

Aqui vão duas questões:

1) Na frase «São momentos visualmente curiosos, em particular pelo modo como conciliam as paisagens naturais com os efeitos digitais», como se classifica a oração subordinada e que função sintática desempenha?

2) Na frase «A amada do poeta é elogiada de um modo admirável», que função sintática desempenha o constituinte «admirável»?

Desde já agradecida, Maria Conceição

Marcelo Barros Militar da reserva brasileira Burlington, Estados Unidos 803

Na oração «Ele comia privativamente em seu chalé e fazia caminhadas longas e rápidas a cada manhã», deve-se usar ou não a preposição a antes de cada?

A frase foi traduzida do inglês: «He ate privately in his cottage and took long, fast walks each morning» (do Livro Talking Peace, p.14, Puffin Books, segunda edição, 1995, de Jimmy Carter, falando de Anwar Sadat nas reuniões de Camp David).

Seria aquela a melhor tradução para «each morning»?

Marcília Manjate Mendes Estudante Xai-xai, Moçambique 658

Gostaria de saber se há algum problema gramatical com a seguinte frase:

«Ela corre veloz.»

Porque normalmente falamos: «Ela corre rápido.»

Ou o ideal devia ser «Ela corre velozmente»?

Eliseu Ernesto Professor Luanda, Angola 1K

Preciso de ajuda com a construção «muito pouco».

É anómala a estrutura adverbial «muito pouco» para marcar o superlativo absoluto analítico de pouco, ou este apenas possuí a forma sintética pouquíssimo?

Exemplos:

1. Ele tinha muito pouco tempo.

2. Ele tinha pouquíssimo tempo.

Obrigado!

Paulo Manuel Sendim Aires Pereira Engenheiro Costa Rica, Brasil 1K

Numa das respostas excelentes do Ciberdúvidas afirma-se que «salvo é um conector que pode introduzir sintagmas nominais (1), orações infinitivas (2) e sintagmas preposicionais (3)».

Embora em espanhol exista a conjunção salvo que, parece-me que esta não existe no português. No entanto, tenho visto (raramente), nos ambientes jurídicos, salvo usado num sentido análogo ao das conjunções.

Fiquei com a dúvida se esse uso é gramatical. Se o é, como classificaríamos salvo neste caso?

«Esta legitimidade é determinada em função dos termos em que a relação material controvertida é configurada na petição inicial, salvo a lei indique em contrário.»

Obrigado.

José Luiz Ferreira Reformado Lisboa, Portugal 971

Bem haja o Ciberdúvidas, e bem hajam os seus colaboradores pelo importante veículo que são em prol do correto uso da nossa língua.

Muito agradeço o vosso esclarecimento sobre o seguinte:

Atentas as expressões, frequentes:

A. «Se não queres que ninguém saiba, não o faças nem o digas.»

B. «Se queres que ninguém saiba, não o faças nem o digas.»

Que as duas expressões são convergentes, acho que sim, que são. Mas serão ambas corretas ou só uma em prejuízo da outra? E no último caso, qual delas?

A resposta poderá ser a sacramental (que penso ser a A.), mas a dúvida subsiste.

Agradeço o vosso douto comentário.

Pedro Machado Desempregado Braga, Portugal 927

Sou minhoto. Acontece que, normalmente, no registo oral, pronuncio não como "num".

Por vezes, dou comigo a dizer: "Num sei", "Num vi", "Num me disseram nada", entre outros casos.

Gostaria de saber mais sobre esta diferença entre as duas maneiras de dizer. No entanto, não encontrei "num" no dicionário nem nenhum artigo na Internet que tocasse, precisamente, o que vos descrevo.

Está registada? É aceitável ou "mau português"? Foi já abordada por algum entendido na matéria? Há outras variações noutras zonas do país?

Aguardo, se possível, uma resposta complexa e pormenorizada que satisfaça esta curiosidade.

Obrigado.

Laércio Becker Funcionário público Curitiba, Brasil 863

A ambiguidade da palavra também pode ser explicada sintaticamente?

Partamos da frase: «João foi ao jogo.»

Nela, podemos incluir a palavra “também” com dois sentidos distintos:

1) Também João foi ao jogo = [além de José,] também João foi ao jogo

2) João foi ao jogo, também = João foi [à festa e] ao jogo, também

Sem contar opções mais ambíguas (quanto mais próximo ao verbo, maior a ambiguidade):

3) João também foi ao jogo – mais próxima ao exemplo 1, mas pode gerar ambiguidade

4) João foi também ao jogo – mais próxima ao exemplo 2, mas pode gerar ambiguidade

Todas as gramáticas e dicionários classificam o também como advérbio e adjunto adverbial «de adição» ou «de inclusão». Contudo, é interessante notar que:

a) no exemplo 1, o também adiciona uma informação ao sujeito;

b) no exemplo 2, o também adiciona uma informação ao objeto indireto.

Fenômeno análogo ocorre com o advérbio , embora com diferenças, p.ex.:

1) Só João vai ao jogo = e ninguém mais vai com ele = referente ao sujeito => inequívoco;

2) João só vai ao jogo = (não faz mais nada = referente ao verbo) OU (não vai a mais nenhum lugar = referente ao objeto);

3) João vai só ao jogo = (não vai a mais nenhum lugar = referente ao objeto) OU (vai sozinho = adjetivo);

4) João vai ao jogo, só = (só isso acontece) OU (foi sozinho = adjetivo).

No entanto, no exemplo citado, o fenômeno não acontece com outros advérbios, como sempre e nunca:

– Sempre/nunca João vai ao jogo = João sempre/nunca vai ao jogo = João vai ao jogo, sempre/nunca = é o que ele sempre/nunca faz.

A variedade de sentidos aumenta em frase que usa verbo bitransitivo. P.ex., com também:

1) Também João deu um presente a Maria = outra pessoa também deu = referente ao sujeito;

2) João também deu um presente a Maria = João também fez outras coisas, além de dar um presente = referente ao verbo;

3) João deu também um presente a Maria = João também deu outras coisas, como um abraço = referente ao objeto direto;

4) João deu um presente também a Maria = João deu também a outra pessoa = referente ao objeto indireto;

5) João deu um presente a Maria, também = ambiguidade.

Com :

1) Só João deu um presente a Maria = ninguém mais deu = referente ao sujeito;

2) João só deu um presente a Maria = João só fez isso = referente ao verbo;

3) João deu só um presente a Maria = João deu só um, não dois presentes = referente ao objeto direto;

4) João deu um presente só a Maria = João deu só a Maria, a ninguém mais = referente ao objeto indireto;

5) João deu um presente a Maria, só = forma incomum, truncada

Já com sempre e nunca, o significado antes invariável apresenta agora sutis variações.

Comecemos com o sempre:

1) Sempre João dá um presente a Maria = ambiguidade (sempre ele ou segue o sentido 2);

2) João sempre dá um presente a Maria = sempre faz a mesma coisa = referente ao verbo;

3) João dá sempre um presente a Maria = nunca dá outra coisa = referente ao objeto direto;

4) João dá um presente sempre a Maria = nunca a outra pessoa = referente ao objeto indireto;

5) João dá um presente a Maria, sempre = ambiguidade (segue 2 ou 4).

Agora com nunca:

1) Nunca João dá um presente a Maria = ambiguidade (segue 2 ou, incomum, nunca ele);

2) João nunca dá um presente a Maria = nunca faz isso = referente ao verbo;

3) João [não] dá nunca um presente a Maria = sem o acréscimo do “não” é incomum, com o “não” segue 2;

4) João [não] dá um presente nunca a Maria = incomum, segue 3;

5) João [não] dá um presente a Maria, nunca = segue 3

Apesar disso tudo, continuam todos sendo adjuntos adverbiais (exceto o , que numa das frases acima é adjetivo, como indiquei).

Há alguma explicação sintática para a mudança de sentido conforme sua colocação na frase?

Muito obrigado pela atenção.