No caso em apreço, o advérbio sempre funciona como um marcador discursivo com um valor de explicação/justificação.
O advérbio sempre pode ser usado com um valor temporal, como se observa em (1):
(1) «Ele telefona sempre à noite.»
Pode também ser usado com um marcador discursivo em diferentes situações de uso1. Entre elas, encontra-se a situação assinalada pelo consulente, que parece ter vitalidade sobretudo no português do Brasil:
(2) «Não adianta teimar com ela, sempre vai dizer que é mentira mesmo.»
Neste caso, sempre é comutável com pois ou porque. Note-se, todavia, que estas últimas conjunções não são totalmente equivalentes a sempre. Tal fica a dever-se ao facto de sempre parecer conjugar, em construções deste género, dois valores:
(i) por um lado, tem um funcionamento argumentativo pois introduz um argumento («vai dizer que é mentira mesmo») que sustenta uma conclusão («Não adianta teimar com ela»);
(ii) por outro lado, associa ao enunciado um valor de duração temporal, o que reforça o papel da segunda oração como argumento, pois veicula a ideia de que este argumento é válido em qualquer situação.
Disponha sempre!
1. Para mais informações sobre esta questão, cf. Lopes, A.C.M., “Contribuição para o estudo dos valores discursivos de sempre”. In Actas do XIII Encontro Nacional da APL, vol. II, 1998.