Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Miguel Cabelo Engenheiro/tradutor Barcelona, Espanha 32K

Num dos testes da edição de 2008 do Campeonato da Língua Portuguesa surgiram algumas dúvidas sobre a regência do verbo assegurar. A Comissão Técnico-Científica do CLP enviou nessa altura a todos os participantes um detalhado esclarecimento sobre a regência desse verbo que, em resumo, concluía o seguinte:

1) O verbo assegurar não pede preposição quando não se encontra conjugado como reflexo. Exemplo: «Asseguro que eles estiveram presentes.»

2) Quando verbo pronominal reflexo exigirá o regime de. Como exemplo, temos a frase: «Assegurei-me de que a porta não estava aberta.»

A frase que deu origem ao debate sobre este verbo aparecia num dos testes do CLP e era a seguinte: «Posso assegurar-vos de que todas as nossas especialidades terão zero calorias.» A Comissão Técnico-Científica e muitos dos participantes no CLP considerámos que a frase continha um erro, pois, baseando-nos no argumento 1) anterior, dever-se-ia escrever «Posso assegurar-vos que todas as nossas especialidades terão zero calorias».

No entanto, e apesar do debate, continuo com uma dúvida sobre este assunto. Já anteriormente a enviei à CTC, mas sem resposta, talvez porque depois de finalizado o CLP a Comissão logicamente já não se encontre em funções. Passo a explicar, pois, a minha dúvida.

Está claro que o verbo assegurar-se sempre irá acompanhado da preposição de, já que «eu asseguro-me de alguma coisa/disto/daquilo».

Também é lógico não ser necessária a proposição em casos como «eu asseguro à Maria que tudo está bem», ou, de maneira mais simples, «eu asseguro à Maria isto/aquilo», não fazendo qualquer sentido dizer «eu asseguro à Maria disto».

Mas: estando claro que posso «assegurar alguma coisa a alguém», posso ou não «assegurar alguém de alguma coisa»?

Para tentar explicar a diferença entre as duas frases, diria que na primeira o que se realça é o que se quer assegurar (o facto), enquanto na segunda o importante é quem se quer assegurar (a pessoa). Por outras palavras, o problema reside em saber se o verbo assegurar (no sentido de «assegurar alguém») pode ou não ter o mesmo significado que «dar uma certeza».

É que, nesse caso, eu poderia dizer: «Asseguro à Maria que tudo está bem»; mas poderia também dizer correctamente: «Asseguro a Maria de que tudo está bem» — neste último caso, dar à Maria a certeza de algo. Se esta segunda frase for correcta, poderemos perfeitamente distinguir uma frase da outra utilizando os pronomes correspondentes:

«asseguro-lhe que tudo está bem», por um lado, e «asseguro-a de que tudo está bem», por outro.

Neste contexto, a ambiguidade aparece quando o pronome de complemento directo e o pronome de complemento indirecto coincidem; é o caso de vos, o que nos leva precisamente à frase que aparece no texto do CLP. Dar-se-ia nessa situação o caso particular em que: «assegurar-vos (CI) que tudo está bem», por um lado, e «assegurar-vos (CD) de que tudo está bem» estariam ambas correctas (pois os pronomes de CD e CI coincidem). No texto do CLP 2008 ocorria essa situação sem que se pudesse diferenciar se o vos se referia a um complemento directo ou a um complemento indirecto. Ou seja, poderia considerar-se correcta a frase do texto: «Posso assegurar-vos de que todas as nossas especialidades terão zero calorias.» Eu estaria a assegurar um grupo de pessoas (CD) de alguma coisa.

A frase «assegurar-me de alguma coisa» — que admitimos correcta no início deste texto — seria assim perfeitamente compatível com «assegurar-vos (CD) de alguma coisa» e corresponderia ao caso particular em que quem assegura e quem é assegurado são a mesma pessoa.

Deixo à vossa apreciação esta dúvida, com um certo ar de sofisma, e espero sinceramente que seja possível entendê-la. Agradeço desde já a atenção dispensada e, talvez, alguma resposta esclarecedora.

Fernando Bueno Engenheiro Belo Horizonte, Brasil 10K

Examine-se a estrofe seguinte:

«E seguem ambos a passo inteiro:

Um, sentindo o fardo aliviado,

O outro, vergado ao peso do madeiro»

Estão corretas as vírgulas após «Um» e «O outro». São elas de rigor?

Obrigado.

Carolina Ferreira Jurista Lisboa, Portugal 8K

«Aficionado de histórias», ou «aficionado por histórias»?

Obrigada!

Valdir Pignatta e Silva Professor/engenheiro São Paulo, Brasil 6K

Ao se referir ao material usado em uma construção civil, pode-se dizer «construção de aço». Como nas construções convencionais usa-se o aço juntamente com o concreto (betão), uma Associação Brasileira preferiu usar «construção em aço». Penso que essa expressão é um galicismo. Eu preferiria usar «construção com aço».

O que dizem os senhores?

Cássio Sader Redactor, roteirista e director Brasília, Brasil 25K

Assistindo a um filme russo, deparei-me nas legendas em português com as formas «amo-lhe» e «amo-o», não usuais no Brasil. Isso me levou a especular se é possível usar «amo-nos».

Maria de Fátima Pestana Professora Vila Franca de Xira, Portugal 10K

Como é a forma correcta de escrever?

«Transita a...», ou «transita para...»?

Alexandra Lorena Funcionária pública Lisboa, Portugal 15K

O verbo versar dispensa a preposição sobre?

Jaime Cordeiro Empresário Portimão, Portugal 12K

Quais das seguintes frases estão correctas?

a) Devemos esclarecer V. Ex.ª que, nesta proposta, não estão incluídos...
b) Devemos esclarecer V. Ex.ª de que, nesta proposta, não estão incluídos...

a) Aproveitamos para informar V. Ex.ª que esta proposta é válida...
b) Aproveitamos para informar V. Ex.ª de que esta proposta é válida...

Obrigado.

Carolina Ferreira Jurista Lisboa, Portugal 4K

Qual das formulações é correcta?

1 — «Não fico tentado a visitar a casa.»

2 — «Não fico tentado em visitar a casa.»

3 — «Não fico tentado por visitar a casa.»

Obrigada!

Carolina Ferreira Jurista Lisboa, Portugal 7K

«Desacostumado ao tom imperativo com que se lhe falava, hesitou», ou «Desacostumado com o tom imperativo com que se lhe falava, hesitou»?

«Desacostumado a», ou «desacostumado com»?

Obrigada!