Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Área linguística: Semântica
Igor Góes Professor Brasil 312

Deparei-me com a seguinte expressão: «Associar a quantidade de pão ao seu preço.»

Minha dúvida é: o sintagma «de pão» pode ficar no singular ou deve ficar no plural por ser um nome contável?

Se ambas as possibilidades forem possíveis, então qual a diferença semântica entre ambos?

João Paulo Fernandes Lopes Arquivista Vila Nova de Gaia, Portugal 252

Em Trás-os-Montes, pelo menos no concelho de Vinhais, utiliza-se o termo "moco" (com o fechado) na expressão «em môco» que designa um pássaro recém-nascido, ainda sem penas e apenas com uma ténue penugem. Não encontro essa expressão nem o termo "moco" em dicionários de regionalismos, nomeadamente:

– Mirandelês / Jorge Golias, Jorge Lage, João Rocha, Hélder Rodrigues. – Mirandela : Câmara Municipal de Mirandela, 2010. ISBN 978-972-9021-12-1; -

– Dicionário dos Falares de Trás-os-Montes / Vítor Fernando Barros. – Porto: Campo das Letras, 2002. ISBN 972-610-580-3

Colocada a questão numa ferramenta de inteligência artificial, obtive a informação genérica seguinte:

«O termo “moco” parece derivar do latim mucus, possivelmente relacionado ao estado frágil e vulnerável dos filhotes de pássaros, que ainda estão sem penas e cobertos apenas por uma leve penugem.»

Gostaria de, se possível, obter a informação sobre a existência registada do termo ou expressão, qual a sua origem etimológica e qual o seu uso e emprego em Portugal, em resposta fundamentada por um dos vossos habilitados autores.

Muito obrigado.

Grace Montenegro Enfermeira Porto, Portugal 320

É cada vez mais frequente ouvir a palavra litrada na hotelaria.

Nesse sentido, tentei consultar o seu significado em diversos dicionários sem obter qualquer resultado.

Ainda ontem, na minha hora de lazer, fui com umas colegas de trabalho a tomar café e ouvi uma conversa que sobressaía do tumulto. De forma bastante clara, um cliente dizia: «traga-nos uma valente litrada de cerveja, por favor».

A minha dúvida é se existe e ainda não foi incluída nos dicionários, ou se é apenas um termo usado na região do Porto.

Se existir, pode ser incluída em textos literários?

Obrigada!

Luiz Henrique Borgelo Servidor público aposentado Itaguaru GO , Brasil 459

Ultimamente tem-se ouvido «vamos repercutir isso, vamos repercutir aquilo».

Quem repercute é o fato ou é a pessoa que fala sobre ele?

Obrigado.

Maria Santana Jurista Lisboa, Portugal 310

Ouvi recentemente alguém referir que tinha produzido um «texto esquálido, clean, minimalista», creio que foi essa a frase exata que a pessoa utilizou.

O sentido da palavra esquálido é o de que era um texto "enxuto", sintético, conciso. Ou seja, a palavra esquálido tinha uma conotação positiva. Nunca tinha ouvido a expressão aplicada a um texto e sobretudo com uma conotação positiva.

Podem, s.f.f., esclarecer se esse uso está ou não correto?

Muito obrigado e parabéns pelo vosso trabalho.

Henrique Silva Campos Atendente Betim, Brasil 272

Estou com dúvida nisso pois acho bem estranho, o uso do de esta correto na frase do exemplo:

Ex: «um saco de farelo de milho»

Sempre que há uma frase em que o de aparece duas ou mais vezes, eu acho um pouco estranho.

Obrigado.

Marta Amaral Estudante universitária Portugal 329

Confirmei no Dicionário Prático de Regência Nominal de Celso Pedro Luft que se escreve, tal como se ouve habitualmente, «sou licenciada em x PELA Universidade y» e «sou doutora(/doutorada) em x PELA Universidade y».

Pergunto, primeiro, se o mesmo se aplica – como seria de esperar – à designação mestre: é-se mestre em x POR [instituição de ensino y] (o dicionário referido é omisso neste ponto)?

Pergunto, depois, se é possível explicar gramaticalmente esta construção, que não é óbvia para mim.

Na frase «Sou licenciada pela Universidade y», «pela Universidade y» desempenharia, se compreendo bem, a função sintática de complemento agente da passiva – é a instituição de ensino que "licencia", i.e. que confere o grau académico de licenciado ao estudante. Não sei se este raciocínio está correto, e não consigo aplicá-lo aos outros casos: em «sou mestre pela Universidade y» e em «sou doutor pela Universidade y», o mesmo constituinte («pela Universidade y») não pode desempenhar a função sintática referida, parece-me. Conseguiriam explicar esta construção?

Obrigada pelo vosso precioso trabalho.

Maria Fernanda Alves Professora aposentada Sintra, Portugal 293

Como classificar a expressão «como um salvador» em «ele foi imaginado como um salvador»?

Eleonora Jeliazkova Tradutora Ratingen, Alemanha 485

Gostaria de saber se o verbo ligar pode ser usado como intransitivo na frase seguinte que aparece nas instruções de utilização de um dispositivo médico.

«Desligue o dispositivo e ligue novamente.»

Na minha opinião, nesta frase falta o objeto direto e, por isso, deve ser alterada da seguinte forma: «Desligue o dispositivo e ligue-o novamente.»

Muito obrigada pela resposta!

Francisco Molusco Portugal 390

Pode um sítio ser simpático? E um objecto? É a simpatia exclusiva dos seres vivos?

Conheço uma pessoa que regularmente afirma «este sítio é simpático» ou «este jantar é simpático», mas não consegue clarificar exatamente o que isso significa. Gera-se então a discussão do que significa ser simpático e se pode ser aplicável a lugares e objectos inanimados.

dicionário Priberam define simpático como «que inspira simpatia». Consigo conceber que isso se aplique a um local (mas não uma refeição) até ler a definição de simpatia no mesmo dicionário: «Sentimento de atração moral que duas pessoas sentem uma pela outra.» Esta definição nem dá latitude para animais serem simpáticos (discutível), mas parece de todo fechar a porta a objetos. Isto é, até ler a definição de moral: «Não físico nem material (ex.: estado moral). = ESPIRITUAL.» Um sítio pode invocar uma atração espiritual, mas se formos por este caminho temo que já nos estejamos a afastar demasiado do cerne da questão.

Recapitulando: pode a palavra simpático ser aplicada a seres não vivos?