Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Área linguística: Semântica
Ines Dutra Prof universitário Portugal 1K

Dicionário Priberam define antecipar como «pensar com antecipação que algo vai acontecer. = ANTEVER, PREVER». E este significado já existe há muitos anos.

Vamos contrariar o dicionário?

Hiyashi Osamu Estudante São Paulo, Brasil 2K

Tenho uma questão quanto à qual a gramática tradicional é um tanto quanto esquiva, então gostaria de seus pareceres.

Se trata de campo semântico de adjetivos em sintagmas nominais com mais de um substantivo.

Considerando-se que a GT [gramática tradicional] diz que um único adjetivo caracteriza mais de um substantivo (pelo menos enquanto o sentido do adjetivo os cobrir) e que isso ocorre conforme a disposição de termos no sintagma — inclusive em todos os casos de concordância atrativa — (o que é minha maior dúvida se de fato o é), me interesso em saber como contornar interpretações equívocas nestes casos, mormente casos em que a concordância atrativa é obrigatória, por ex., quando adjetivo(s) anteposto(s) (funcionando de adjunto adnominal) aos nomes:

«Comprei manuais e gramáticas velhos/velhas.»

(penso que caracterize ambos independentemente da ausência de determinantes e da concordância estabelecida, tanto é que se objetivasse a caracterização de somente um nome contornaria assim:

«Comprei manuais velhos e gramáticas.» / «Comprei gramáticas velhas e manuais.»

Nestes casos, a concordância se faz obrigatoriamente com o mais próximo, pois logicamente só há o mais próximo para concordar. Por conseguinte, quanto a isso também gostaria de saber que acham.)

«Comprei velhos manuais e gramáticas.»

(nota-se que o sentido do enunciado, provocado pelo deslocamento do adjetivo, mudou.

Aqui começa a complicar em meu entender, pois o adjetivo pode, conforme sua carga semântica, caracterizar ambos. E fico em dúvida se efetivamente ocorre, a ausência de determinantes teria alguma implicação diferente na interpretação? Suponho que não...

«Comprei os manuais e as velhas gramáticas.»

(Por mais que a concordância seja atrativa, não por intuição possibilidade de caracterização semântica de ambos.)

Para não ir à exaustão com exemplos, para com casos de adjuntos adnominais, paro por aqui.

Ao predicativo do objeto agora:

Minha questão com este é mais sobre como contornar a interpretação de que ambos os substantivos são modificados. Para tal recorrendo a pontuação, penso conseguir fazê-lo. No entanto, como estou estudando pontuação ainda (sou um exímio "pontuador"); não sei se satisfaço plenamente a questão, portanto a vocês recorro.

«Comprei velhas as gramáticas; e os manuais» (não necessariamente velhos).

(E as gramáticas enquanto velhas, não necessariamente estão velhas no momento da enunciação.)

Aguardo suas reflexões ansiosamente. Obrigado pela atenção.

Daniela Costa Tradutora Los Angeles, EUA 3K

Na frase «Era isso o que estava a manter o pensamento no lugar», é um erro o uso do artigo definido o antes de que? Se sim, qual é a regra que fundamenta isso?

Obrigada.

Alberto Rodrigues Designer gráfico Trofa, Portugal 1K

Tenho vindo a notar que em muitas embalagens e placas informativas, principalmente no ramo da alimentação, têm vindo a usar muito o singular das palavras, como por exemplo: «tarte de noz.». Esta seria talvez, confecionada com mais do que apenas uma noz.

Qual seria o mais correto: «tarte de noz» ou tarte de nozes» ou «tarte com aroma a noz»? Porque temos uma outra situação relacionada com os sabores e aromas.

Normalmente dizemos: «bolo de laranja», «bolo de maçã», «bolo de banana», e por aí além, mas existe alguma regra no que diz respeito às quantidades, para definir se o nome é no singular ou no plural?

Obrigado.

Roberto Andrade Servidor Público Rio de Janeiro, Brasil 9K

Recentemente estive lendo o Dicionário prático de regência verbal de Celso Pedro Luft (um bom livro!).

Lá, deparei-me com um caso curioso: o verbo combater podendo ter dois "objetos indiretos".

O autor diz que o verbo é transitivo indireto e cita as preposições com, contra, por e a locução prepositiva «a favor de»...

Depois disso, observei uma frase:

«Combati contra José pela liberdade.»

Temos, na frase citada, dois objetos? «Pela liberdade» não dá uma ideia de locução adverbial de causa?

Obs.: A frase [em questão] não foi lida no livro, e sim em um artigo; mas, [apoiado] na visão de Luft, julguei dois objetos indiretos.

Desde já agradeço a enorme atenção que os Senhores sempre tiveram.

Maria Luísa Cordeiro Professora Chaves, Portugal 1K

No vilancete camoniano “Descalça vai para a fonte”, no verso «vai fermosa e não segura», o constituinte «fermosa e segura» é classificado como predicativo do sujeito, o que confundiu os alunos, dado que o verbo ir seleciona complemento oblíquo, como no 1.º verso: «… vai para a fonte».

Agradecia a vossa explicação, porquanto as gramáticas que consultei não foram esclarecedoras.

Laércio Becker Funcionário público Curitiba, Brasil 2K

A ambiguidade da palavra também pode ser explicada sintaticamente?

Partamos da frase: «João foi ao jogo.»

Nela, podemos incluir a palavra “também” com dois sentidos distintos:

1) Também João foi ao jogo = [além de José,] também João foi ao jogo

2) João foi ao jogo, também = João foi [à festa e] ao jogo, também

Sem contar opções mais ambíguas (quanto mais próximo ao verbo, maior a ambiguidade):

3) João também foi ao jogo – mais próxima ao exemplo 1, mas pode gerar ambiguidade

4) João foi também ao jogo – mais próxima ao exemplo 2, mas pode gerar ambiguidade

Todas as gramáticas e dicionários classificam o também como advérbio e adjunto adverbial «de adição» ou «de inclusão». Contudo, é interessante notar que:

a) no exemplo 1, o também adiciona uma informação ao sujeito;

b) no exemplo 2, o também adiciona uma informação ao objeto indireto.

Fenômeno análogo ocorre com o advérbio , embora com diferenças, p.ex.:

1) Só João vai ao jogo = e ninguém mais vai com ele = referente ao sujeito => inequívoco;

2) João só vai ao jogo = (não faz mais nada = referente ao verbo) OU (não vai a mais nenhum lugar = referente ao objeto);

3) João vai só ao jogo = (não vai a mais nenhum lugar = referente ao objeto) OU (vai sozinho = adjetivo);

4) João vai ao jogo, só = (só isso acontece) OU (foi sozinho = adjetivo).

No entanto, no exemplo citado, o fenômeno não acontece com outros advérbios, como sempre e nunca:

– Sempre/nunca João vai ao jogo = João sempre/nunca vai ao jogo = João vai ao jogo, sempre/nunca = é o que ele sempre/nunca faz.

A variedade de sentidos aumenta em frase que usa verbo bitransitivo. P.ex., com também:

1) Também João deu um presente a Maria = outra pessoa também deu = referente ao sujeito;

2) João também deu um presente a Maria = João também fez outras coisas, além de dar um presente = referente ao verbo;

3) João deu também um presente a Maria = João também deu outras coisas, como um abraço = referente ao objeto direto;

4) João deu um presente também a Maria = João deu também a outra pessoa = referente ao objeto indireto;

5) João deu um presente a Maria, também = ambiguidade.

Com :

1) Só João deu um presente a Maria = ninguém mais deu = referente ao sujeito;

2) João só deu um presente a Maria = João só fez isso = referente ao verbo;

3) João deu só um presente a Maria = João deu só um, não dois presentes = referente ao objeto direto;

4) João deu um presente só a Maria = João deu só a Maria, a ninguém mais = referente ao objeto indireto;

5) João deu um presente a Maria, só = forma incomum, truncada

Já com sempre e nunca, o significado antes invariável apresenta agora sutis variações.

Comecemos com o sempre:

1) Sempre João dá um presente a Maria = ambiguidade (sempre ele ou segue o sentido 2);

2) João sempre dá um presente a Maria = sempre faz a mesma coisa = referente ao verbo;

3) João dá sempre um presente a Maria = nunca dá outra coisa = referente ao objeto direto;

4) João dá um presente sempre a Maria = nunca a outra pessoa = referente ao objeto indireto;

5) João dá um presente a Maria, sempre = ambiguidade (segue 2 ou 4).

Agora com nunca:

1) Nunca João dá um presente a Maria = ambiguidade (segue 2 ou, incomum, nunca ele);

2) João nunca dá um presente a Maria = nunca faz isso = referente ao verbo;

3) João [não] dá nunca um presente a Maria = sem o acréscimo do “não” é incomum, com o “não” segue 2;

4) João [não] dá um presente nunca a Maria = incomum, segue 3;

5) João [não] dá um presente a Maria, nunca = segue 3

Apesar disso tudo, continuam todos sendo adjuntos adverbiais (exceto o , que numa das frases acima é adjetivo, como indiquei).

Há alguma explicação sintática para a mudança de sentido conforme sua colocação na frase?

Muito obrigado pela atenção.

Sónia Ho Estudante Macau, China 34K

Gostaria de saber, caso existam, algumas diferenças entre as duas locuções adverbiais de tempo «de tarde» e «à tarde».

Será que «de tarde» não pode iniciar uma frase enquanto «à tarde» pode?

Obrigada!

Sónia Ho Estudante Macau, China 4K

Gostaria de saber qual é a diferença entre «cerca de» e «por volta de», que me parecem idênticos. Seria melhor se colocasse alguns exemplos.

Obrigada!

Ana Martins Professora Beja, Portugal 2K

Eu e alguns colegas gostaríamos de receber a vossa ajuda no que diz respeito à análise sintática da frase seguinte:

«O Silva veio de carro para a escola.»

Muito obrigada.