Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Ney de Castro Mesquita Sobrinho Vendedor Campo Grande, Brasil 23K

As expressões «dar-se o trabalho»/«dar-se ao trabalho», «dar-se o luxo»/«dar-se ao luxo», «dar-se o respeito»/«dar-se ao respeito» e outras análogas parecem ter o mesmo significado no português do Brasil, sendo, portanto, absolutamente equivalentes. A alternância parece ser apenas uma questão de estilo.

Exemplificando com as duas orações seguintes: «Joana deu-se o trabalho de arrumar a mesa para o almoço» e «Joana deu-se ao trabalho de arrumar a mesa para o almoço», podemos concluir que, na primeira, Joana deu a si o trabalho de arrumar a mesa para o almoço, arrumando-a. Na segunda, Joana entregou-se (deu-se) ao trabalhado de arrumar a mesa para o almoço, arrumando-a. Realmente, duas maneiras diferentes de se dizer a mesmíssima coisa.

Segundo a ilustre e erudita consultora Dona Eva Arim, do Ciberdúvidas, em resposta de 9 de outubro de 2006, a um meu patrício, «dar-se ao» tem no português europeu o sentido de «aceitar a realização de uma tarefa considerada fora do âmbito das suas atribuições por imperativos de rigor, qualidade...», ora, no português brasileiro, este sentido a mesma locução não dá à oração onde aparece. Somente significa que alguém se deu ou se entregou ou se dedicou a algo, sendo este algo da sua atribuição ou não. Tudo conforme o que está exposto no parágrafo anterior.

Como ficou claro, «dar-se ao» também é do português do Brasil e não somente do de Portugal, como afirmou a consultora supramencionada em sua resposta, aliás, entre nós, brasileiros, usa-se cada vez mais apenas «dar-se ao»; «dar-se o» está desaparecendo.

Feitos estes esclarecimentos, gostaria de indagar se a locução «dar-se a», embora semanticamente equivalente a «dar-se ao», não seria a mais antiga e a mais correta na nossa língua, como li em alguns textos sobre o assunto. Esta parece ser, há séculos, a forma tradicional abonada pelos gramáticos e dicionaristas e usada pelos bons escritores do nosso idioma. «Dar-se ao» já seria uma inovação, algo bem mais recente, sem tradição em nossa língua; apesar de tudo não faltam gramáticos e dicionaristas modernos que consideram as duas corretas, abonando, portanto, a segunda forma, mas estas autoridades do português modernas vão abonando tudo a torto e a direito. Aceitam tudo.

A luz refulgente do mais brilhante e iluminador sítio da Web, por favor.

Muito obrigado.

Miguel Soares Estudante Viana do Castelo, Portugal 8K

Gostaria que me esclarecessem a seguinte dúvida:

«Ora certa noite, e já depois de se ter deitado, a mãe lembrou-se de que se calhar não tinha deixado o lume bem acondicionado para não pegar fogo.(...) Eis senão quando, ao passar ao quarto do filho, viu por debaixo da porta uma risca de luz. (...) A mãe nem queria acreditar.»

A Estrela, de Vergílio Ferreira

Neste contexto, a forma verbal passar é um infinitivo pessoal, ou impessoal?

Passar refere-se à mãe (sujeito), contudo também podemos considerar «ao passar ao quarto do filho (...)» como um grupo móvel, o que me leva a pensar que, assim sendo, se trata de um infinitivo impessoal.

Grato pela vossa colaboração.

Fernando Bueno Engenheiro Belo Horizonte, Brasil 6K

Por que pode formar-se voz passiva na frase «Eles continuaram observando as pessoas» — «As pessoas continuaram a ser observadas por eles», mas não se pode em «Eles ficaram observando as pessoas» — «As pessoas ficaram (?) sendo observadas por eles»?

Obrigado.

Pedro Barreira Tradutor Ubuntu Linux Lisboa, Portugal 6K

Actualmente não encontro em Portugal qualquer aceitação oficial dos seguintes termos, aplicados às ciências computacionais, e de uso corrente, que passo a enumerar incluindo o seu significado geral:

I. "Rasterizar"/"Rasterização" (eng. to raster/rastering) — processo de geração de uma imagem rasterizada (composta por píxeis ou pontos) a partir de uma imagem vectorial (composta por vectores), com o fim de ser apresentada em ecrã, imprimida ou guardada em ficheiro.

"Rasterizador" (eng. raster) — Aplicação, função ou extensão de aplicação que processa dados vectoriais multicamada de uma imagem e os transforma, aplica numa só camada para a formação de uma imagem rasterizada.

«Imagem rasterizada» (eng. raster image) — imagem composta por píxeis ou pontos.

II. "Renderizar" (eng. render) — processo de geração de um resultado a partir de dados de um modelo, por meio de uma aplicação informática e com a finalidade de produzir uma realidade virtual.

"Renderizador" (eng. render) — Aplicação, função ou extensão de aplicação que procede à criação do resultado que representa uma realidade virtual.

"Renderização" (rendering) — acto de renderizar, objecto renderizado.

«Imagem renderizada» (rendered image) — imagem processada segundo dados de um modelo com a propósito de representar uma realidade virtual.

(Uma realidade virtual é um objecto criado por computador que apresenta as características visuais de uma realidade possível ou não).

Esta terminologia é aplicada nas áreas da construção civil (ex.: projectos CAD 3D), medicina (imagologia), produção cinematográfica/televisiva.

Quais são os critérios que levam «à criação de uma palavra genuinamente portuguesa que corresponda» a rastering, quando a palavra está em uso, tem significado definido e aceite?

Sendo a palavra original uma invenção/adaptação de uma palavra inglesa, dada a multiplicidade de influências e origem do idioma português, o que quer dizer ou se pode esperar uma «palavra genuinamente portuguesa» quando o conceito não foi inventado neste país?

Ivo Silva Escriturário Porto, Portugal 12K

Dos termos astrofobia, astrapofobia, brontofobia e ceraunofobia, qual o mais correcto para a «fobia a relâmpagos»?

Filipe Gonçalo Ribeiro Rocha Estudante Lisboa, Portugal 6K

Gostaria de saber qual é a figura de estilo presente nos seguintes versos:

«Fez primeiro em Coimbra exercitar-se/O valeroso ofício de Minerva.»

Obrigado pela ajuda.

Mauro Bartolomeu Professor Ribeirão Preto, Brasil 3K

Consultei a questão que responde parcialmente à minha dúvida [...]. Embora minha questão incid[a] sobre o gênero, e não sobre o número, o fato de o uso em Portugal ser distinto demonstra que na verdade não existe nenhuma norma com relação a isso, mas apenas hábito linguístico, correto? Porém, uma nova dúvida surgiu com essa informação: por acaso em Portugal se refere a uma banda feminina como «as L7» ou «as Smashing Pumpkins» (artigo feminino)?

Grato. Sucesso!

Mari Rodrigues Professora Leiria, Portugal 5K

No contexto «... imediações da casa...» podemos classificar a palavra imediações como sendo um nome comum concreto?

Agradeço a quem me puder esclarecer esta dúvida.

Ana Silva Professora Vila Nova de Gaia, Portugal 7K

Na frase «Ao chegar perto, Ulisses contornou disfarçadamente a criança», que função sintáctica desempenha «Ao chegar perto»? Poderemos aceitar «Ao chegar» como complemento circunstancial de tempo, e «perto» como complemento circunstancial de lugar?

Fernando C. Estudante Lisboa, Portugal 12K

Deve dizer-se "auditivamente", ou "audivelmente"? Ou não existe nenhum destes termos? Ou existem os dois e serão aplicados de acordo com o adjectivo que os origina?

Muito obrigado.