O Dicionário das Origens das Frases Feitas (Porto, Lello & Irmão Ed., 1992), de Orlando Neves, explica-nos o significado dessa expressão: «Esta frase acompanha, normalmente, a exteriorização de uma grande alegria, embora hoje, pouco usada, se utilize para caracterizar a alegria dos bêbados.»
Para nos esclarecer sobre as raízes da locução «dar vivas à Cristina», Orlando Neves baseia-se num livro de crónicas, Imagens de Lisboa (1976), de Joaquim António Nunes, onde é apresentada a origem histórica de tal locução: «O oitavo duque de Bragança (D. João IV), poucos dias depois de ocupar o Paço da Ribeira, mandara como embaixador à Suécia Francisco de Sousa Coutinho para celebrar com aquele país um contrato de amizade e colaboração comercial, graças a esse famoso chanceler Oxenstierna, que sabiamente dirigia os negócios do seu país antes da coroação da sua jovem rainha. […] Esse tratado valeu a Portugal obter no célebre congresso de Munster a mais firme defesa dos direitos de independência que só a preponderância espanhola não permitiu reconhecer. A atitude tomada pelo grande ministro Oxenstierna, na defesa dos direitos de D. João IV ao trono português, não podia deixar de agradar a este monarca dando pública prova da sua gratidão à soberana. Essa soberana veio a ser a inteligente e culta rainha Cristina, grande protectora das letras e das artes, filha do rei Gustavo Adolfo, órfã aos seis anos e coroada aos trinta e um. O rei D. João IV, em sinal de reconhecimento, mandou que se dessem salvas de artilharia, se fizessem iluminações e as folias do estilo para alegrar a cidade e se efectuassem todas as demonstrações de regozijo, principalmente junto da residência do representante daquele país, o sr. Lourenço Skytte. Assim, uma grande multidão foi junto da porta do súbdito sueco em ruidosa animação “dar vivas à Cristina”, queimando foguetes e tocando e dançando com grande animação, transmitindo a satisfação do rei reconhecido.»
Por isso, «desde então, quando algum motivo transcendente exteriorizava alegria na rua, logo se dizia: “deram-se vivas à Cristina”, sem se saber, quase sempre, que se tratava de uma rainha da Suécia» que apoiou o monarca português nos difíceis tempos de afirmação da independência após a Restauração (meados do séc. XVII) e que esta expressão popular simbolizava uma homenagem de um rei português (D. João IV) a uma rainha estrangeira.