Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Margarida Sá Professora Braga, Portugal 2K

Na frase «Ele comeu tanto que ficou maldisposto», a oração subordinada é introduzida pela conjunção subordinativa consecutiva. Ou considera-se «tanto...que» uma locução conjuncional subordinativa consecutiva?

Nicolau Herédia Estudante Brasil 5K

De acordo com artigo de João Veloso, da Universidade do Porto, “The English R coming! The never ending story of Portuguese rhotics” (2015), como parte dum grande processo de mudança na pronúncia dos erres, o erre de palavras como carta, em Portugal, já poderia ser pronunciado como retroflexo.

Para mim, é grande novidade, pois esperava existir tal som somente no português brasileiro. Segundo ele, até há pouco tempo não se documentava essa pronúncia em Portugal, mas alguns estudos recentes e a sua própria observação linguística de jovens escolarizados do Porto demonstram que essa pronúncia cresce a cada dia. «Parece ser mais frequente entre falantes mulheres, jovens e escolarizadas do que entre homens», diz ele.

Que visão tem o Ciberdúvidas a respeito disso?

Leonardo Dias Videógrafo e artista Lisboa, Portugal 10K

Em primeiro lugar, parabéns por esta plataforma fantástica!

Não sei se é o melhor sítio para fazer esta pergunta, uma vez que a minha dúvida é mais técnica do que linguística.

A palavra mezzanine, que também já vi grafada como mezanine ou com o neologismo mezanino, está definida na Infopédia como «andar intermédio e pouco elevado, entre dois andares altos, geralmente entre o rés do chão e o primeiro andar». Noutros dicionários, aparece também com definições bastante semelhantes, frisando-se sempre a ideia de se tratar de um andar intermédio, por vezes baixo.

Ora, eu formei-me em arquitetura e trabalhei na área tempo suficiente para saber que os profissionais da construção dão um significado bastante mais lato ao termo. Para um arquiteto ou engenheiro, uma mezzanine é qualquer espaço interior que se debruce sobre outro inferior, independentemente de ser intermédio ou não, e que seja amplo o suficiente para não ser um simples varandim. No fundo, é o equivalente a um terraço no interior.

Basta uma simples pesquisa de imagens na Internet, com o termo mezzanine, para vermos dezenas de fotografias de casas, onde o escritório ou o quarto se encontra no segundo piso (e não num intermédio) e se debruça sobre uma sala de pé-direito duplo. A definição da Wikipédia é ainda mais redutora, dizendo que o termo se destina a «um nível particular do edifício situado entre o piso térreo e o primeiro andar (...) e que não entra no cálculo total dos andares». Por esta definição, numa torre de Lofts ou apartamentos Duplex, um fogo que possuísse um quarto no quinto piso, que se debruçasse sobre uma sala no piso inferior, já não seria uma "mezannine".

Estarão as definições dos dicionários incompletas, erradas ou desatualizadas? Ou estaremos perante um caso em que a gíria dos profissionais da área faz um uso mais alargado de um termo histórico muito específico, devido à falta de um termo mais abrangente?

Sara Leite Professora Portugal 4K

Gostaria de saber se é sempre possível substituir o futuro perfeito do conjuntivo pelo futuro simples do conjuntivo.

Caso não seja, poderiam por favor apresentar um exemplo?

Muito obrigada.

Vicente de Paula da Silva Martins Professor Universitário Sobral, Brasil 5K

Ao ler matéria em revista de grande circulação, deparei com a palavra , mas fiquei com muita dúvida quanto ao seu sentido e sua classificação, morfológica ou gramatical neste contexto:

«Durante a entrevista à imprensa, ao lado de outros ministros, como Eduardo Pazuello (Saúde) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Bolsonaro se irritou com a pergunta de um jornalista sobre como ele havia recebido a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) na terça-feira, 23, que anulou as quebras de sigilo bancários envolvendo o seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no processo que investiga a prática de rachadinha (desvio de verba de servidores do gabinete) quando ele era deputado estadual. Bolsonaro, mostrando-se bastante irritado, encerrou o evento. “Acabou a entrevista aí”, disse, deixando o recinto junto os ministros e outras autoridades que o acompanhavam na visita» (Camila Nascimento, Política,Veja, 24/02/2021).

Sávio Christi Ilustrador, quadrinista, autor literário, pintor e youtuber Vitória (Espírito Santo) , Brasil 2K

Se, de belo, vem beleza, por que de natural, não vem "naturaleza"?

Qual o real motivo da supressão de duas das letras do meio? Em espanhol, é naturaleza!

Fiz a busca no Google, até pelo site de vocês, mas a resposta não me apareceu!

Obrigado.

Diogo Sobral Explicador Cascais, Portugal 1K

Se bem entendo, em casos como «Eu tenho as chaves do João», «do João» é um modificador do nome restritivo. Mas se alterarmos a frase para «Eu tenho as suas chaves», usando assim um determinante possessivo, pode-se dizer da mesma forma que suas é um modificador do nome restritivo?

Obrigado pelo vosso tempo.

Elisabete Ferreira Professora Ponta Delgada, Portugal 3K

Na frase «olhei para o mar e senti-me revigorado», a que subclasse pertence o verbo sentir?

Uma vez que pode ser substituído por «fiquei revigorado», posso considerá-lo copulativo ou estamos na presença de um transitivo-copulativo?

Lucas Tadeus Estudante Mauá, Brasil 2K

Estava lendo Marília de Dirceu [de Tomás António Gonzaga] e me deparo com este verso:

«O mesmo, que cercou de muro a Tebas.»

Que eu saiba só tem duas regência o verbo em questão:

1) Cercar algo DE.

2) Cercar-se DE.

Gostaria de saber se a regência do verbo é outra (Cercar A algo DE) ou se Tebas é de gênero feminino.

Fernando Pestana Professor Rio de Janeiro , Brasil 1K

Algumas ocorrências que encontrei de pronomes oblíquos átonos arcaicos:

«Que estais no céu, santificado... Não no disse eu, menina? Seja o vosso nome…» (Almeida Garrett)

«Ele ou é trova, ou latim muito enrevezado, que eu não no entendo.» (Almeida Garrett)

«Via estar todo o Céu determinado / De fazer de Lisboa nova Roma; / Não no pode estorvar, que destinado / Está doutro Poder que tudo doma.» (Camões)

«O favor com que mais se acende o engenho / Não no dá a pátria, não, que está metida…» (Camões)

«Ora sabei, padre Fr. João, que eu bem no supunha, bem no esperava; mas parecia-me impossível, sempre me parecia impossível que viesse a acontecer.» (Eça de Queirós)

«A culpa de se malograrem estes sublimes intentos quem na tem é a sociedade…» (Camilo Castelo Branco)

«Parentes, amigos, nem visitas nenhumas parecia não nas ter.» (Almeida Garrett)

Há alguma explicação para o uso da consoante n antes dos oblíquos átonos?

Muito obrigado!