Não convém tomar como exemplo do funcionamento linguístico atual textos com mais de 200 anos. É o caso do verso em questão.
Como é improvável que Tebas, nome próprio do género feminino, se usasse (ou se use) com artigo definido, no exemplo ocorrerá um objeto direto1 preposicionado, tendo a frase por núcleo o nome próprio em apreço. Esta construção era frequente no século XVII e manteve-se com alguma vitalidade no século XVIII, geralmente envolvendo nomes próprios de pessoa, embora também se documente o seu uso com nomes de países, regiões ou cidades que constituam entidades políticas:
(1) «Em Hespanha o insigne Portuguez Viriato, filho de hum pastor, poz em duvida se Hespanha dominaria a Roma, ou Roma a Hespanha, como confessáraõ os mesmos Romanos.» (Antonio de Sousa de Macedo, Eva e Ave ou Maria Triunfante, 1676, ibidem)
2) «Algumas tropas passaram há pouco tempo para Provença e Delfinado, e muitos discursaram que eram disposições para invadir a Castela no caso daquela morte.» (J. Cunha Brochado, Cartas,1707 in Corpus do Português )
Tanto em (1) como em (2), Roma e Castela, que, tal como hoje, não se fazem acompanhar de artigo definido («vivia em Roma/Castela»), têm associada a preposição a e desempenham a função de objeto direto das respetivas orações («dominaria a Roma» = «dominaria Roma»; «para invadir a Castela» = «para invadir Castela»).
Sendo assim, no verso em questão, «cercou de muros a Tebas», apresenta-se um objeto direto preposicionado – «a Tebas»– que deve interpretar-se como «Tebas» numa adaptação contemporânea e prosaica do verso setecentista: «cercou Tebas de muros ».
1 Em Portugal, usa-se o termo complemento direto.