A palavra deslocar implica sempre necessariamente uma mudança de um local para outro, ou pode referir-se apenas a uma mera mudança de posição, como quando nos referimos a um osso deslocado? Nomeadamente, pode considerar-se correcto dizer de uma árvore que tenha pendido na sequência de uma tempestade que ela se deslocou? Obrigado.
Nas leis do futebol, uma falta cometida por um jogador pode ser punida quando praticada por negligência ou imprudência. A FIFA interpreta como mais grave a forma imprudente de jogar. Gostaria de perguntar se a carga semântica do termo imprudência implica maior grau de gravidade do que a do termo negligência. Agradeço antecipadamente a vossa resposta.
Gostaria de saber qual o motivo de se usar estes prefixos ("dês-", "desen-", "desis-") nas mais diversas palavras, como desistir, desenterrar, desenfreado, etc.
Gostaria de saber se estes prefixos denotam intensidade, efeito contrário, ou qual o significado de serem usados nestas palavras.
Aguardo resposta.
Obrigado.
«Nascido na Ericeira» ou «nascido em Ericeira»?
Qual a forma correcta?
Qual o antónimo de contestar, convergir e adoecer? Desde já agradeço a atenção dispensada.
Obrigada.
O nome camelo (animal) é uniforme ou biforme? Da mesma forma, poderá considerar-se uma variação em género para o nome marinheiros?
O adjectivo fiável impropriamente usado como confiável O expoente do presente esclarecimento foi durante 30 anos (1969-1999) director e editor de uma publicação periódica portuguesa que tratava predominantemente de temas técnicos relacionados com o sector têxtil, desde a produção da fibra têxtil até ao artigo têxtil final. Ao longo dos anos em que o expoente dirigiu esta publicação, precisou empregar, até com bastante frequência, em traduções de outras línguas para o português, o verbo fiar e o adjectivo fiável. Além disso, o expoente tem por língua materna o português na variante do Brasil, portanto, baseado nisso, pode pronunciar-se com alguma autoridade sobre o emprego correcto das referidas palavras. Antes de mais, é preciso esclarecer-se que, até tempos recentíssimos, a maioria dos dicionários de língua portuguesa registava para ambas as palavras os seguintes verbetes:
Em dicionários que observavam as normas do português europeu
fiar [1] v. tr. «reduzir a fios; estirar à fieira; serrar longitudinalmente.
fiável adj. 2 gén. «que se pode fiar». (Do latim ‘filāre’ «idem»)
fiar [2] v. tr. «vender fiado». v. intr. «entregar sob confiança». v. refl. «confiar, dar crédito». (Do latim vulgar ‘fidāre’, por ‘fidĕre’ «fiar-se»)
Nunca se registou fiável como adjectivo da forma verbal [2] por se tratar sempre do sentido em português da forma reflexa «fiar-se», que se adjectiva pela locução «de confiança».
Em dicionários segundo as normas da variante brasileira
fiar [1] v. tr.« Reduzir a fios: fiar a lã. Segregar um fio de seda, falando-se de invertebrados como as aranhas e numerosas lagartas: o bicho-da-seda fia seu casulo». «Tirar ou puxar os metais à fieira». Em sentido fig. «tramar, urdir». v. intr. «Torcer os filamentos de qualquer matéria têxtil».
fiável adj. 2 gên. «que se pode fiar». (adjetivo formado pelo tema “fia-“ do verbo “fiar” posposto do sufixo nominal “-vel”).
O adjectivo fiável, na acepção que deriva do latim ‘filāre’ retrovertido em inglês, corresponde ao adjectivo “spinnable”, e igualmente, em alemão, ao adjectivo “spinnfähig”; em francês, ao adjectivo “filable”; em italiano, ao adjectivo “filabile”; em espanhol, ao adjectivo “hilable”. Assim, é incorrecta a forma “fiável” com o sentido de «algo em que se pode confiar ou ter confiança», pois esta forma começou a ser utilizada em Portugal a partir de finais dos anos oitenta, e foi introduzida no português europeu como tradução do termo “fiable”, que constava de alguns textos publicitários em inglês e que por erro de simpatia foi sendo traduzido como “fiável”, quando o seu sentido não corresponde ao sentido do termo fiável em português. Nem mesmo se trata de um neologismo necessário, formado em língua estrangeira e repercutido com propriedade no português. Na verdade, “fiable” é um galicismo desnecessário verificado em orações ou frases construídas em inglês, e reiterado ao ser aportuguesado por similitude com fiável, visto que “fiable” não existe em inglês, mas sim, no francês, o qual é traduzível para o inglês como “reliable”, “dependable”. Há também em inglês com o sentido semelhante “fiducial” ou “fiduciary”, os quais correspondem aos termos em português fiducial e fiduciário. O termo “fiable” consta também do vernáculo espanhol como um galicismo explicado da seguinte forma:
– “fiar”, v. tr., «fiar, afiançar, abonar, vender a crédito, fiar, confiar».
– “fiar”, v. intr., «confiar, ter confiança».
– “fiable”, adj., «em quem se pode fiar; diz-se da pessoa a quem se pode fiar, que tem crédito».
– “fiable”, adj., por “confiable”, «pessoa em quem se pode confiar» (Pelo francês “fiable”, do latim vulgar fidāre, por fidĕre «fiar-se»).
Em traduções feitas no Brasil, devido à falta de um termo apropriado para se traduzir do inglês o galicismo “fiable”, tem sido empregado o neologismo confiável, formado expressamente para o efeito; apesar disso, o termo “fiable” é adequadamente traduzível pela locução «de confiança», que é a tradução de “reliable” e corresponde à retroversão do galicismo “fiable”.
Nota final: Caso fosse possível construir em português um adjectivo com a mesma forma verbal do tema do qual deriva o galicismo “fiable”, este nunca poderia ter em português a forma fiável, porque este precisaria derivar do sentido do latim vulgar ‘fidāre’, por ‘fidĕre’ «fiar-se», e acabaria por remontar ao latim ‘fide’ (fé), que está intrínseco no verbo ‘confidĕre’, «confiar, ter confiança», e que corresponde em português à forma reflexa «fiar-se». Logo, o adjectivo com sentido mais acertado seria o neologismo confiável, cujo sentido também possui um exemplo notório na linguagem popular com a expressão «fia-te na virgem», a qual quer dizer que «nunca se deve ter fé ou confiar demasiadamente na virgem santíssima, sem usar também de algum esforço próprio» ou o mesmo que dizer «nunca se fiar, ter confiança ou confiar de modo demasiado em algo ou alguém». Assim, fica explicado também o adjectivo confiável, que é um neologismo com origem no português do Brasil.
Gostava de saber em que pessoas se conjuga o modo imperativo.
Tradicionalmente, diz-se que apresenta como únicas formas as da segunda pessoa do singular e plural. Contudo, também o usamos na terceira pessoa do singular (ex.: «coma», «beba»), na primeira pessoa do plural (ex.:«andemos», «comamos») e na terceira do plural (ex.: «comam», «bebam»).
Alguns professores dizem que estes últimos três casos não se podem considerar como imperativo, mas, sim, como presente do conjuntivo, com valor de imperativo. No entanto, a gramática de Celso Cunha e de Lindley Cintra indica que estas três conjugações pertencem ao modo imperativo. Por outro lado, consultei também a Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus, e, realmente, é referido que o imperativo apresenta as formas da segunda pessoa do singular e plural como as únicas possíveis do modo imperativo.
Agradecia um esclarecimento.
Antes de qualquer coisa, quero parabenizá-los pelo trabalho que desenvolvem, cooperando para que possamos compreender e utilizar a Língua Portuguesa. E por falar nela gostaria de contar com sua ajuda.
Sou bibliotecária e é comum produzirmos carta, avisos, folhetos etc. Desta vez estamos com um marcador de páginas. Normalmente, emitimos a mensagem e ao final elaboramos uma frase que tenha um sentido informal para quebrar um pouco a seriedade.
Desta vez, estamos trabalhando com um marcador de páginas, onde utilizamos a frase: «Se ligue nestas dicas.»
Neste caso, sabemos que a língua culta ordena que utilizemos o verbo no início.
Porém, considerando a informalidade, a linguagem publicitária podemos utilizar o pronome no início da frase, ou o senhor recomenda o uso da língua culta rigorosamente?
Muitíssimo obrigada!
No Brasil, a voz reflexiva correta dos verbos está cada vez mais esquecida na linguagem coloquial, de tal maneira, que frases como: «Quando se é criança, vê-se o mundo com outros olhos», «Se se trabalha muito, melhora-se de vida», «Fica-se estarrecido com a corrupção dos políticos», «Quem mata deve ser condenado à morte», «Quem não trabalha também não tem o direito de comer», «Quem é ladrão deve ir para a cadeia» passam a ser da seguinte forma: «Quando você é criança, você vê o mundo com outros olhos» ou «Quando você é criança, vê o mundo com outros olhos», «Se você trabalha muito, você melhora de vida», «Você fica estarrecido com a corrupção dos políticos», «Se você mata, você deve ser condenado à morte», «Se você não trabalha, também não tem o direito de comer», «Se você é ladrão, você deve ir para a cadeia».
Quem diz a voz reflexiva dessa maneira arrevesada, o faz quando está conversando com outra pessoa. Observe-se que, nos três últimos casos, podem-se gerar mal-entendidos, pois o interlocutor pode entender que está sendo chamado de assassino, vagabundo ou ladrão, ficando por isso mesmo ofendido.
Como se pode perceber, se é substituído por você. Quando o primeiro termo é usado, a frase torna-se geral, alguma coisa que se aplica a todos, que vale para todos. Creio ser esta mesma a finalidade da voz reflexiva.
Todavia, quando o segundo termo é utilizado, embora a intenção seja dizer algo que valha para todos, não se diz assim, pois a palavra você faz com que o que foi dito valha só para a pessoa com quem se fala.
Sobre tudo isto aqui ventilado, peço os comentários e os esclarecimentos desse credibilíssimo sítio. Gostaria outrossim de saber se essa inovação seria mais uma influência do inglês na língua portuguesa. Ficaria feliz também se me dissessem se tal fenômeno de linguagem ocorre também aí em Portugal.
Muito agradecido.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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