Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Paula Bernardes-Silva Professora, atualmente a exercer funções técnicas numa agência governamental Lisboa, Portugal 6K

Regra geral, tenho poucas dúvidas quanto ao português escrito; acredito, porém, que essa segurança advém do facto de ser uma leitora compulsiva, e não de ser especialmente versada nas questões menos comuns da gramática da nossa língua (de gramática, só recordo as distantes lições da instrução primária e do liceu, e uma leitura, também já distante no tempo, da «Nova gramática do Português contemporâneo»*, de Celso Cunha e Lindley Cintra), pelo que, frequentemente, me debato entre a certeza da formulação correta e a falta de base teórica para defender a minha posição. E quando não sei mesmo (nem sequer intuo), recorro ao Ciberdúvidas, claro.

Encontro-me presentemente a rever vários textos [...] e deparei com uma frase que me soa mesmo mal; mas como as alterações que proponho têm de ser discutidas com os autores, gostaria, caso tenha razão, que me proporcionassem o tal fundamento teórico, para poder apresentá-lo se aqueles não aceitarem a correção. A frase é a seguinte:

«Distinguir a diferença entre a perspetiva focal e periférica na relação com si próprio, com o outro, com os objetos e com o espaço.»

Eu sugiro «[...] na relação consigo próprio [...]». Tenho razão?

Obrigada e parabéns pelo vosso trabalho.

João Castro Financeiro Porto, Portugal 4K

É correto terminar uma frase com «lidar com»?

Exemplo: «Quanto à falta de pontualidade, tenho dificuldade em lidar com»

Na minha opinião a frase poderia ser «Quanto à falta de pontualidade, é algo com que tenho dificuldade em lidar» ou «Tenho dificuldade em lidar com a falta de pontualidade».

Fiz este reparo à minha filha que me respondeu que todos os amigos falam assim e que a frase está correta.

Pedro Machado Desempregado Braga, Portugal 1K

Sou minhoto. Acontece que, normalmente, no registo oral, pronuncio não como "num".

Por vezes, dou comigo a dizer: "Num sei", "Num vi", "Num me disseram nada", entre outros casos.

Gostaria de saber mais sobre esta diferença entre as duas maneiras de dizer. No entanto, não encontrei "num" no dicionário nem nenhum artigo na Internet que tocasse, precisamente, o que vos descrevo.

Está registada? É aceitável ou "mau português"? Foi já abordada por algum entendido na matéria? Há outras variações noutras zonas do país?

Aguardo, se possível, uma resposta complexa e pormenorizada que satisfaça esta curiosidade.

Obrigado.

José Garcia Formador Câmara de Lobos, Portugal 1K

Relativamente ao "hábito" de se responder a partir das perguntas dos enunciados, noto uma tendência que se traduz na seguinte frase:

«A importância dos sonhos É QUE/É PORQUE a personagem pressente algo ruim.»

Perguntava-vos, como tal, se é aceitável uma construção desse género.

Obrigado.

Maria Silva Estudante Portugal 1K

Antes de mais, parabéns pelo excelente trabalho desenvolvido!

Tenho uma questão... no excerto:

«Portugal tem dois vizinhos: o oceano Atlântico e a Espanha. Um deles foi visto durante muito tempo como uma opção arriscada, traidora e perigosa, o outro era líquido.»

Numa questão apresentada em aula, considerou-se que, ao recorrer a "um deles" e a "o outro", se punha em evidência a coesão interfrásica.

Esta análise é a correta? Se sim, por que razão?

Muito obrigada pela atenção dispensada!

Ines Dutra Prof universitário Portugal 1K

Dicionário Priberam define antecipar como «pensar com antecipação que algo vai acontecer. = ANTEVER, PREVER». E este significado já existe há muitos anos.

Vamos contrariar o dicionário?

Hiyashi Osamu Estudante São Paulo, Brasil 2K

Tenho uma questão quanto à qual a gramática tradicional é um tanto quanto esquiva, então gostaria de seus pareceres.

Se trata de campo semântico de adjetivos em sintagmas nominais com mais de um substantivo.

Considerando-se que a GT [gramática tradicional] diz que um único adjetivo caracteriza mais de um substantivo (pelo menos enquanto o sentido do adjetivo os cobrir) e que isso ocorre conforme a disposição de termos no sintagma — inclusive em todos os casos de concordância atrativa — (o que é minha maior dúvida se de fato o é), me interesso em saber como contornar interpretações equívocas nestes casos, mormente casos em que a concordância atrativa é obrigatória, por ex., quando adjetivo(s) anteposto(s) (funcionando de adjunto adnominal) aos nomes:

«Comprei manuais e gramáticas velhos/velhas.»

(penso que caracterize ambos independentemente da ausência de determinantes e da concordância estabelecida, tanto é que se objetivasse a caracterização de somente um nome contornaria assim:

«Comprei manuais velhos e gramáticas.» / «Comprei gramáticas velhas e manuais.»

Nestes casos, a concordância se faz obrigatoriamente com o mais próximo, pois logicamente só há o mais próximo para concordar. Por conseguinte, quanto a isso também gostaria de saber que acham.)

«Comprei velhos manuais e gramáticas.»

(nota-se que o sentido do enunciado, provocado pelo deslocamento do adjetivo, mudou.

Aqui começa a complicar em meu entender, pois o adjetivo pode, conforme sua carga semântica, caracterizar ambos. E fico em dúvida se efetivamente ocorre, a ausência de determinantes teria alguma implicação diferente na interpretação? Suponho que não...

«Comprei os manuais e as velhas gramáticas.»

(Por mais que a concordância seja atrativa, não por intuição possibilidade de caracterização semântica de ambos.)

Para não ir à exaustão com exemplos, para com casos de adjuntos adnominais, paro por aqui.

Ao predicativo do objeto agora:

Minha questão com este é mais sobre como contornar a interpretação de que ambos os substantivos são modificados. Para tal recorrendo a pontuação, penso conseguir fazê-lo. No entanto, como estou estudando pontuação ainda (sou um exímio "pontuador"); não sei se satisfaço plenamente a questão, portanto a vocês recorro.

«Comprei velhas as gramáticas; e os manuais» (não necessariamente velhos).

(E as gramáticas enquanto velhas, não necessariamente estão velhas no momento da enunciação.)

Aguardo suas reflexões ansiosamente. Obrigado pela atenção.

Alice Costa Do lar Rio de Janeiro , Brasil 1K

É correto escrever: «Ela desabafou sobre suas mágoas»?

Daniela Costa Tradutora Los Angeles, EUA 3K

Na frase «Era isso o que estava a manter o pensamento no lugar», é um erro o uso do artigo definido o antes de que? Se sim, qual é a regra que fundamenta isso?

Obrigada.

Alberto Rodrigues Designer gráfico Trofa, Portugal 1K

Tenho vindo a notar que em muitas embalagens e placas informativas, principalmente no ramo da alimentação, têm vindo a usar muito o singular das palavras, como por exemplo: «tarte de noz.». Esta seria talvez, confecionada com mais do que apenas uma noz.

Qual seria o mais correto: «tarte de noz» ou tarte de nozes» ou «tarte com aroma a noz»? Porque temos uma outra situação relacionada com os sabores e aromas.

Normalmente dizemos: «bolo de laranja», «bolo de maçã», «bolo de banana», e por aí além, mas existe alguma regra no que diz respeito às quantidades, para definir se o nome é no singular ou no plural?

Obrigado.