DÚVIDAS

Tempos compostos (português) vs. verbos compostos (inglês)
Existe em português, do ponto de vista gramatical, a designação «verbo composto»? Na língua inglesa, chama-se compound verb ou complex predicate ao verbo que consiste em pelo menos duas palavras ou por uma palavra composta (combinação de dois nomes). Este tipo de verbos divide-se geralmente em quatro grupos: (1) «prepositional verbs» [verbos preposicionados (?)] – verbo + preposição (os dois elementos não são geralmente passíveis de separação); (2) «phrasal verbs» [verbos sintagmáticos (?)] – verbo + partícula (preposição ou advérbio, ou ambos, sendo os dois elementos passíveis de separação); (3) «verbs with auxiliaries» [verbos com auxiliares (ser ou estar)] – ser/estar + verbo; (4) «compound single-word verbs» [verbos constituídos por uma palavra composta (podendo esta estar separada por um hífen) – Ex. «daydream» (fantasiar) ou «sight-read» (ler de improviso). Grato pela atenção.
Trem e comboio (história das palavras)
Há pouco tempo li alguns excertos do Regulamento para a policia e exploração dos caminhos de ferro... (Lisboa, 1868). Aqui é utilizada a palavra trem e existe o chefe de trem. Mas no mesmo manual, que estava distribuído a todos os trabalhadores ferroviários, também aparece a palavra comboio, aparentemente com um significado ligeiramente diferente. Portanto houve um período em que se utilizou em Portugal a palavra trem. Por exemplo, aparecem os dois termos nesta frase: «Na testa do trem, e a seguir ao tender, irão tantos wagons que não transportem passageiros quantas as locomotivas que rebocarem o comboio […]; as carruagens e wagons que entrarem na composição de um trem de passageiros serão ligados de maneira que as almofadas de choque estejam em contacto.» Como estudiosos da língua portuguesa saberiam indicar a diferença(s) que neste período era atribuída à definição de trem e comboio em Portugal? Obrigado.
O uso de nomeadamente: «Fátima recebe, nomeadamente...»
Li atentamente todas as respostas que deram sobre o uso de nomeadamente. A dúvida recai no elemento precedente. Observem-se as seguintes frases: a) Fátima recebe católicos, nomeadamente, europeus, latinos e asiáticos. b) Fátima recebe, nomeadamente, europeus, latinos e asiáticos. A frase b) estaria correta? Para mim falta-lhe um nome que seja especificado / esclarecido posteriormente pelo nomeadamente. Nesta frase poderia ser «católicos» ou «várias pessoas. O que o nomeadamente faz é especificar, dar exemplos, desses católicos ou dessas pessoas. Porém, se não há referência na frase aos mesmos, esta estaria correta? Bem hajam pelo vosso excelente trabalho!
Fenómenos de reanálise
Qual é a palavra dentro da língua portuguesa que representa o termo inglês eggcorn? Parece que às vezes eles usam a palavra oronyms no lugar, mas oronyms em português é outra coisa. Um exemplo deles para explicar esse fenômeno: ex. 1: It seemed to happen all over sudden. (errado) ex. 2: It seemed to happen all of a sudden. (correto) [= «parece ter acontecido de repente»] Um da nossa língua: ex. 1: «Batatinha quando nasce esparrama pelo chão.» (errado) ex. 2: «Batatinha quando nasce espalha a rama pelo chão.» (correto)
O regionalismo excramelgado (Algarve)
Não encontro o significado de excramelgado. Nos dicionários em linha Infopédia e Priberam, assim como no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, no Grande Dicionário de Cândido Figueiredo, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e no Novo Aurélio Século XXI, não consta o termo em questão, e inacreditavelmente digitei a palavra excramelgado no Google, e a resposta foi termo desconhecido. A seguir segue passo abonatório contendo a palavra em causa, na obra de José Dias Sancho, Deus Pan: «Lavrador farto (só pra lavoira três parelhas), o excramelgado ajuntara uns vinténs com a corcha do Alentejo e, metendo em conta umas courelas que a mulher herdou para as bandas da Barracha, bem se podia garantir que era a sua uma das casas, mais aquelas da freguesia. O Manuel Tomé! Valha-o Deus… Não conheci eu outra coisa! Bastas vezes tive jeito de lhe falar e sempre com prazer lhe apertei a mão calosa dos amanhos.» “Manuel Tomé”, in Deus Pan e Outros Contos, p. 49. Muito obrigado.
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