A dúvida que se segue refere-se ao Acordo Ortográfico. Concordo em certas partes com o mesmo e discordo noutras. Contudo, há um certo aspecto que me tem vindo a incomodar.
Compreendo, e até concordo, que se façam mudanças que aproximam a escrita da oralidade, como em «acto», que passa a «ato», ou «actual», que passa a «atual». Compreendo também, embora discorde, que se afaste a escrita da oralidade em casos muito consagrados pelo uso, nomeadamente a desaparição do trema. Contudo, não consigo compreender mudanças que afastam a oralidade da escrita quando não são consagradas pelo uso. Parecem-me mudanças negativas.
Por exemplo, a palavra heroico (sem acento ortográfico no «o») não teria a pronúncia esperada de /eˈrojku/ em vez de /eˈrɔj.ku/? Idem para jibóia, bóia, et cætera. Não seria expectável, visto que as duplas grafias pululam no novo Acordo (e muito bem, do meu ponto de vista), que se mantivesse a saudável e indolor dupla grafia também nestes casos? Ou haverá, porventura, alguma regra que permita distinguir quando se pronuncia a vogal na sua versão aberta e quando se pronuncia na sua versão fechada?
(O que me traz, como aparte, uma nova dúvida: qual é a pronúncia expectável das vogais ‹o, e› quando tónicas, não acentuadas e regulares? Será /o,e/ ou /ɔ, ɛ/? Ou será a diferença puramente aleatória?)
Outro ponto em que o Acordo Ortográfico falha, aparentemente, em melhorar a aproximação entre a oralidade e a ortografia, dá-se na questão da tão comentada supressão das consoantes mudas. Ora, aplaudo-a quando se dá em palavras como acto e actual, em que se trata, de facto, de uma redundância totalmente desnecessária. Mas e quanto a casos como acção, accionar, correcta e vector? Não se tratará a consoante muda, aqui, de algo mais que uma superficialidade descartável, para passar a ser uma necessidade à pronúncia correcta das palavras? Pois se pronunciamos /aˈsɐ~w~/ no lugar de /ɐˈsɐ~w~/, /asiuˈnar/ em vez de /ɐsiuˈnar/, /kuˈRɛtɐ/ por oposição a /kuˈRetä/ e /vɛˈtor/ em vez de /vɨˈtor/! Estaremos perante mais um caso em que o Acordo Ortográfico, no lugar de aproximar a ortografia da oralidade, as afasta, ou haverá algures uma regra ortográfica que permita, através da grafia, prever que a vogal é aberta naquelas posições específicas?
Sem mais, agradeço antecipadamente a resposta.
Embora já tenha lido as vossas respostas a esta questão, fiquei ainda com dúvidas.
Por que razão não se acentua a 2.ª pessoa do plural no futuro? Se escrevemos anéis, fiéis e papéis, não deveríamos escrever seréis?
Qual é a diferença nos ditongos? Parecem-me iguais...
Gostaria de saber como fazer a divisão silábica e a translineação da palavra colmeia. Esta junção de três vogais é chamada de tritongo, ou se passa com palavras como quais, quão?
Obrigada.
Discuto com os meus colegas se a palavra mitocôndria se diz «mitocôndria» ou «mitócôndria». Parece-me que a segunda forma está incorrecta: desde logo, porque tornaria tónica a "anteantepenúltima" sílaba, ou por fazer com que a palavra passasse a ser "biacentuada" (que, tanto quanto sei, não está previsto na língua portuguesa, salvo raras excepções). Podem ajudar-me?
Muitíssimo obrigado!
Gostava de saber se existe uma pronúncia-padrão para o grupo consonântico "sc" (como crescer, nascer). Eu achava que era preciso pronunciar -ss- em todo o caso, mas acho que tenho ouvido ultimamente uma pronúncia /sh/, como em italiano (então, "nacher", "crecher"). Poderiam falar-me um bocado neste "sc", na sua etimologia e na sua pronúncia?
Além disso, acho que também tenho ouvido dizer "cinza" como "chinza". Isto é dialectal, padrão ou apenas uma alucinação minha?
Muito obrigado.
Diz-se «Chega de bois», ou «Achega de bois»? Qual a expressão que é mais correcto usar?
Qual a pronúncia correta da palavra Praxedes?
Seria "prakcedes", ou "prachedes"?
Como podemos definir ditongo nasal átono?
Lendo trabalhos escolares da escola onde hoje leciono, deparei com um texto redigido por aluno e corrigido por um professor.
Texto do aluno: «Que motivos tenho eu para ESTAR falando sobre isso?»
Correção do professor: «Que motivos tenho eu para ESTÁ falando sobre isso?»
Sempre escrevi como o aluno escreveu. No meu raciocínio, se a locução equivale a falar, que está no infinitivo, o verbo auxiliar deve seguir a lógica desse verbo, atendendo ao seu tempo e ao seu modo. Assim aprendi. No caso, o infinitivo estaria flexionado na 1.ª pessoa do singular e, por isso, não apresenta desinência número-pessoal, o que dá a ele a aparência de um infinitivo não flexionado.
Questionado o professor, fui procurada por ele, que me afirmou o seguinte: «Trata-se de uma locução verbal, que equivale a "falar". Você deve estranhar o fato de a primeira pessoa do singular estar aqui, mas, como eu não poderia dizer "quem sou eu para ESTOU aqui", flexiono o verbo na terceira pessoa do singular, uma vez que o verbo auxiliar TEM DE ESTAR flexionado.»
Afinal, estou equivocada ao afirmar que o verbo estar, na frase «quem sou eu para ESTAR falando sobre isso» está, sim, flexionado? Ao que me consta, ele está na 1.ª pessoa do singular no modo infinitivo (no caso, pessoal e flexionado).
Por favor, gostaria de dirimir essa questão.
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