De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, a pronúncia-padrão europeia da sequência gráfica -sc- é constituída por dois sons da língua, ou seja, pelo que é representado por x em baixo ou ch em chave e pelo que está associado ao s de sala ou ao c de cinto, respectivamente. Usando símbolos fonéticos, -sc- transcreve-se [ʃs]. Por conseguinte, nascer e crescer pronunciam-se, respectivamente, na[ʃs]er e cre[ʃs]er. No entanto, muitos falantes de Portugal pronunciam [ʃs] penas como um som, [ʃ], pelo que os referidos exemplos soam como na[ʃ]er e cre[ʃ]er. Note-se que, no Interior Centro e Norte de Portugal, se mantém a variante mais conservadora (não em relação ao latim, mas em relação ao galego-português), que corresponde a [s]: na[s]er e cre[s]er.
Quanto a cinza, não tenho a certeza do que o consulente pretende descrever. Pode muito bem estar a referir-se ao [s] apical que caracteriza a pronúnca de muitos falantes do Interior Centro e Norte de Portugal: trata-se do som [s] que ocorre em saber ou casa, no galego normativo ou do castelhano, e associadoà letra s, em princípio e fim de palavra (saca e pasto), à letra c, antes de e e i (cedo, cinto), e a ç (paço). Como, para os falantes portugueses do Litoral e do Sul, esta pronúncia soa como o ch de chave e ao x de baixo, é possível que cinza com s apical pareça "chinza" ou mesmo "chinja", uma vez que, nos dialectos centro-setentrionais, o [z] é também apical, acusticamente próximo do j de janela.
Mas o mais provável é que o consulente ouça "chinza" por causa do contexto em que a palavra é usada no português-padrão. Se disser «faz cinza» ou «as cinzas», encontra exactamente a sequência atrás mencionada, [ʃs]:«fa[ʃs]inza» e «a[ʃs]inzas». Em expressões como esta, na fronteira entre palavras diferentes, observam-se os mesmos fenómenos que em palavras simples que incluam a sequência -sc-, e ouve-se muitas vezes «fa"ch"inza» e «a"ch"inzas» («fa[ʃ]inza» e «a[ʃ]inzas»). Claro está, na zona dialectal mais "conservadora" do Interior, tais sintagmas soam como segue: «fa"ss"inza» e «a"ss"inzas» («fa[s]inza» e «a[s]inzas»).