Controvérsias - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Polémicas em torno de questões linguísticas.

A utilização do inglês não deve ser proibida, mas também não deve ser imposta

Uma das vozes mais prestigiadas do mundo universitário e da vida cívica do país — o prof. Jorge Miranda — veio criticar nestas páginas, em termos veementes, a proposta de utilização da língua inglesa em cursos leccionados em universidades portuguesas. É esse escrito que está na origem das singelas notas que se seguem — onde, esclareço...

Parece piada, mas o assunto é sério. Há dois meses, o governador José Roberto Arruda (DF) fez publicar no Diário Oficial do Distrito Federal decreto em quem "demite" o gerúndio dos órgãos do governo da unidade federativa que administra. Especifica, no artigo 2.º do decreto número 28 314 de 28 de setembro de 2007, que «fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de ineficiência».

Afinal, quando um rei fala e se indigna ainda causa ondas de reacção em boas repúblicas: primeiro, as notícias, depois as opiniões de rua, pelo meio as piadas (Faça já de «Por qué no te callas?» o toque do seu telemóvel!), a seguir os debates. Foi por ter assistido ao programa Pós e Contras da RTP que o nosso leitor Segismundo de Bragança se lembrou de perguntar: é «Porque não te calas?», ou «Por que não te calas?»?

Desde 28 de Setembro e até ao final do ano, está disponível para «discussão pública» uma versão revista da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (adiante, TLEBS-2). Não reconhecendo credibilidade científica nem deontológica a todo o processo, da elaboração inicial à revisão, não participarei formalmente na dita discussão. Não frustrarei, todavia, quantos esperam que tome posição.

A mais recente revisão da Terminologia Linguística do Ensino Básico e Secundário (TLEBS) elimina quase metade das inovações propostas em 2004 e que foram, entretanto, ensinadas a alunos do ensino básico a título de "experiência pedagógica", como decidiu então o Governo.

«Não é o gerúndio que provoca o adiamento de um processo, a procrastinação de um serviço público ou a falta de atendimento médico», escreve o linguista brasileiro José Augusto Carvalho, em artigo publicado no jornal “Gazeta”, contestando, a proibição, por decreto do governador de  Brasília, do uso do gerúndio no funcionalismo público da cidade. Com este argumento:

Este é um caso típico e pouco exemplar de como Portugal lida com os contratos que faz e os compromissos que assume, mesmo quando eles tomam a forma de leis, na ordem interna, ou de acordos, entre países. Quem ande pelos 35 anos e todos aqueles que já por lá passaram ainda hão-de lembrar-se de um debate longo e assanhado que atacou jornais e académicos acerca do acordo para a uniformização da ortografia da Língua Portuguesa nos países onde ela é falada. Pois bem, o polémico pergunta.php?id=166...

A expressão "acordo ortográfico" provoca-me um cansaço fulminante. Quando alguma coisa me decepciona muito, adormeço. Num minuto, esteja onde estiver, o que espanta os próximos, que me conhecem como insone militante. Um psicanalista explicou-me que se trata de uma reacção saudável do inconsciente. Útil, pelo menos, tem sido. Mas nesta questão da ortografia, sempre que abro os olhos, vejo mais uma figura da cultura portuguesa bradando contra "o colonialismo dos ex-colonizados". Urrando contra ...

Os dicionários virtuais podem agilizar a criação de referências para a reforma ortográfica, que ainda está sem data para entrar em vigor. Isso porque as alternativas "on-line" e os corretores digitais dispensam a etapa da impressão e, assim, podem exibir antes dos dicionários tradicionais a actualização das palavras alteradas.

Encaro com grande ceticismo esse acordo ortográfico. É uma reforma tímida, que não traz grandes inovações. Mas não gostei. Queria que meus tremas ficassem onde estão. Os escritores mais velhos e mais preguiçosos têm de confiar no pessoal da editoração para fazer as mudanças necessárias no texto.

 

Absurdo*