DÚVIDAS

A preposição por e os pronomes átonos em orações de infinitivo
Confesso que fiquei confuso com a correção que foi feita ao teste de Português da minha filha, nomeadamente na parte a que antigamente chamávamos "redação". Numa situação fiquei dúvidas. A minha filha relatava uma viagem que fez à Disney com a irmã e contava que logo à chegada a Paris tiveram uma pequeno problema porque não sabiam qual era o autocarro. Depois de explicar, a dada altura escreveu: "(...) acabámos por encontrar". Ora o corretor acrescentou um "o", ficando: "(...) acabámos por o encontrar". Está correto? Não seria "por encontrá-lo". "Por o encontrar" não soa bem. Grato!
Emprego da maiúscula inicial na designação de cargos
Agradeço, desde já, o trabalho que desenvolvem ao longo de tantos anos. Solicito um esclarecimento relativamente ao emprego da maiúscula inicial na designação de cargos, como diretor do agrupamento, coordenador de departamento ou subdiretor, bem como de órgãos/serviços, como conselho pedagógico, conselho geral, serviço de psicologia e orientação, entre outros, em contexto escolar — nomeadamente em documentos de referência, como o Regulamento Interno (RI), o Plano Anual de Atividades (PAA) e o Projeto Educativo do Agrupamento. Obrigado.
«De modo que» e «de forma que»
Num trabalho para a faculdade, corrigiram-me quando usei a expressão «de modo» para «de forma». Isto deixou-me incomodado, e na altura várias pessoas disseram-me que a correção não fazia sentido, pois podem ser usadas para o mesmo objetivo. Até que uma me disse que a expressão «de forma» é mais correta «do ponto de vista académico». No entanto, também já vi na Internet pessoas a dizerem o oposto, que «de modo» até é mais formal. Então decidi vir aqui perguntar: as expressões «de modo» e «de forma» são usadas como sinónimos? Se sim, há alguma mais correta/formal do que outra? Obrigado a quem tiver tempo de responder a esta questão, que é motivo de debate no meu grupo de amigos.
Anáfora e paralelismo no "Sermão de Santo António aos Peixes"
 No contexto da análise do "Sermão de Santo António", surgiu uma dúvida, pelo que agradecia a vossa preciosa ajuda e esclarecimento. No segmento «Quantos correndo Fortuna na Nau Soberba com as velas inchadas do vento, e da mesma soberba (que também é vento) se iam desfazer nos baixos, que já rebentavam por proa, se a língua de António como Rémora não tivesse mão no leme, até que as velas se amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestade de fora, e a de dentro? Quantos embarcados na Nau Vingança ..., até que composta a ira ...», a anáfora está presente, de forma evidente, em «Quantos». A dúvida remete para o facto de também poder ser considerada no segmento «até que». Ou será antes paralelismo sintático ou anafórico? Muito obrigada!
Oração reduzida de particípio
«Publicado em 1967, o livro causou transformações profundas na sociedade.» Sempre tive dúvidas em relação ao que significa, semântica e gramaticalmente, o termo «publicado em 1967». Seria um adjunto adnominal? Seria um predicativo do objeto? Seria uma espécie de oração subordinada adverbial temporal reduzida de particípio, ou, quem sabe, uma oração subordinada adjetiva restritiva? Eu ficaria imensamente feliz se pudessem sanar essa dúvida. Muito obrigada, e Deus abençoe!
O adjetivo obnóxio
Aquando da leitura de um livro, encontrei a palavra adular cujo significado será algo como «lisonjear servilmente». Foi na consulta da palavra servil que me deparei com o sinónimo obnóxio, uma palavra que nunca tinha ouvido/lido (pelo menos que me lembre). Já conhecia a palavra obnoxious da língua inglesa, a qual pelo que sei, tem um significado distinto, algo como, rude ou ofensivo. A minha dúvida, para que possa ficar completamente esclarecido quanto a esta palavra, é : Por um lado, qual/quais o(s) seu(s) significado(s)? E por outro, como se pronuncia devidamente? Agradeço imenso a atenção. 
Ainda Madagáscar vs. Madagascar
Recentemente, escrevi ao Ciberdúvidas acerca da resposta de 11.05.2021 à pergunta sobre a grafia e a pronúncia de Madagascar, em cuja versão original se lia que a Academia Brasileira de Letras (ABL) recomendava Madagáscar, forma prescrita em Portugal «desde há mais de um século». Informei que a edição atual do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da ABL recomenda apenas Madagascar. O Ciberdúvidas atualizou a informação em 11.11.2025, mas reiterou que, até 1999, a ABL indicava a forma paroxítona. É verdade, embora tal informação já estivesse desatualizada na data da resposta original, pois a ABL vinha recomendando exclusivamente Madagascar desde a 5.ª edição do VOLP, ou seja, desde 2009, pelo menos. Ademais, conjugada com a observação de que Ivo Xavier Fernandes e Francisco Rebelo Gonçalves condenavam a forma oxítona, essa ressalva pode levar o leitor à suposição equivocada de que, em Portugal, a pronúncia aguda era infrequente ou, pelo menos, inculta. Não era nem uma nem outra coisa. O próprio Gonçalves Viana, em cujo parecer de 1899 à seção de ensino da Sociedade de Geografia de Lisboa se encontra, pela primeira vez, a recomendação expressa da forma paroxítona, admitiu tacitamente que a pronúncia corrente era Madagascar, ao dizer "bem fôra que se restabelecesse a verdadeira accentuação portuguesa em outros nomes, como Madagáscar, evidente na medição do verso dos Lusíadas em que apparece o nome da maior ilha africana". Já Cândido de Figueiredo o admitiu expressamente, na obra Falar e escrever: novos estudos práticos da língua portuguesa, de 1906: «Geralmente, temos dito Madagascár, talvez levados pela regra de que são oxítonas ou agudas as palavras terminadas em ar. Mas parece estar demonstrado que a pronúncia exacta é Madagáscar.» José Barbosa Bettencourt, em Subsídios para Leitura dos Lusíadas, de 1904, anotou: «Madagáscar. O verso mostra que era esta a primitiva acentuação.» Se se ouvisse Madagascar a uns poucos ou apenas aos ignorantes, e Madagáscar à maioria ou aos cultos, por que falariam Gonçalves Viana em "restabelecer" a "verdadeira" acentuação portuguesa, Cândido de Figueiredo em "parecer" estar demonstrada a "pronúncia exacta", e Barbosa Bettencourt em "primitiva" acentuação? Há mais, porém. Na pergunta n.º 9 da p. 45 à seção de consultas da Revista de Portugal: Língua Portuguesa, Série A, Volume 3, de 1943, um leitor, quase meio século depois do parecer de Gonçalves Viana, manifestou o seu espanto com a "nova" pronúncia paroxítona: «Sempre ouvi dizer Madagascar, com o acento na última sílaba, a não ser na Itália, onde se diz Madagáscar: ultimamente, porém, voltando a Portugal, também ouvi o tal Madagáscar. Apoiam-no em Camões (Lus. X, 137), que afirma alguns dizerem Madagáscar. Mas ainda supondo que todos então dissessem assim, essa pronúncia, pelo uso e especialmente por influência do francês, não terá evolucionado para Madagascar? E note-se que foram precisamente os franceses que mais espalharam o conhecimento do nome dessa Ilha.» A resposta remete a Gonçalves Viana: «R. Legitimamente, parece não se ter dado tal evolução fonética. O nome antigo e português da ilha foi Madagáscar, e não Madagascar, para todos aqueles que lhe não chamavam ilha de S. Lourenço. Considerando aquele o legítimo profano, até firmado na acentuação do malgaxe local, os mestres modernos da Fonética, e à frente deles Gonçalves Viana, trataram de o reivindicar, quando a influência francesa ia já conseguindo deslocar-lhe o acento, passando o topónimo de grave a oxítono. Desta vez parece que com algum êxito, porque hoje, nos nossos estabelecimentos de instrução secundária, já não há professor de Geografia que não ensine Madagáscar, em vez de Madagascar, e ao contrário Gibraltar, em vez de Gibráltar.» Chama menos a atenção o evidente eufemismo em dizer que «ia já conseguindo deslocar-lhe o acento» (compare-se com o tom do testemunho coevo do próprio Gonçalves Viana) que o estranhamento da "nova" pronúncia por um português claramente culto. Nem mesmo o argumento da acentuação local se sustenta, pois, embora seja paroxítono, o nome do país, em malgaxe, é Madagasikara. Parece-me, por todo o exposto, mais exato dizer que a pronúncia grave atual, no português europeu, resultou de uma interferência culta tardia, e que a pronúncia aguda atual, no português brasileiro, dá continuidade àquela que era corrente antes dessa interferência.
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