Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Kauã Girão Estudante Fortaleza, Brasil 278

Existem palavras em português afetadas pelo fenômeno da «pronúncia ortográfica», no qual a pronúncia de uma palavra é alterada por influência da ortografia e passa a se adequar a ela?

Se sim, quais são elas?

Dan Pessoa Estudante São Paulo, Brasil 234

Meu comentário é acerca da palavra perafita.

Presumidamente, até 1990 se escrevia, em Portugal, “pera-fita”, e no Brasil “péra-fita” (para distinguir de pera, preposição, e pêra, fruta), segundo o Acordo Ortográfico de 1945 e o Formulário Ortográfico de 1943. Porém, hoje em dia, não tenho certeza de como se escreve: os dicionários que consultei – o Aulete, a Infopédia, o Priberam e o dicionário da Academia de Ciências de Lisboa registram unanimente perafita, sendo que o verbete não consta nos dicionários Michaelis e Houaiss. O Vocabulário Ortográfico do Português não difere.

Agora – e surge daí uma confusão – no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras aparece apenas a grafia hifenada pera-fita.

Então, às perguntas: essa palavra perdeu, ou não, o hífen desde 1943? Como? E seria por analogia com “pára”, “pêra”, etc. que o VOLP optou por eliminar o acento na grafia sem hífen? Infelizmente não tenho como acessar vocabulários ortográficos de outros períodos (além do atual e do de 1911) para descobrir mais.

Reconheço que essa pergunta é mais uma tese do que uma pergunta, então sou receptivo a quaisquer comentários, mesmo que não sejam bem respostas.

Obrigado.

Mónica Gonçalves Estudante Tavira, Portugal 357

Na frase «Frequentemente, dedicamos uma aula à leitura de poesia», a forma verbal tem valor iterativo ou habitual? Porquê?

Obrigada.

Vadym Blankov Gerente de escritório Vinítsia, Ucrânia 204

Conhece a etimologia de dois topónimos do concelho de Paços de Ferreira: "Cacães", da freguesia de Eiriz, e "Cô" da freguesia de Penamaior?

É especialmente problemático encontrar qualquer coisa sobre o segundo topónimo. 

Ficarei muito feliz por receber a sua ajuda.

Julian Alves Estudante Nápoles, Itália 204

Eu gostaria de tocar mais uma vez num assunto que já foi tratado cá no Ciberdúvidas, porém as respostas ainda não me satisfizeram. No dia 8 de outubro de 2024, quanto à minha pergunta em torno da frase “Bons olhos o vejam” e quanto à sua colocação pronominal enclítica, vós me respondestes o seguinte:

«Quanto à colocação do clítico, a próclise (colocação antes do verbo) ocorre porque a frase é optativa/exclamativa. Quando a frase inclui uma palavra exclamativa ou a própria frase tem uma natureza exclamativa, esses fatores geram próclise.»

De tal resposta se conclui que não seria possível construções como essas: «Vejam-no bons olhos» e «Bons olhos vejam-no».

Entretanto, recentemente, ao tratar do uso do infinitivo pessoal no seu Dicionário de Questões Vernáculas, Napoleão Mendes de Almeida traz a seguinte frase: «Perdoe-te o céu o haveres-me enganado», isso que me fez questionar se há realmente possibilidade de usar a ênclise em orações subjuntivas independentes sem a conjunção que, quando o verbo é o vocábulo que inicia a oração, como a frase : «Perdoe-te o céu o haveres-me enganado.»

O que vós dizeis sobre isso?

Desde já, muito obrigado.

Raquel Pires Tradutora Lisboa, Portugal 132

Em alguns dicionários, o verbo ticar nem se encontra dicionarizado. Noutros aparece como português do Brasil. Mas hoje em dia ouvimos muito o uso desse verbo para assinalar uma caixa, por exemplo.

É correto usar em Portugal? Ou é um brasileirismo? Ou até um anglicismo?

Diogo Maria Pessoa Jorge Morais Barbosa Estudante Lisboa, Portugal 275

Dizemos «Essas atitudes raiam o excesso» ou «Essas atitudes raiam ao excesso»?

Obrigado.

Luís Jervell Administrador de empresas Porto, Portugal 269

Posso traduzir transgenderism (inglês) para "transgenderismo"?

Mário Fernando Marques de Oliveira Economista (ex-administrador de empresas) Reformado Coimbra, Portugal 174

Outrora, designava-se de aposentação a situação de um funcionário que descontava para a Caixa Geral de Aposentações e que por ter completado a idade regularmente fixada, por doença ou por incapacidade física era dispensado do serviço (os designados funcionários públicos) e por reforma a situação dos trabalhadores que descontavam para a Segurança Social e que pelas razões aduzidas a propósito da aposentação eram dispensados do serviço (os designados trabalhadores do sector privado). O português sendo uma língua viva vai-se modificando, e, hoje, aposentação e reforma tornaram-se praticamente sinónimos o que levou a que muita gente desconheça o que as distinguia.

Há, porém, uma outra situação que é a jubilação, a que só duas classes profissionais podem aceder: os professores universitários e os magistrados. Não consegui, até hoje, apesar das buscas efectuadas, perceber quais as especificidades que a caracterizam. Sei que há diferenças materiais, pois há diversos acórdãos judiciais a pronunciarem-se sobre o assunto, em resultado de acções interpostas por quem se sentiu lesado, materialmente. Haverá, espero, algum dicionário que precise em que consiste, e o que a diferencia da aposentação e da reforma.

Não sei se no domínio da etimologia o Ciberdúvidas centra toda a sua busca, exclusivamente, na consulta dos dicionários ou se, quando necessário, «desce ao terreno» e vai, no caso, junto dos professores universitários e dos magistrados perscrutá-los.

Vicente de Paula da Silva Martins Professor Sobral, Brasil 298

Tenho particular interesse como consulente do léxico do português brasileiro em saber as origens das palavras.

Na edição eletrônica do Dicionário Houaiss (2025), observo diversas expressões empregadas para caracterizar a etimologia incerta de determinados vocábulos, tais como:

a) orig. contrv. (origem controversa) (ex.: balaio);

b) orig. desc. (origem desconhecida) (ex.: chasqueiro);

c) orig. duv. (origem duvidosa) (ex.: catano);

d) orig. obsc. (origem obscura) (ex.: léria);

e) orig. inc. (origem incerta) (ex.: chapa).

Diante desses critérios lexicográficos estabelecidos pelo Dicionário de Houaiss, em que medida eles se mostram irrefutáveis para a classificação de palavras cuja etimologia permanece imprecisa ou indefinida? Quais são os principais desafios e abordagens metodológicas para atribuir essas categorias, considerando a evolução das línguas e as fontes históricas disponíveis?