DÚVIDAS

A simplificação da Língua Portuguesa
Sabemos que a linguagem surgiu pela necessidade de uma codificação escrita de mensagens, ainda que, nossos escritores e eruditos, vejam nela algo mais profundo e sublime do que esta modesta função. Se vejo a linguagem como uma forma prática de comunicação entre universos diferentes, por que ela guarda dentro de si tantos fatores complicadores ao seu aprendizados na forma de mistérios, dogmas e regras, zelosamente cultivados pelos que dela têm o domínio? Não seria desejável e necessária uma simplificação da interpretação dos códigos para que todos, até mesmo os menos dotados, pudessem melhor se comunicar? Por que a Língua Portuguesa tem tantas regras incoerentes de acentuação? Por que ora o "G" ou o "C" são fonados de forma diversa se estão seguidos de "e" ou "i"? Por que o "Ç" existe para servir apenas a 3 vogais, se há outros símbolos que produzem o mesmo efeito? Por que o ditongo decrescente ou o tritongo? Muitas línguas não têm nada disso e, nem por isso, deixam de bem cumprirem sua finalidade… Em resumo, por que a Língua Portuguesa tem que ser, desnecessariamente, complicada, se é viável uma simplificação objetiva, que não lhe castre a alma?
Quimbundo no Português
Como estudante, foi-me proposto realizar um trabalho em que relate quais as influências da Língua Kimbundu, oriunda de Angola, no Português. Normalmente a influência é inversa, com a língua do país colonizador a introduzir-se na língua nativa. O processo inverso também ocorre no entanto. A minha pergunta é por isso: Qual a influência do Kimbundu sobre o Português? Quais as palavras ou termos comuns mais usados?
O som do r, outra vez
Em reposta à pergunta do dia 11 de Abril de 2000, respondida por o senhor F. V. Peixoto da Fonseca, devo reparar: O r brasileiro em palavra tarde pode ser: Pronunciado como r inicial ou r duplo, ou seja, mais ou menos como o h inglês e j castelhano. Assim o pronunciam no Rio de Janeiro, em Espírito Santo, em zona vasta de Minas, em Distrito Federal, em região Nordeste do país, bem como em região do Norte do Brasil. Dá para calcularmos, então, que mais de cinqüenta por cento dos brasileiros têm esta pronúncia. O povo chama esta espécie do r de "r puxado". Muitas vezes este r não se pronuncia e anulam-se as diferenças como, por exemplo, a entre consegui e conseguir. Outro jeito brasileiro de pronunciar a palavra tarde é com o r pronunciado como o entre vogais. Assim pronunciam os portugueses. Quanto aos brasileiros, apenas os paulistas e os sulistas usam este jeito de pronunciar. Esta espécie do r é conhecida pelo povo brasileiro como "r arrastado". Dá para calcularmos que menos de 50 % dos brasileiros têm esta pronúncia. O senhor escreveu a Annne Oliveira, brasileira de Manaus: "Proferi-lo como o j espanhol é pouco ou nada aconselhável, e talvez seja por viver no México que o faz soar assim." A Anne não usa o r puxado por viver no México mas por ser de Manaus. Lá, como em quase todo o Brasil, falam assim. O r arrastado de São Paulo e Sul do Brasil não foi substituído por r mais novo, o puxado, por causa da forte influência da língua italiana nestas terras. Eu acho que o Brasil deve ter sua pronúncia (ou pronúncias), e que não são os portugueses os que possam achá-la errada ou correta. Aposto que para vocês, portugueses, a pronúncia de s e z como /s, z/ em vez de /ch, j/ , freqüentíssima no Brasil, também é errada. Voltando ao assunto de usar o r puxado em palavras como falar, tarde, verde.... Bertil Malmberg na sua obra 'La phonétique' (1954) diz que essa troca de r anterior por r posterior ocorreu, ou ainda está ocorrendo em muitas línguas da Europa: em francês, alemão, dinamarquês, em dialetos italianos (o de Torino), em dialetos castelhanos (uns dialetos na América) e num dialeto inglês. Espero que a Anne ficará satisfeita e que o senhor professor procurará umas palavras como tarde, verde, sorte, ver, no melhor dicionário inglês-português brasileiro (o da Collins). O dicionário regista a pronúncia carioca da cada palavra. Por exemplo, pode encontrar-se: /suxpriende(x)/ para surpreender e não /surpriender/. Todos os brasileiros acham a pronúncia carioca a mais correta. Pois então, o r da Anne está certo. Obrigado.
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