Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Jorge Ferreira Silva Portugal 34K
«Até às 10 horas»; «até dia 15»...
A questão, por mais básica que seja, é a seguinte:
Quando utilizamos a palavra "até", devemos considerar que estamos a falar inclusive ou exclusivamente?
Pessoalmente, acho que devemos falar exclusivamente, no entanto, já me questionaram se não devia de ser inclusivamente.
Em última análise, após a frase, podemos sempre colocar "inc. ou exc.", mas não me parece que seja o mais correcto.
John Costa Portugal 47K
A expressão «ainda que» é sempre seguida por um verbo no conjuntivo ou será que depende da situação?
Carina Seixas Secretária Brasil 6K

«O êxito da revolução da França deu novo estímulo aos revolucionários de outros países, onde não surtirá efeito.» Como pode ser justificada a concordância do passado com o futuro nessa frase?

Francisco Frederico Jornalista Lisboa, Portugal 18K

Careca e calvo significam exactamente o mesmo?

Sofia Salgado Professora do Ensino Secundário Portugal 26K

Sou professora de Língua Portuguesa, e admito que a distinção entre o que é um nome abstracto ou concreto está rodeada de alguma indefinição.
Em determinadas gramáticas, música é um substantivo abstracto, noutras já é concreto. Qual é a vossa opinião?
Outras palavras que levantam dissidência são: hora, século, ano.
Gostaria que me fornecessem algumas indicações. Antecipadamente grata.

Pedro F. Múrias Portugal 14K

Nas várias respostas em que o Ciberdúvidas se ocupou com a opção entre «vende-se» e «vendem-se» («bolotas», p. ex.), não encontrei qualquer tentativa de justificar uma ou outra opção, nem, pelo menos, de explicar por que motivo os gramáticos mais antigos ou mais conservadores criticavam tão veementemente o uso do verbo no singular. O Ciberdúvidas limita-se a registar as duas ocorrências, esclarecendo que a forma com o verbo no singular corresponde a uma interpretação do «se» como sujeito indefinido e que a forma com o verbo no plural decorre da interpretação do «se» como partícula apassivante. Ora, julgo que os leitores pretendiam mais do que isso. Pretendiam saber qual das duas formas é mais vernácula, qual delas obedece melhor ao ideal - sem dúvida, muitíssimo discutível, para não dizer mais - do «português correcto». Não sugiro que os colaboradores do Ciberdúvidas adiram a uma concepção normativa da gramática, não sugiro sequer que se adopte o conceito de «português correcto», mas, neste como noutros temas que têm aparecido, só é possível responder às perguntas feitas se houver uma intenção (ainda que limitada) de procura desse vernáculo.

Na opção entre o «se» apassivante e o «se» sujeito indefinido, caberia, pois, ponderar a origem desta palavrinha e a sua inserção no conjunto dos pronomes, a que originariamente pertencia. Este «se» era, em latim, um pronome, e assim começou por ser em português. Um pronome com duas características relevantes: reflexo e, também por isso, oblíquo. Assim, o «se», à partida, nunca desempenharia a função de sujeito (para isso temos os pronomes rectos). E ainda menos poderia ser um pronome indefinido, visto que os pronomes reflexos têm o mesmo referente que o sujeito da oração. O uso do «se», nestes casos, surgiu necessariamente como alternativa à voz passiva: na verdade, os pronomes reflexos e a voz passiva têm em comum fazerem a acção recair sobre o sujeito. Portanto, numa construção vernácula, o «se» é, com certeza, uma partícula apassivante.

Hoje é claro, porém, que o «se» tem muitas vezes o valor de pronome indefinido. Como a forma vernácula era um modo cómodo de omitir a indicação do agente, ter-se-á estendido a verbos que não a permitiriam, os verbos intransitivos (e, portanto, sem voz passiva). Daí, já com a natureza de pronome indefinido, veio «contaminar» os verbos transitivos, de maneira que, nos nossos dias, tanto se admite a forma «vendem-se bolotas», quanto a forma «vende-se bolotas». A primeira, ainda assim, tem melhores pergaminhos....

Ou estarei demasiado longe da razão?

Manuel Correia Bruxelas, Bélgica 9K
Com o devido respeito, as minhas dúvidas não ficaram dissipadas.
Isto porque se "justificou" pela negativa o emprego do verbo “ver", sonegando o comentário ao pertinente argumento de Rui Prior para o emprego do verbo "haver" no sentido de "receber".
Acresce que "haver" significa, em primeira linha, "ter", para além de múltiplos outros sinónimos.
Acontece que a expressão «isto nada tem a (ha)ver com aquilo» é sempre algo redundante, já que é um mero reforço da afirmação «isto nada tem com aquilo», não merecendo dúvidas, neste último caso, o emprego do ver "ter".
Ora na frase «isto nada tem a ter com aquilo», o verbo "ter" é utilizado exactamente no mesmo sentido as duas vezes, só que a frase soaria demasiado mal para ser utilizada. Ouso admitir que a justificação para a utilização do verbo "haver" passe por aqui, por um lado assim se evitando a desagradável repetição de "ter" e, por outro, alargando o sentido do verbo para "receber", "colher"....
Desta forma, estaria justificado, pela positiva, o emprego do verbo "haver", outro tanto não parecendo ser passível de ser feito quanto ao verbo "ver", em face dos sinónimos do mesmo.
Correndo o risco de ser impertinente pela insistência, solicito se dignem esclarecer de vez este assunto, justificando pela positiva o emprego de "ver" e comentando os argumentos aduzidos, ainda que os mesmos não mereçam
acolhimento.

P.S. - Porque as dúvidas terão origem, também, na igual sonoridade das duas "versões", dúvidas deverão existir, também, na língua francesa, onde a situação é idêntica quanto aos verbos "voir" e "avoir"....
Susana Correia Lisboa, Portugal 9K
A propósito da resposta Patético, sempre ouvi dizer aos meus professores de Cultura Clássica e Latim que que a palavra derivava da palavra grega pathos (um dos constituintes da tragédia clássica) e que significava o sofrimento do herói, de onde o seu
significado «que comove». De facto, como explica o Dicionário Etimológico Nova Fronteira (Antônio Geraldo da Cunha), a palavra grega pathetikós , que deu origem à palavra do latim tardio patheticus.
Por isso, parece-me que é mais importante assinalar que a sua origem é, na verdade, grega (o latim é que pediu a palavra “emprestada” e a trouxe para o português), uma vez que é nessa medida que o seu significado é mais facilmente explicado.
Luciane Dias Brasil 35K

Quais são os tipos de frases interrogativas em Português?

Luís Romão Portugal 7K

Grande parte da minha família é do Algarve, e estou bastante habituado a ouvir construções do tipo (embora pense que também seja comum no Alentejo):
“Em fazendes isso, podes-te ir embora.”
“Em comendem a sopa, podem comer as batatas fritas.”
Parece uma espécie de flexão do gerúndio (que se nota na 2.ª pessoa do singular e 3.ª do plural) e que parte, penso eu, de expressões com o gerúndio como:
"Em tendo o dinheiro, posso comprar um carro novo" = "Quando tiver o dinheiro, posso comprar um carro novo", mas adaptadas consoante a pessoa:
"Em tendes o dinheiro..." = "Quando tiveres…"
"Em tendem o dinheiro..." = "Quando tiverem..."
Isto é tão comum que toda a gente, dos mais pequenos aos mais velhos, o usam. Está errado no português padrão, mas poder-se-á considerar correcto como regionalismo? Isto é, será aceitável o seu uso?
Se tiverem mais informações sobre este interessante “gerúndio flexionado”, agradecia imenso!