Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório
Luci Gonçalves Advogada São Paulo, Brasil 7K

Por favor, qual a forma correta? «Na hipótese de que os acionistas decidam aumentar o número de ações», ou «na hipótese de os acionistas decidirem aumentar o número de ações»?

Desde já agradeço.

Nuno Gonçalves Consultor Los Angeles, EUA 9K

Ao ler por curiosidade a Constituição da República Portuguesa, deparei-me com o artigo 24.º, parágrafo 2, que refere que:

«Em caso algum haverá pena de morte.»

A frase despertou-me algumas dúvidas e resolvi fazer uma busca no vosso site. Foi então que reparei que, já antes, Pedro Andrade, de Braga, tinha colocado uma questão sobre o referido parágrafo.

Ao contrário do sr. Andrade, não tenho qualquer dúvida quanto à semântica da frase e interpreto-a como um repúdio total da pena de morte pela legislação portuguesa.

Fiquei, isso sim, com dúvidas quanto à sintaxe da frase, uma vez que se trata de uma frase declarativa negativa sem a presença de qualquer elemento de negação. Estou familiarizado com a expressão «em caso algum», mas pensava que não era de uma correcção linguística suficiente para poder ser utilizada num documento como a Constituição.

Explica o Ciberdúvidas na resposta a Paulo Andrade:

«[...] posposto a um substantivo, algum assumiu, na língua moderna, significação negativa, mais forte do que a expressa por nenhum»

Sou, assumidamente, um leigo em linguística. No entanto, há três questões que me assaltam após ler a explicação do Ciberdúvidas:

1. A língua moderna existe por oposição a quê? À língua clássica? Como se distingue uma da outra em pormenores tão ínfimos? O bué, fazendo parte da língua moderna, teria lugar na Constituição?

2. «A palavra algum assumiu...» Assumiu? Como? Será que foi por abuso de linguagem ou porque se trata simplesmente de um coloquialismo? De novo, este tipo de expressões não deveria ser evitado na redacção da Constituição?

3. Significação mais forte. Como é que se mede a força dos pronomes indefinidos? Se se tratasse de adjectivos, eu até entenderia, mas escapa ao meu entendimento como é que esta explicação tão subjectiva pode justificar o emprego de tal expressão na Constituição.

Aceito e compreendo perfeitamente que os colaboradores do Ciberdúvidas não têm possibilidade absolutamente nenhuma de saber o que se passava dentro das cabeças dos membros da Assembleia Constituinte e, como tal, estão impossibilitados de responder literalmente às minhas perguntas.

No entanto, queria despedir-me com duas dúvidas concretas:

1. As frases «Em caso algum haverá pena de morte» e «Não haverá pena de morte em caso algum» estão ambas correctas? Se sim, como é possível que tenham o mesmo significado quando uma é a negação clara da outra?

2. Como se explica a versatilidade do pronome algum por oposição ao seu antónimo nenhum? «Em caso algum haverá pena de morte» é, aparentemente, o equivalente a dizer «Em caso nenhum haverá pena de morte» (ignorando, claro está, a "força" dos pronomes), ao passo que «Em algum caso haverá pena de morte» é exactamente o oposto de «Em nenhum caso haverá pena de morte». Há alguma regra escrita que aluda a este facto?

Peço imensa desculpa pelo longo texto e espero que o Ciberdúvidas tenha alguns minutos para me elucidar.

Ana Carolina Schnepf Estudante (Faculdade de Letras) Lisboa, Portugal 5K

Sou aluna do último ano da Faculdade de Letras de Lisboa (Estudos Germanísticos) e na disciplina de Linguagem e Comunicação surgiram temas para uma apresentaçao de trabalho; num leque de propostas surgiu o tópico de eufemismos. Gostaria de elaborar um trabalho que me pareçe pertencer a esta categoria, no entanto desconheço a designação para os seguintes "fenómenos":


1. "criadas" passa para "empregadas" e depois para “auxiliares de apoio doméstico”.
2. "contínuas da escola" para “auxiliares de acção educativa”.
3. "operários" passam a ser chamados de “colaboradores”.
4. "operador de call-center" passa para "supervisor de telecomunicações".
5. "segurança" passa a ser "responsável pela integridade humana" 

etc. (existem muitos outros exemplos que não me ocorrem neste momento, mas julgo ter sido explícita com estes exemplos).

Ou seja, quando uma determinada expressão, palavra ou designação existente no nosso vocabulário "sofre" uma actualização e mudança de forma a que a mesma palavra receba uma nova conotação mais "embelezada" e pomposa.

Aguardo resposta.

Paulo Aimoré Oliveira Barros Funcionário público federal Garanhuns, Brasil 9K

Criou-se há pouco tempo o vocábulo "cadeirante" aqui no Brasil para substituir, creio, o circunlóquio "usuário de cadeira de rodas" ou talvez seja mais um eufemismo. Aliás, há uma prodigalidade de inventar expressões amaneiradas ou adocicadas neste país: os aleijados foram suplantados pelos "deficientes físicos", os cegos chamam-se "deficientes visuais", os surdos são agora "deficientes auditivos", os doidos foram substituídos pelos "deficientes mentais", os leprosos são "hansenianos", os mongolóides passaram a denominar-se "portadores da síndrome de Down", as crianças retardadas ou atrasadas são "excepcionais ou especiais" (como se as demais crianças não fossem especiais!), os velhos passaram a chamar-se "os da terceira idade ou melhor idade". (Gostaria de entender por que há tanta preocupação com eufemismos. Não é melhor dizer a verdade? Ocorre, porém, que a verdade muitas vezes dói...)

Tudo isso são caricaturas lingüísticas de mau gosto. Não me deixo levar por tais leviandades de expressão. Daqui a uns dias os inventores de bizantinices eufemísticas talvez queiram corrigir a Bíblia: cegos, coxos, paralíticos, leprosos, velhos, surdos, lunáticos, doidos, mudos etc. Está errada a Bíblia? Pois bem, no Brasil existe esta mania de quererem mascarar a realidade (não sei se a mesma coisa se dá em Portugal).

Quero voltar ao vocábulo "cadeirante". Ora, de amar temos amante, de secar temos secante etc. Existe todavia o verbo "cadeirar" para que se abone o "cadeirante"? Parece-vos bem formado o neologismo "cadeirante", ou não passa de mais um abuso? Desejo conhecer-vos a opinião.

Muito grato.

 

Graça Dinis Professora V. N. Famalicão, Portugal 13K

Existem duas formas de divisão silábica? Se existem, como se faz a divisão silábica da palavra Aleluia para translineação?

 

Susana Pereira Estudante Lisboa, Portugal 7K

Será correcto pronunciar as palavras soubeste, soubesse como "sóbeste", "sóbesse"? Não será correcto na oralidade abreviar o "ou" para "ó", como quando dizemos por exemplo «dois "ó" três...» ou mesmo «p'rá e p'ró»? Aliás, nós no Sul [de Portugal] nunca pronunciamos "ou", mas sim "ô", logo no máximo diremos "sôbesse"…

Néli Castro Sintra, Portugal 6K

«Fazer uma tempestade num copo de água» pode ser considerado uma personificação (figura de estilo)?

Gabriela Rocha Empresária Cotia, brasil 6K

Sabemos que a palavra nécessaire é um estrangeirismo, mas é usada na língua portuguesa como sinônimo de frasqueira. Por isso gostaríamos de saber se devemos utilizá-la como feminino ou masculino.

Obrigada.

 

Fábio Vasco Estudante universitário Quinta do Conde, Portugal 10K

Na frase «E se cada um de nós tivesse um sol só para si?» (de um recente cartaz publicitário), como sabemos se o si tem o significado de «nós mesmos» ou se significa «para você»? Julgo ser um caso eternamente ambíguo, não? Apesar de, acho, a maioria das pessoas entender a frase como sendo qualquer coisa do tipo «E se cada um de nós tivesse um sol para cada um de nós mesmos?».

Obrigado.

José Vasconcelos Professor Rio de Janeiro, Brasil 30K

Como explicar para um aluno que o mas tem valor adversativo se nem sempre indica oposição como neste exemplo: «Eu gosto de chocolate, mas você gosta de sorvete»?

Grato!