O verbo pretender e o pronome se
A dúvida surge na seguinte frase:
«Na segunda parte do trabalho, pretendeu-se determinar as constantes cinéticas da invertase de S. bayanus.»
A construção frásica «pretendeu-se determinar» está correta, ou deveria ser «pretendeu determinar-se»? Ou será que ambas são aceites?
Na Gramática do Português, volume II (organizada por Eduardo Buzaglo Paiva Raposo, Maria Fernanda Bacelar do Nascimento, Maria Antónia Coelho da Mota, Luísa Segura e Amália Mendes, publicada pela Fundação Gulbenkian), no sub-capítulo "Propriedades dos verbos auxiliares", a secção sobre construção passiva pronominal apresenta os exemplos «Pretende-se corrigir os exames antes do fim do mês», «Pensou-se expulsar os diplomatas bizantinos» ou «Lamentou-se perder as chaves da casa» (p. 1249) como estando gramaticalmente corretos.
Pronome e oração relativa na expressão «alguém de que gosto um dia»
Sobre a frase «Espero poder tornar-me alguém de que gosto um dia», disseram-me que está incorreta, mas não percebo a razão.
Perguntei a alguns portugueses se lhes soava poética ou estranha. Uns disseram que "de quem gosto" soava melhor e outros "de quem goste".
Analisemo-la um pouco melhor. Dividirei a frase em duas partes: "Espero poder tornar-me alguém" e "Alguém de que gosto".
Como vedes, omitirei "um dia", pois não penso que mudará a frase completamente.
Podemos dizer que a segunda parte tem um "adjectivo" ("de que gosto") e pode ser substituído por um outro adjectivo (por exemplo, "agradável").
Quanto à primeira, "Espero" influencia "poder tornar-me", mas não parece influenciar directamente "alguém". Quem desempenha essa função é "tornar-me". Podemos dizer "Espero poder tornar-me alguém agradável" ou "Torno-me alguém de que gosto", penso eu.
O que quero dizer é que, em "Espero poder tornar-me alguém de quem goste", "Espero" parece harmonizar toda a frase. Mas em "Espero poder tornar-me alguém de que (ou de quem) gosto", "tornar-me alguém" passa a influenciar "de que gosto". Portanto não penso que a frase «Espero poder tornar-me alguém de que gosto um dia.» esteja incorrecta, se o que digo faz sentido.
Estou um pouco confuso e gostava duma explicação mais aprofundada.
Agradeço-vos o serviço!
Ênclise depois de porque
Relativamente à atração exercida pela conjunção subordinativa, e devido ao facto de estarmos perante frases longas, agradecia que me esclarecessem se a próclise continua a fazer sentido nas mesmas:
«A afirmação é verdadeira PORQUE, na infância, sonhamos muito e iludimo-NOS muito.»
«A afirmação é verdadeira PORQUE, quando ele vê um castelo ou vai à praia, recorda-SE da infância e LEMBRA-SE que esse sonho foi destruído.»
Em relação à segunda frase, perguntava se é obrigatória a preposição de regida pelo verbo lembrar-se («lembra-se de que»).
Cordialmente
Ele como complemento direto (fala popular)
Corre em Portugal usarem o pronome de caso reto ele como objeto? Por exemplo: «Eu amei "ela".»
Foi uma invenção do Brasil ou teve origens com os portugueses que cá vieram?
Pronomes de interesse (dativo ético)
Gostaria de saber a função sintática do pronome lhe na frase «ele pediu que lhe fatiassem duzentos gramas de mortadela».
Grato!
A concordância em «todas quantas»
Acabo de ler, escrita por um autor muito bom, a seguinte frase: «Todas quanto abraçaram esta via foram bem-sucedidas».
A minha dúvida prende-se com o «quanto» invariável, que me soa mal. Admito, porém, que o erro seja meu.
Em suma: devemos escrever como acabo de referir ou antes «Todas quantas abraçaram [...]»?
«O que faz?» vs. «Que tipo de coisa faz?»
Atendendo às duas seguintes frases «O que você faz nos fins de semana?» e «Que tipo de coisa você faz nos fins de semana?», qual é explicação gramatical para na segunda frase o o ser omitido?
Obrigada, desde já, pela resposta.
A expressão «ter cada uma»
Gostava de conhecer a etimologia da expressão «tens cada uma».
Poderiam explicar-me, por favor, qual é a origem dela e os possíveis usos? Muito obrigada.
A colocação do pronome em «vou-me tornando espectadora»
Qual a forma correta de colocar o pronome na expressão: «vou-me tornando espectadora» ou «vou tornando-me espectadora»?
Obrigada.
[N. E.: No quadro da norma ortográfica em vigor, escreve-se espectador e espetador. A palavra tem, portanto, dupla grafia.]
O uso de cujo/a = «de quem»
Em Auto de Filodemo, de Luís de Camões, há uma passagem coloquial assim:
«Dionísa: Cuja será? Solina: Não sei certo cuja é.»
Em linguagem hodierna, seria mais comum ouvir/ler «de quem será?», «não sei certo de quem é».
Esse uso de cujo lembra-me o uso de cujus no latim:
Cujus filius Marcus est? («De quem Marcos é filho?»)
Em seu livro, Tradições Clássicas da Língua Portuguesa, o Padre Pedro Andrião diz ser possível tal uso e dá-nos uma lista grande de exemplos nos autores clássicos, desde Camões, Sá de Miranda, a Garrett, Camilo etc.
Pois então, vos pergunto, que recomendam? É lícito o uso?
