A situação colocada pelo consulente situa-se essencialmente no quadro da coesão referencial1, processo para o qual pode contribuir um pronome relativo. Esta situação vem descrita em diversas gramáticas2.
Um dos planos da coesão textual é a coesão referencial. Esta estabelece-se, por exemplo, entre um pronome, que, por ter um conteúdo semântico mínimo, faz a sua referência depender de uma expressão referencial plena. Neste caso, diz-se que o pronome é anafórico e a expressão de que depende é o seu antecedente, como acontece em (1), onde «O João» é antecedente do pronome pessoal anafórico o:
(1) «O João chegou. Vi-o subir as escadas.»
Esta relação anafórica pode igualmente ser estabelecida por pronomes demonstrativos (2) ou por pronomes relativos (3):
(2) «O carro está avariado. Este tem um problema no motor.»
(3) «O carro que comprei está avariado.»
Refira-se, por fim, que não se pode confundir a função do pronome relativo que com a do complementador que. Este último introduz, por exemplo, orações subordinadas substantivas completivas e não contribui para a coesão referencial porque não faz depender a sua significação de nenhum antecedente. Este item lexical funciona no plano gramatical, assegurando a ligação entre constituintes da frase, pelo que poderemos afirmar que contribui para a coesão interfrásica, na medida em que exprime o «tipo[s] de interdependência semântica das frases que ocorrem na superfície textual» (Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, p. 91).
Disponha sempre!
1. Pode considerar-se que o pronome relativo contribui também para a coesão frásica na medida em que assegura a ligação entre elementos da frase, assinalando a relação que mantêm.
2. Poderão, por exemplo, ser consultadas as seguintes gramáticas: Raposo et al., Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, sbt. pp. 1694-1712 e Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, sbt. pp. 89-115.