Gostaria de colocar-lhes, hoje, duas questões de sintaxe sobre as quais agradecia o vosso sempre apreciado e autorizado comentário. A primeira relaciona-se com a classificação das orações na frase de abertura do "Sermão de Santo António aos peixes" do inimitável padre António Vieira: «Vós, diz Cristo Senhor Nosso, falando aos pregadores, sois o sal da terra:»
Afiguram-se-me as seguintes hipóteses de classificação:
Hipótese 1
1.ª oração: «Vós. sois o sal da terra», oração subordinante; 2.ª oração: «diz Cristo Senhor Nosso», oração subordinada explicativa (justificada por estar entre vírgulas); 3.ª oração, «falando aos pregadores", oração subordinada gerundiva (temporal).
Hipótese 2
1.ª oração: «Vós sois o sal da terra», oração substantiva subordinada conjuncional integrante (subentendendo-se a conjunção integrante “que”, pedida pela forma verbal “diz”, verbo declarativo; 2.ª oração: «diz Cristo Senhor Nosso», oração subordinante; 3.ª oração: como no primeiro caso, subordinada gerundiva, com valor temporal.
Hipótese 3
Considerar a parte de frase «diz Cristo Senhor Nosso, falando aos pregadores» como a frase introdutória do discurso da personagem (por conter uma expressão declarativa «diz Cristo Senhor Nosso» e «Vós sois o sal da terra» como discurso directo (da personagem, Cristo Senhor Nosso).
Assim, na primeira frase teríamos que a primeira oração seria a subordinante, a segunda, subordinada gerundiva de valor temporal e «Vós sois o sal da terra», uma oração substantiva com o valor de complemento directo do verbo dizer.
[...]
Uma pergunta relacionada com a análise sintáctica do verso de Bocage: «Fiei-me nos sorrisos da Ventura».
Qual a função sintáctica dos elementos “me” e «nos sorrisos da Ventura»?
É o me complemento de objecto directo por estarmos em presença de um verbo reflexo? Neste caso, qual a função de «nos sorrisos da Ventura»? Um complemento circunstancial de causa (pressuponde-se subjacente a expressão de um logro motivado pelos tais sorrisos)? Ou o “me” faz parte integrante do verbo, desempenhando «nos sorrisos da Ventura» a função de objecto directo?
Uma vez mais me vejo na necessidade de obter o vosso urgente parecer sobre as dúvidas que passo a expor:
1) Qual a abreviatura de "professores", quando pretendo referir-me, simultaneamente, a um professor catedrático e a uma professora associada de uma determinada faculdade? «Os Profs. Doutores X e Y» ou «os Prof.s ['s' em expoente] Doutores X e Y»?
2) Dever-se-á dizer «número de Bilhete de Identidade» ou «número do Bilhete
de Identidade»?
3) Qual é a forma mais correcta de transpor para português a designação francesa da "Cathédrale Notre-Dame de Paris"? «Catedral de 'Notre-Dame' de Paris», ou seja, com a posposição da preposição 'de' a "catedral" e com a colocação de "Notre-Dame" em itálico, ou "catedral 'Notre-Dame' de Paris", sem o uso de tal preposição e mantendo o itálico? Por mais que saiba que a tradução de "Notre-Dame" é recomendável, por razões estritamente profissionais não posso fazê-lo.
Gostava de saber o significado de "ganadaria". Só encontro esse vocábulo no dicionário da Porto Editora com o seguinte significado: «s.f. criação de touros de lide (Do cast. ganadería, "rebanho; negócio de gado")». Já procurai no Houaiss, mas não contempla o vocábulo!
"Ganadaria" não é o mesmo que "coudelaria", pois não? "Coudelaria" diz respeito às raças cavalares!
A explicação que normalmente se dá para justificar a diferença entre coordenação e subordinação – a subordinação implica uma relação de dependência que não existe na coordenação – é demasiado simplista e facilmente contestável pelos alunos. Poderia dar-me uma explicação que torne clara a diferença entre coordenação e subordinação e, por outro lado, uma espécie de regra prática que permita aos alunos perceberem de uma vez por todas o que é uma coisa e o que é outra?
Quando digo:
– Estás ateimar comigo.
– Estás a teimar comigo.
– Estás a ateimar comigo.
Qual destas formas está correcta? Qual está errada? Eu sei que “ateimar” é “a” + “teimar”.
Mas o que estará correcto?
Obrigado.
Antes de mais gostava de dar os meus parabéns pela continuação da existência deste "site", de grande importância para o solucionar de questões sobre a língua portuguesa. Um cumprimento especial ao Sr. Carlos Marinheiro, com quem tive o privilégio de colaborar enquanto eu estagiava na agência João Carreira Bom.
A minha dúvida surge relativamente ao uso de “doido” e “doudo” (esta muito utilizada no Norte de Portugal, nomeadamente em Fafe). Está correcto dizer-se “doudo”, uma vez que também dizemos “oiro” ou “ouro”?
Esta é uma questão que se discute bastante, e gostava que me pudesse elucidar sobre a sua forma correcta de utilização.
Se fosse possível gostaria que me elucidassem acerca do seguinte: os estrangeirismos “marketing”, “franchising”, “out-sourcing”, etc. são, neste momento, palavras portuguesas?
Qual o critério que devo seguir ou o que devo consultar para saber em tempo real se estes ou outros vocábulos do mesmo tipo integram ou não a nossa língua?
Os meus agradecimentos antecipados.
Antes de mais nada, parabéns ao Ciberdúvidas pelo bom trabalho dedicado à nossa língua, que muito me tem auxiliado para compreender melhor as diferenças entre as duas variações, as quais, como a maioria dos brasileiros, desconhecia a existência.
Durante uma das minhas navegações e leituras aleatórias pelo sítio, deparei-me com o artigo
O nome traçabilidade e resolvi tirar esta dúvida, além de prestar um testemunho.
Ainda no Brasil, usava freqüentemente a palavra rastreabilidade para traduzir "traceability". Quem trabalha com informática não pode ser radical em relação aos estrangeirismos, mas sempre procurei o uso de palavras em português para expressar coisas que não são especificamente técnicas. Parece-me que o ato de determinar a origem e todos os passos executados por um processo até o momento atual cabe bem com o significado da palavra rastrear, seja o processo informatizado ou não. Uma vez que o processo seja dotado desta capacidade, penso que não faria mal dá-la o nome de rastreabilidade.
Como disse, já utilizava este termo no Brasil e tenho feito da mesma forma em Portugal. Deixo aqui meu testemunho: do ponto de vista da comunicação o termo não deixa nada a desejar, todos os alunos sempre entenderam imediatamente o significado. Apenas uma vez fui interpelado por um aluno em Portugal que queria me fazer entender que aqui não se usava rastreabilidade e sim "traceability" mesmo; imaginando, talvez, que no Brasil o termo fosse largamente utilizado. Ledo engano.
Bom, dito isto, deixo para o Ciberdúvidas a questão da correção ou não do uso do vocábulo.
Cordiais saudações,
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