DÚVIDAS

A pronúncia de mass media, outra vez
A expressão mass media, agora em voga, foi inventada no cerne da língua inglesa; idioma este que abre espaço à criação de neologismos e que, pela sua influência nas culturas ocidentais (e não só), nos mina (não num sentido pejorativo) com expressões que rapidamente adoptamos, muitas vezes, com um crescente desrespeito e esquecimento da nossa própria língua. A expressão mass media resulta da união entre uma palavra inglesa e outra latina. O latim, como todos sabem, é uma língua morta e, portanto, ninguém sabe qual é a sua correcta pronunciação. Assim, é compreensível que cada povo diga as palavras adoptadas do latim com a pronúncia e a entoação próprias da sua língua materna. Há, portanto, quatro formas diversas de dizer mass media: à inglesa, "masse mídia"; à americana, "messe mídia"; ou à portuguesa (1), "masse media" (note-se que não há qualquer acento na palavra media, logo esta palavra diz-se da mesma forma que o pretérito imperfeito do verbo medir, na primeira pessoa); à portuguesa (2), "messe media". Dizer "masse (ou messe) média" é completamente incorrecto e de forma alguma aceitável. Não houve, nem há ainda, qualquer convenção que estabeleça que a expressão "mass média" faça parte do vocabulário português! Assim, se se quiser evitar um uso incorrecto desta expressão, recorra-se à expressão que em português (de Portugal) tem o mesmo significado e significância da expressão mass media (do inglês): meios de comunicação social.
Sobre a legitimidade de explicitude
Gostaria de saber se consideram admissível a formação e utilização da palavra explicitude, como variante de explicitação. Por exemplo, numa frase como esta: «espantoso na sua loquacidade e explicitude!»Claro que o sentido não ficaria comprometido pela utilização de explicitação, mas... o que justifica então a existência de palavras como amplitude, variante admitida de amplidão, embora já não de "amplamento"... Ou completude, que, segundo o Portal da Língua Portuguesa, existe também, admitindo curiosamente as duas alternativas: completamento e completação.Se estas palavras existem, parece dever ser possível a formação de explicitude. A explicação poderá residir na etimologia, pois, quando este tipo de terminação existe, um correspondente latino terminado em -tudine (attitudine, amplitudine, completudine) também existe, o que não é o caso para explicitude. Mas deverá a etimologia condicionar a lógica de formação de novos vocábulos?Obrigado.
«Pastéis de Natal portugueses»
Em primeiro lugar gostaria de felicitar todos quantos contribuem para manter este sítio actualizado e com tão bom nível! Ah, como eu gostaria que também houvesse um assim para outras línguas, ao qual pudesse recorrer em caso de dúvida!... Há umas semanas, num sítio alemão dedicado à culinária, descobri uma receita de «pasteis de nata» – assim mesmo, com o nome em português (mas sem acento). O meu problema está no subtítulo – a tradução dada é «Portugiesische Weihnachtspasteten», ou seja, «pastéis de Natal portugueses». Tal como eu, alguns outros leitores mais atentos comentaram que não se trata de pastéis de Natal, mas sim do alimento nata, ao que o autor da receita respondeu com os seguintes argumentos:1) segundo as suas (várias) fontes (?), os pastéis chamam-se assim devido à sua semelhança com o cestinho do Menino Jesus (Körbchen no original, suponho que se refere à manjedoura);2) nata em português também significa Weihnachten (= Natal);3) além disso, as várias versões que ele conhece da receita nem sequer levam natas. Com este terceiro ponto de certa forma concordo, pois realmente não tenho nenhuma receita com aquele ingrediente; o que me leva a perguntar, antes de mais, porque é que se chamam assim – teriam as natas constado da receita original e teria esta sido deturpada ao longo dos tempos? Cada pasteleiro lá terá o seu segredo... Quanto ao primeiro ponto, não me parece que esteja correcto, nunca tal ouvi em toda a minha vida e nem na Internet encontrei tal referência (embora o autor refira que já lhe foi confirmado por portugueses). É que estes pastéis comem-se ao longo de todo o ano e não estão sequer ligados à doçaria típica da época natalícia. Agora o segundo argumento é que deixa muito a desejar! Não faço a mínima ideia onde é que o autor foi buscar tamanho disparate... como aliás nem a maior parte dos comentadores da receita. O problema é que este senhor não se deixa impressionar e defende a sua opinião com unhas e dentes – até afirma que os ditos pastéis são chamados, de forma abreviada, "natas", o que é muito mais fácil de pronunciar do que "natals". (O que só demonstra os seus parcos conhecimentos da língua portuguesa...) Haverá algum fundo de verdade nestas afirmações? Alguma variante regional que permita chamar "nata" ao Natal? E qual será mesmo a origem do nome «pastel de nata»? Peço desculpa pela extensão, mas não dá para explicar de forma mais sucinta. Agradeço desde já todas as informações que me puderem fornecer sobre o assunto.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa