Controvérsias - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Polémicas em torno de questões linguísticas.
Por Virgílio Dias

[Sobre a reposta de Sandra Duarte Tavares, A função sintática de tirania:]

Não há justificação nenhuma para imaginar que, na frase «não se embarca tirania neste batel divinal», «tirania» seja complemento directo.

O «se» só pode ser sujeito em orações reduzidas. Bem sei que há uma gramática de referência que autoriza tal interpretação. Mas… aliquando dormitat Homerus.

A propósito desta controvérsia [sobre a função sintática da palavra tirania na frase de Gil Vicente «Não se embarca tirania neste batel»] mantenho-me firme na minha convicção de que estamos perante um caso de ambiguidade entre a função de sujeito e a de complemento direto, dependendo da interpretação do se.

Os argumentos aduzidos por Maria Regina Rocha têm muita validade e eu não discordo de nenhum deles. Mas…

Se os analisarmos com atenção, todos os exemplos dados estão no plural:

A consulente Sofia Carreira perguntou ao Ciberdúvidas:

«Na frase de Gil Vicente "Não se embarca tirania neste batel divinal», a palavra tirania parece-me óbvio ser um complemento direto. Mas há quem defenda que se trata do sujeito (que eu consideraria nulo indeterminado). Será que nos poderiam esclarecer?»

A propósito de uma resposta sobre «Análise de "Veja(m)-se) as seguintes", a consulente Ludmilla Gagnor Galvão manifesta a sua estranheza e apresenta a sua opinião, dizendo:

Na consulta a Sandra Duarte Tavares, em 14/02/2012, sob o título Análise de «Veja(m)-se as seguintes...», estranhei a resposta. No Brasil só admitimos o plural, considerando que se trata de voz passiva analítica, em que o sujeito é «as seguintes», e a partícula se é pronome apassivador.

Por Virgílio Dias

Texto do autor, discordanado da respostas Análise de «Veja(m)-se as seguintes e Ainda «Vejam-se as seguintes», de Sandra Duarte Tavares.

 

 

Por Virgílio Dias

1.Verbo modalizador e copulativo

O verbo parecer apresenta claros traços de modalizador: ele revela uma atitude hesitante ou duvidosa do sujeito.  Para quem tem dúvidas, ou é tímido, as coisas não são: parecem.

Mas Manuel Bana saudou-o de longe e pareceu-lhe reservado (V.Nemésio, Mau Tempo…, p.124)

Procurei até a D. Carolina Amélia, que não ia longe disso…Depois pareceu-me virada (idem, 155)

Embora haja autores que equacionam a possibilidade de o verbo parecer, em frases destas, seleccionar um complemento directo (e não um sujeito), como não são referidos argumentos que justifiquem a categorização do verbo parecer como transitivo directo, considero que, na frase «Parece-me que estou ouvindo S. Mateus.» (reduzi a frase original ao essencial), a oração «que estou ouvindo S. Mateus» desempenha a função sintáctica de sujeito do predicado «parece-me».

A consulente Rute R. perguntou ao Ciberdúvidas:

«Agradecia que me esclarecesse qual é a função sintática de «que estou ouvindo a S. Mateus» em «Parece-me que estou ouvindo a S. Mateus, sem ser apóstolo pescador, descrevendo isto mesmo na terra».

Sandra Duarte Tavares respondeu que é complemento direto:  «Parece-me + complemento direto».

O professor Virgílio Dias discordou, sustentando «A inaceitável hipótese transitiva do verbo parecer».

V. ACONTECER

(1)    Aconteceu uma tragédia.

(2)    Aconteceram várias tragédias.

(3)    Aconteceu que ela abandonou os filhos.

O v.  acontecer é um verbo de um lugar, i.e., seleciona apenas um argumento, o qual desempenha a função de sujeito (veja-se a concordância em 2). Este pode ser nominal (cf.1 e 2) ou frásico (3).

V. HAVER

(4)    Houve uma tragédia.

(5)    Houve várias tragédias.

(6)    * Houve que …

 

«Acabar com o Euronews em português seria um facto absolutamente incompreensível – apenas por inadvertência. Ou, o que seria pior, por capricho desastroso.» Artigo do deputado português [in Público de 18/01/2012], que volta a um tema já anteriormente abordado por ele próprio.

1. Está em crescimento contínuo desde o começo em 1993, com serviços em cinco línguas: inglês, espanhol, francês, alemão e italiano.