É possível atribuir duas análises sintáticas à frase «Não se embarca tirania neste batel divinal», uma vez que estamos perante um verbo transitivo direto que se encontra no singular, bem como a expressão nominal que se lhe segue – tirania.
Se interpretarmos o morfema se como um pronome indefinido, então o nome tirania desempenha a função sintática de complemento direto, já que o sujeito da frase é o próprio se (substituível pela expressão alguém):
a) «Alguém não embarca tirania neste batel.»
b) «Alguém não a embarca.»
c) «Não se a embarca.»
Se interpretarmos o morfema se como uma partícula passiva, então o nome tirania desempenha a função sintática de sujeito:
d) «Tirania não é embarcada neste batel.»
e) «Ela não se embarca neste batel.»
f) «Ela não é embarcada.»
Um argumento a favor desta segunda análise é o facto de podermos ter o verbo no plural, concordando com um sujeito também no plural:
g) «Não se embarcam injustiças neste batel.»
Nota: Confrontar, nas Controvérsias, os textos sobre «A função sintática de tirania: sujeito ou complemento direto?».