Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Tema: Uso e norma
José de Carvalho Reformado Lisboa-Cascais, Portugal 211

Quando eu era menino e moço, uma constipação era algo que assim era chamado quando existia mucosidade no nariz, acompanhado de um estado mais ou menos febril.

Se passava dois dias sem obrar, tinha prisão de ventre.

Mais tarde, já no secundário, na disciplina de Inglês, aprendi o termo constipation, equivalente a «prisão de ventre» em português.

Hoje, é vulgar ver escrito e ouvir constipação na aceção de prisão de ventre desde então.

Pergunto: que vocábulo devo hoje usar para me referir à constipação dos meus tempos de menino e moço?

Grace Montenegro Enfermeira Porto, Portugal 112

Gostava de ver uma pequena dúvida esclarecida em relação ao adjetivo "cabisbaixo".

Quando se diz que alguém ficou cabisbaixo perante uma repreensão, o mesmo deve concordar em género com o sujeito? Não sei se me faço entender, por isso, trago-lhes duas frases como exemplo, embora não tenha a certeza de estarem corretas...

(1) Alertado pela intervenção do seu pai, completamente imóvel, Pedro permaneceu cabisbaixo (ou cabisbaixa?).

(2) A Joana era uma criança que tendia a envergonhar-se. Sempre que um estranho lhe perguntava algo, permanecia cabisbaxa e coradíssima.

A minha dúvida surge pelo significado da palavra em si [«de cabeça baixa»], ou seja, referente à postura do sujeito – cabeça – e não ao seu género...

Neste sentido, quando se usa o feminino ou o masculino?

A mesma dúvida surge também com a palavra boquiaberta/o...

Podem elucidar-me com algum exemplo, por favor?

Desde já, agradeço imenso qualquer explicação que me possam dar!

Evandro Braz Lucio dos Santos Professor Santa Quitéria, Brasil 239

Na frase «Ser amado e ser egoísta são coisas diferentes»:

1) Quantas orações há frase?

2) Os termos «ser amado e ser egoísta» são orações subordinadas substantivas subjetivas?

3) Caso sejam subjetivas, por que o verbo da oração principal está na terceira pessoa do plural são?

Obrigado.

Roberto Andrade Corne Junior Servidor Rio de Janeiro, Brasil 240

Li diversos textos sobre o assunto (inclusive um dos Senhores) e, com a leitura dos textos, fica claro que o entendimento é: neologismo é uma coisa, e estrangeirismo é outra.

Porém... bate uma dúvida cruel: quando aportuguesamos uma palavra, não estamos diante de um neologismo?

Não dá para entender xampu, que é da gente como estrangeirismo.

O gramático Fernando Pestana cita que alguns gramáticos consideram os estrangeirismos como neologismos:

«Além disso, muitos gramáticos entendem que os estrangeirismos são neologismos, uma vez que palavras novas (mesmo que estrangeiras) podem ser incorporadas à nossa língua.»

Entretanto eu nunca vi esses gramáticos! Na gramática do autor citado, ele também faz a distinção de um termo para outro e cita também que o estrangeirismo também pode ser adaptado, ou seja, ele parece ser contrário a minha "estranha" visão.

Obs.: Até a palavra estrangeira, quando passa a ser usada de maneira inédita pelos falantes de português, eu acho que pode ser uma espécie de neologismo.

Podem me ajudar? 

Maria Quintino Professora Lisboa, Portugal 238

Sei que o tema já foi aqui trazido, mas sem contextualização.

Tenho, infelizmente, passado algum tempo num determinado cemitério e tenho ficado intrigada com o facto de as lápides das campas e dos ossários dizerem todas «À memória de».

Contudo, nas placas colocadas nos ossários – em particular, mas não só –, existe a nítida intenção de recordar alguém e não, propriamente, a de homenagear ou dedicar o espaço / a placa a alguém.

Assim, no meu entender, a inscrição mais correta deveria ser «Em memória de» fulano tal, em vez de «À memória de...», mas não tenho encontrado nenhuma que corrobore o meu ponto de vista.

Será que estou enganada?

Diogo Maria Pessoa Jorge Morais Barbosa Estudante Lisboa, Portugal 271

Sempre ouvi e li a expressão «da noite para o dia». No entanto, topei agora com um «do dia para a noite».

É também uma expressão correta? A outra é mais "consagrada", digamos assim?

Obrigado

Abílio Silveira Médico Macedo de Cavaleiros, Portugal 188

Deve dizer-se "O médico fez dez consultas" ou "Dez doentes consultaram o médico"?

Em linguagem corrente, diz-se que foi o médico que fez as consultas. Mas, de facto e tecnicamente, são os doentes que, perante um problema de saúde que os aflige, consultam o médico para uma orientação diagnóstica e terapêutica.

Se em vez de dizer "consultei dez doentes", disser "fiz dez consultas", o problema só se agrava.

Qual é a forma correta? Ou ambas são corretas?

Obrigado.

Ricardo Freitas Lisboa, Portugal 207

Gostaria de saber se a palavra irresolubilidade existe. Aqui, enquanto «qualidade do que é irresolúvel».

Não encontro em dicionários, com exceção do dicionário online Priberam.

Na Internet, encontro entradas referentes a documentos de natureza académica.

Gostaria de ter a certeza que posso usar o termo.

Muito obrigado.

Amanda Soares Peregrino Revisora Recife, Brasil 322

Essa questão surgiu após um impasse que tive com um colega, também revisor de texto, a respeito do uso do verbo estar com pronomes acusativos como o, lo, no. Gostaria, portanto, de esclarecer alguns pontos e, se possível, obter exemplos de uso literário dessas construções.

Em frases copulativas, como:

«O aluno está cansado.»

«A porta está aberta.»

«Tu estás feliz?»

seria possível substituir o predicativo por um pronome acusativo, formando expressões como "O aluno está-o”, “A porta está-o” ou “Tu está-lo?”? Essas formas aparecem em algum registro literário, regional ou arcaico do português?

No português europeu, na locução estar + a + infinitivo, há diferença entre «Ele está-o a fazer» e «Ele está a fazê-lo»? Existe preferência normativa ou diferença de estilo entre as duas formas? Quando o pronome sobe para o auxiliar (estar), as adaptações fonéticas continuam válidas?

Por exemplo: estás + oestá-lo; estão + o estão-no.

Formas como «Tu está-lo a terminar» ou «Eles estão-no a construir» são aceitas?

No português do Brasil, com estar + gerúndio, qual das opções é mais adequada ou usual: «Ele o está fazendo», «Ele está fazendo-o» ou simplesmente «Ele está fazendo isso»?

Por fim, fora das locuções (estar a + infinitivo / estar + gerúndio), é possível empregar «Ele está-o» (sem verbo posterior) para retomar algo já mencionado, equivalente a «Ele está nisso»?

Agradeço desde já pela atenção e, se possível, gostaria de exemplos de uso literário (clássico ou moderno) dessas construções, caso existam. 

Olivia Douro Estudante Portugal 323

Gostaria de saber por que razão vários dicionários em linha (v.g. Priberam, InfopédiaDicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa) e até o próprio Ciberdúvidas registam apenas um único significado para a palavra estadual (definindo-a como se referindo a algo relativo a Estado-membro de uma federação, e, por isso, diferente de estatal) quando a mesma palavra encontra uso em legislação portuguesa.

Uma pesquisa feita a partir do motor de busca no Diário da República em linha mostra que o seu uso mais antigo, pelo menos segundo o sítio, remonta a 1960, se bem que ela continua a ser usada, podendo ser mencionado, por exemplo, o conceito de «derrama estadual».

Qual a origem de estadual relativamente a estatal, e serão então as duas palavras sinónimas?

Agradeço desde já.