Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Área linguística: Etimologia
David Sousa Investigador Lisboa, Portugal 9K

Não será em rigor uma pergunta pois, a sê-lo, de antemão se considera que se encontra suficientemente respondida por anteriores contributos de Edite Prada neste sítio. No entanto, ainda que carecendo de qualquer estudo e numa base puramente dedutiva, especulativa, ou mesmo intuitiva, se retoma aqui a hipótese, já aventada, de que nas expressões «ter a ver com» e «ter que ver com», o «ver» surja por corruptela de haver.

É que, ainda que algum dicionário possa atribuir ao verbo ver o significado mais metafórico de «ver com os olhos do espírito» – como foi referido – e portanto se possa sempre admitir significados menos "directos", a expressão actual continua a soar, pelo menos a mim, muito pouco natural.

De facto, aquilo que me parece mais plausível é que, numa origem remota – e remota terá aqui, como vimos, de reportar-se a período pré-vicentino –, a expressão que estaria na base da que hoje se encontra a uso e (como demonstrado no levantamento de Edite Prada), completamente fixada, seria «ter a haver», no sentido de «ter a receber dinheiro devido, ser parte interessada em função dessa dívida por saldar». Reforça esta hipótese, creio, o facto de a expressão surgir amiúde na negativa: por exemplo, «você não tem nada a ver com isto». Por esta via, parece-me plausível supor que, na origem, esta expressão tenha nascido desta ideia de que alguém, não tendo a haver, não é parte interessada e, portanto, não tem, digamos assim, de intrometer-se. O que é válido na positiva: quem tem a haver, tem um legítimo interesse no negócio, uma razão para se meter no assunto; que haja algo a haver, vincula duas partes juridicamente, ou seja, coloca-as em relação. Donde, deduzo igualmente que a expressão se tenha aplicado originalmente apenas a pessoas, e só mais tarde possa ter servido para dizer que os alhos não têm a ver com os bugalhos.

Note-se, em abono desta tese, que o próprio complemento «com» poderá, aliás, teria mesmo de ter já sido introduzido no processo de modificação da expressão. Isto por ela, então (aventa-se) como hoje, nem sempre surge completa, isto é, com o complemento – diz-se muito, por exemplo, «isso não tem nada a ver». E, portanto, parece-me mais lógico, tanto quanto a lógica possa presidir à linguagem, que tenham sido expressões como «não se meta, que não tem nada a haver», a abrir caminho às sucessivas modificações que nos trazem ao «ter a ver com».

Resumindo, defendo aqui a hipótese – a que o nível de linguagem em causa, coloquial e, portanto, mais plástico, pode tornar mais plausível – de que a expressão tenha sido sucessivamente modificada, desta forma: «ter a haver de» – «ter a haver» – «ter a ver» – «ter a ver com». Ou ter começado simplesmente como «ter a haver», sendo que o «com» de hoje vem, justamente, confirmar o elemento relacional que, na passagem de «haver» para «ver», se torna pouco natural e menos evidente (ainda que admitindo os tais outros possíveis sentido de ver).

Fica o exercício, a título de curiosidade e, suponho, nada mais que isso, já que para o conhecimento do português coloquial de há 600 ou 700 anos, infelizmente, não há bases de dados que nos valham.

Carla Paranhos Bancária Brasília, Brasil 12K

Qual a origem da palavra tesouro?

Diogo Sousa Estudante Funchal, Portugal 7K

Qual a origem do nome Orvidia? Sendo que já o vi grafado com e sem acento no primeiro i, qual a sua grafia correcta?

Manuel Landeiroto Técnico comercial Seixal, Portugal 3K

Como constatarão, com facilidade, o meu sobrenome é Landeiroto. Podem ajudar-me, fornecendo-me algumas "pistas" sobre a origem do nome? Sei que os mais antigos que conheço são da zona de Viseu. 

Obrigado.

Maria Carlota Simões Desempregada Lisboa, Portugal 8K

Qual a origem do nome Aldeia Galega, tendo em conta que não é a única terra portuguesa com este nome?

Helena Santa Teresa Agente Coimbra, Portugal 7K

Já encontrei a palavra filómato em vários livros, mas não encontro, em lado nenhum, o seu significado.

João G. Pais Estudante Lisboa, Portugal 8K

Gostaria de saber qual a forma correta de traduzir الجمهورية العربية الصحراوية الديمقراطية (Al-Jumhūrīyyah Al-`Arabīyyah Aṣ-Ṣaḥrāwīyyah Ad-Dīmuqrāṭīyyah): República Árabe Sariana Democrática, ou República Democrática Árabe Sariana? E quanto ao gentílico, devemos usar sariano, saariano, sahariano, saraui, sarauí (Código de Redação da UE), saharaui, saharauí, saaraui, ou saaráui (Houaiss)? Outra questão relacionada tem que ver com a capital do território do Sara Ocidental, e capital reivindicada pela supracitada república. Devemos escrever El Aiune, El Aaiún, Laâyoune, ou El Ayun? Muito obrigado pelo esclarecimento.

António Correia Jornalista São Paulo, Brasil 10K

Alguém pode "rotar" depois de comer? Será que o correto é arrotar, isto é, emitir gases do estômago pela boca? E o verbo rotar? Existe, ou não?

Grato.

Pedro Guilherme Advogado Porto, Portugal 12K

Tenho encontrado na literatura (há uma expressão de Pessoa: «Inversão sexual frustre», mas principalmente em artigos de opinião escritos já no século XXI, a palavra frustre como adjectivo. O dicionário de língua portuguesa da Porto Editore contém a forma fruste, sem erre na sílaba final, na acepção que me parece a usada por Pessoa e por várias pessoas, entre as quais Vasco Pulido Valente, em artigos de opinião actuais. É frustre a versão arcaica de fruste (1. de qualidade inferior; insignificante; ordinário; 2. rude; grosseiro; 3. que não brilha; 4. MEDICINA relativo a uma forma leve ou incompleta de uma doença (Do italiano frusto, «gasto», pelo francês fruste, «idem»), ou tem outro significado? Porque é que não aparece nos principais dicionários?

Junta de Freguesia do Painho Administração local Painho, Portugal 5K

A Junta de Freguesia do Painho vem por este meio colocar a seguinte dúvida: qual é a origem e o significado da palavra Painho?