Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Tema: Uso e norma
João Peixoto Professor Porto, Portugal 4K

Qual é a grafia correcta: "catecumenato", ou "catecumenado"? O termo deriva do grego, com a intermediação do latim... Ambas as variantes surgem em publicações oficiais da Igreja Católica. O «velho» Morais conhece as duas formas; o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa não regista nenhuma, embora conheça os "catecúmenos"; Houaiss refere apenas "catecumenato".

Agradeço a vossa opinião.

Mário Pereira Desempregado Leiria, Portugal 6K

Hipovolemia existe só no Brasil, ou também em Portugal? É que não encontro a palavra nos dicionários.

José Oliveira Investigador Lisboa, Portugal 7K

Tenho uma dúvida em relação à pronúncia das palavras rio e riu. Sou do Norte de Portugal e sempre me habituei a ouvir uma clara diferença na pronúncia das palavras, sendo rio pronunciada como "ri-u" e "riu" como "riw", ou seja, a primeira como duas sílabas sem ditongo (ou quase como "ri-yu") e a segunda como um ditongo onde mal se ouve o "u". Mas desde que me mudei para Lisboa só ouço "riw" para as duas, ou seja, uma só sílaba. É esta a pronúncia-padrão da palavra? Outra coisa que me faz confusão é ouvir o e no início das palavras lido como "ê" em vez de "i", isto também é padrão? (ex.: "êxame", "êmoção", etc.)

Arminda Magalhães Professora Angra do Heroísmo, Portugal 10K

Na palavra contra-revolucionário, contra é, ou não, um prefixo? Eu não o vejo como tal, visto existir, no nosso léxico, a palavra contra, tendo ela uma autonomia de que não gozam os prefixos (Ex.: «Ele manifestou-se contra a posição oficial da Igreja»). Nesta minha perspetiva, a palavra contra-revolucionário seria formada por composição. Ora, à luz do novo Acordo Ortográfico, as palavras compostas onde «não se perdeu a noção de composição» mantêm o hífen, pelo que me parece que se deva grafar contra-revolucionário (contrassenso já não teria hífen, porque se perdeu a noção de composição da palavra).

Agradeço, desde já, a atenção dispensada.

Raphael Pedro Faria Neto Mecânico de usinagem Sorocaba, Brasil 7K

Respondam-me, por favor: sendo o verbo concernir transitivo indireto, é possível a construção «no que lhe concerne, tudo está bem»? Acontece que o uso do pronome lhe parece-me estranho nesse caso. Certa feita li em algum lugar que os verbos visar e aspirar, quando transitivos indiretos, não aceitam tal construção. E quanto a concernir?

Francisco Damas Técnico químico Lisboa, Portugal 4K

Estamos a escrever um procedimento de trabalho. Neste indicamos que, se acontecer a «situação X», procedemos à "interdição" de um certo equipamento. Após resolução da «situação X», deveremos proceder à "desinterdição" do equipamento. É no termo que significa o oposto de interdição que nos surgem dúvidas, porque não é uma palavra habitualmente ouvida/escrita/lida...

A palavra "desinterdição" como oposto de interdição existe? Pela lógica parece-me que sim, à semelhança de outras (ligar/desligar, coser/descoser, montar/desmontar, etc.).

Para já e para resolver provisoriamente esta questão (e arranjar um consenso na equipa) resolvermos substituir "desinterdição" por reactivação, embora ninguém tivesse ficado particularmente feliz com esta substituição porque não exprime bem o que pretendíamos.

Agradeço o vosso esclarecimento.

Sinval Paulino Jornalista Vitória, Brasil 6K

De onde vem o nome oxi usado para descrever uma droga que vem sendo usada nos centros urbanos? Esta palavra é um radical? Deve ser acentuada?

Maria Inez Lorena Revisora Itu, Brasil 8K

Encontrei no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa [VOLP da Academia Brasileira de Letras] duas grafias diferentes para o verbo bem-fazer (ou benfazer). Qual seria o correto?

Mariana Ramos Investigadora Coimbra, Portugal 5K

Uma reacção pode ser adaptativa [adj., próprio para se adaptar] (ou seja, promover uma boa adaptação) ou não o ser. Considerando que existem os termos adaptado e inadaptado, adaptação e inadaptação, podemos dizer que uma reacção que promove uma má adaptação é "inadaptativa"?

Obrigada!

Ney de Castro Mesquita Sobrinho Vendedor Campo Grande, Brasil 17K

Em uma resposta intitulada A forma por extenso de 2000.º (e de outros ordinais), de 22/11/2005, o consultor Carlos Rocha faz menção da forma dois milésimo preconizada pelo meu patrício, o gramático Evanildo Bechara, em sua Gramática Moderna do Português, 2002, sendo outrossim adotada pelo Manual de Língua Portuguesa, da autoria de Paul Teyssier, francês e estudioso do nosso idioma.

A princípio dois milésimo me causou estranheza, pois me parecia erro de concordância, mas, depois, comparando-o com outros ordinais, como seiscentésimo e oitocentésimo (respectivamente, variantes ou formas paralelas de sexcentésimo e octingentésimo), creio ter entendido por que milésimo neste caso não se pluraliza. É que o número dois funcionaria como uma espécie de prefixo numérico, o qual, ao ser aplicado a um número ordinal, não o levaria ao plural, mas apenas determinaria quantas vezes ele vale. Se o meu raciocínio estiver certo, então, dois milésimo significaria «duas vezes milésimo», assim como seiscentésimo e oitocentésimo querem dizer, respectivamente, «seis vezes centésimo» e «oito vezes centésimo».

Se o que suponho estiver correto, então, talvez o erro da nossa ortografia seria o de deixar de unir dois com milésimo, dando na escrita "doismilésimo" ou ainda "dois-milésimo".

Por outro lado, surge um dúvida: se o número dois funciona realmente como se fosse prefixo, por que, então, ele se flexiona quanto ao gênero: “duas milésima trecentésima quadragésima quinta”?

Pelo visto, se deduz que, dependendo a que dois milésimo se aplicar, ele pode aparecer como «dois milésimo», «duas milésima», «dois milésimos», «duas milésimas». Exs.: «Simão é o dois milésimo juiz a tomar posse neste Estado»; «Sebastiana é a duas milésima funcionária a ser admitida pela nossa empresa»; «Estes são os dois milésimos estudos intensivos de Química realizados nesta megaescola»; «Estas são as duas milésimas exéquias celebradas nesta catedral.» Como se vê, dois não pluraliza milésimo. Este se flexionaria somente para concordar em número (singular ou plural) e gênero (masculino ou feminino) com a palavra a qual ele se aplica, que é o que acontece com um ordinal como ducentésimo, por exemplo.

Achei que também faltaria neste caso à nossa língua um prefixo de verdade, como du- ou bi- e, no caso de ordinais maiores, tri-, quadri-, etc, o que ficaria melhor ainda, mas talvez já existam para casos como este. É que encontrei, no livro Estudos Práticos de Gramática Normativa da Língua Portuguêsa, do ano de 1968, da autoria de J. Nelino de Melo, autor brasileiro, “bimilésimo” e “bimilionésimo”, os quais, todavia, não aparecem em nenhum dicionário por mim consultado, razão pela qual gostaria de saber se são corretos e aceitáveis. A primeira ocorre, entretanto, seiscentas e trinta e cinco vezes em sítios da Web; a segunda, sessenta e oito vezes.

Por favor, o inerrante veredito do Ciberdúvidas.

Muito obrigado.