DÚVIDAS

Futuro do conjuntivo e presente do indicativo numa tradução de Vitrúvio
Atentemos neste excerto do tratado monumental de Vitrúvio que colige saberes arquitectónicos – « […] si autem natura loci impedierit […].» Traduzi-lo-ia por «mas se a natureza do lugar [o] tiver impedido», substituindo o futuro perfeito do indicativo latino através do futuro perfeito do conjuntivo português. Ora, ao fazê-lo, garanto, por um lado, que a nuance semântica apologética da tentativa se mantém e, por outro, que se respeita o sistema hipotético do português. Devido a este mesmo último entrave, o francês, cioso da dita nuance semântica, poderia traduzi-lo por «mais si la nature du lieu [l’]a empêché», visto que não se pode fazer seguir um futuro a um «si» hipotético. Agora, a tradução bastante recorrente por presente é absolutamente despropositada em português e em francês (a saber: «mas se a natureza do lugar [o] impede»/«mais si la nature du lieu [l’]empêche»). Pedia um comentário aos meus escritos, com especial enfoque sobre a importância de se salvaguardar a dita nuance semântica.
«Vem a ser», novamente
A propósito de minha consulta respondida pela professora Edite Prada em 7/3/2014, ainda ficaram obscuros (pelo menos, para mim) aspectos referentes à concordância verbal na frase que apresentei. Em virtude disso, volto ao assunto com novas frases, de estrutura semelhante. «O professor foi veementemente criticado por seu melhor amigo, que vem (venho) a ser eu mesmo.» «O professor foi veementemente criticado por seu melhor amigo, que devo (deve) ser eu mesmo.» «O professor foi veementemente criticado por seu melhor amigo, que continuo (continua) a ser eu mesmo.» «O professor foi veementemente criticado por seu melhor amigo, que passo (passa) a ser eu mesmo.» «O professor foi veementemente criticado por seu melhor amigo, que começo (começa) a ser eu mesmo.» A minha dúvida, em suma, seria a seguinte: se, quando o verbo ser é usado numa estrutura de oração relativa + pronome pessoal, a concordância se faz com esse pronome, o mesmo não deveria ocorrer quando se trata de uma conjugação perifrástica com o mesmo verbo ser? Cumpre dizer que a locução «vir a ser» (motivo de minha pergunta inicial), no Aulete Digital, tem as acepções de «chegar a ser, converter-se em»: «Se levasse a sério o estudo, viria a ser um grande pianista»; e de «ser, tratar-se de»: «Aquela que você criticou vem a ser minha mulher.» Agradeço antecipadamente.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa