DÚVIDAS

Os falantes brasileiros e o pronome lhe
Desculpem-me a presunçosa intervenção, visto que não sou nenhum douto em nossa língua, mas acho que houve um equívoco quando se disse que os falantes brasileiros empregam a forma «lhe» em substituição das formas «o», «a», «os», «as» na resposta dada pela consultora Sónia Valente Rodrigues no dia 21/06/2007. Gostaria apenas de relembrar que a substituição mais comum no português do Brasil é a do «tu» por «você», principalmente nas regiões influenciadas pelo Rio de Janeiro e por São Paulo (é verdade, isto já inclui quase todo o país, mas há exceções nos extremos sul, principalmente, e norte). Como a concordância de «você» é feita com a terceira pessoa, então o pronome pessoal «lhe» acaba por substituir o pronome de segunda pessoa e não os de terceira pessoa.As letras das músicas usadas na resposta, ao contrário do que foi dito, aplicam o «lhe» para as pessoas com quem falam e não de quem falam. Seguem abaixo trechos das músicas em questão (as aspas foram postas por mim).Tomara – Toquinho e Vinicius(trecho)Tomara que «você» volte depressaQue «você» não se despeça nunca maisdo meu carinhoE chore, se arrependa e pense muitoQue é melhor se sofrer juntoQue viver feliz sozinhoTomara que a tristeza «lhe» convençaQue a saudade não compensaCoisinha do Pai – Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos(trecho)«Você» vale ouro, todo o meu tesouroTão charmosa da cabeça aos pésVou «lhe» amando, «lhe» adorandoDigo mais uma vezAgradeço a Deus por que «lhe» fezObviamente, não sou dono da verdade e agradeço imensamente que me corrijam se eu estiver enganado.Grato pelo bonito trabalho deste site e pela possibilidade do livre debate.
O advérbio talvez e o modo conjuntivo
«Ela fez menção de levantar-se, ir embora, porém meu olhar acolhedor ou talvez o medo do ridículo a retiveram.» Sabe-se que o termo talvez, quando anteposto ao verbo, obriga ao modo subjuntivo. A frase acima envolve, entretanto, alguma particularidade, pois o advérbio se refere apenas a um dos núcleos do sujeito composto. Mesmo assim, deveria ser «retivessem», supondo a conjunção com caráter aditivo? Obrigado.
Frase vs. oração
[Acedi a um sítio e] deparei com a seguinte pergunta de múltipla escolha: «Diga quantas orações se encontram neste parágrafo: "Atenção! Silêncio! Gritava a professora, enervada, quando o director entrou."» Duas, três ou quatro? Segundo o que está assinalado, há aí quatro orações. Ora, no meu tempo, as orações eram contadas de acordo com o número de verbos existentes, pelo que apenas consigo encontrar duas, apesar de poder estar elidida uma forma verbal antes de "enervada". Serei eu quem está a ser obtusa? Antecipadamente grata pela vossa resposta.
Cabeça-de-lista, substantivo comum de dois
Gostava que comentassem esta frase (in Público de 17/07/2007): «Helena Roseta é dos cabeças de lista vencedores uma das que mais competências tem na área autárquica e urbanismo, foi presidente da Câmara de Cascais, é arquitecta de profissão e preside à respectiva ordem.» Para além da deficiente pontuação, pergunto: a) Helena Roseta é dos cabeças de lista ou das cabeças de lista? E cabeça de lista não devia escrever-se com hífenes (cabeça-de-lista), tal como cabeça-de-chave, cabeça-de-ponte, cabeça-de-vento, por exemplo? b) «…uma das que mais competências tem», ou «…uma das que mais competências têm»? Muito agradecido.
Permitir com orações subordinadas
Gostaria, primeiramente, de agradecer pela oportunidade.Em um concurso foi elaborada a seguinte questão:«Considerando as funções sintáticas das orações apresentadas abaixo: "Permite chegar à abstração completa da realidade" e "Permite que se chegue à abstração completa da realidade" NÃO podem substituir-se porque são diversas.»Pergunto: do que se trata [quando se diz] «serem diversas» as orações?Grata.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa