Mais do que novas palavras e expressões de uso incomum ou com um sentido semântico sociopolítico distintivo, como aconteceu nos primeiros 10 anos do 25 de Abril — foram, entre tantos outras, os casos de «descolonização, «militância», «reforma agrária», «retornado» ou «saneamentos» — , para este meio centenário da restauração da democracia em Portugal são mais assinaláveis os modismos recorrentes atualmente no espaço político-mediático, mas também termos que retratam acontecimentos e factos mais contemporâneos. Alguns, valha a verdade, escusados tropeções lexicais...
[Confusão recorrente, e nos mais variados temas, como se assinalou no apontamento «Alfabetização com "aderência" positiva»
2. — Assédio
[Palavra muito lida e ouvida nos últimos tempos — e pelas piores razões. Do assédio moral ao assédio sexual e aos abusadores.]
3. — Acordos
[Sejam eles de concertação social, de Minsk ou Ortográficos, raramente se ouve dizer bem o plural de acordo.]
4. — Afrodescendente
[Segundo o estudo Africanos e Afrodescendentes no Portugal Contemporâneo: Redefinindo práticas, projetos e identidades, da autoria do antropólogo João Vasconcelos, «a população de origem africana e afrodescendente em Portugal é numerosa embora difícil de quantificar, uma vez que as estatísticas de imigração e relativas a estrangeiros residentes no país não dão conta da enorme parcela daqueles que possuem nacionalidade portuguesa.» De qualquer modo, estima-se que só os nacionais de países africanos residentes em Portugal em 2009 eram cerca de cento e vinte mil, na sua larga maioria provenientes dos PALOP. O grosso desta população concentra-se na Área Metropolitana de Lisboa, residindo em bairros sociais degradados ou em bairros de autoconstrução, com empregos pouco qualificados e mal remunerados: os homens na construção civil e as mulheres no trabalho doméstico ou em empresas de limpeza e restauração sem contrato.]
5. — Ajustamento(s)
[Dá para tudo o que queira ser dito por quem desvaloriza o rigor da escrita: mexida nos impostos, liquidação de contas, despedir trabalhadores em nome de um «ajustamento empresarial», até ao sentido original da palavra («ajustamento do vestido pela modista»).]
6. — Ajustes (diretos)
[Uma prática recorrente do crime de prevaricação, em coautoria, previsto e punido pelo artigo 11 da Lei n.º 34/87, de 16 de julho]
[Climático ou climatológico são preferíveis, porque climatérico é considerado um galicismo. A Justiça Climática tem estado no centro das reivindicações dos jovens ativistas por toda a Europa, encabeçados pela jovem sueca Greta Thunberg.]
8. — Bancocracia
[Purismo linguístico para definir «o governo dos bancos, pelos bancos e para os bancos.»]
9. — Bitcoin
[Considerada a maior bolha especulativa da história da humanidade em processo de implosão.]
Cf. Criptomoeda
10. — Blogosfera
[Palavra há muito dicionarizada com a forma aportuguesada; formou-se de blogue + esfera.]
Cf. A Blogosfera Portuguesa: Da Coluna Infame ao ocaso de uma era
11. — Bombástico e o seu duplo sentido
[Modismo recorrente que passou a ser usado já não no sentido original de «cruel» ou «violento», mas para descrever algo «fantástico», «extraordinário».]
13. — Casos e casinhos
[Desde que assumiu funções a 30 de março de 2022, a maioria absoluta do Partido Socialista foi marcada por diversos «casos» e «casinhos», que marcaram a a sua governação: 13 demissões e vários protestos contra a crise na habitação, educação e saúde.]
14. — Cauda (da Europa)
[Expressão recorrente para definição da situação socioeconómica de Portugal, que se encontra na 30.ª posição entre os 151 países analisados num estudo da Faculdade de Economia da Universidade do Porto e da Universidade de Saint Gallen (Suíça), no ano de 2023, marcado por um aumento sem precedentes da inflação e pela guerra na Europa.]
15. — Ciber
[O elemento de composição ciber- exprime a noção de internet ou da comunicação entre computadores. Exemplos: Cibercafé, Ciberdúvidas, Cibercultura, Ciberespaço, Cibernauta, Cibersegurança, Cibersexo, etc., etc.]
16. — Colaborador
[Para o patronato e respetivos difusores mediáticos já não há trabalhadores, tão-só colaboradores. Sequer funcionários.]
17. — Colorismo
[Lastimáveis episódios de racismo e de xenofobia nos últimos anos em Portugal deram relevo mediático ao termo colorismo — também chamado de Discriminação pela cor da pele, «uma forma de preconceito ou discriminação em que pessoas de outras etnias ou nacionalidades são tratadas de forma diferente com base em implicações sociais que vêm com os significados culturais ligados à cor da pele.»]
Cf. Vamos falar sobre colorismo!
18. — Comboio de tempestades
[A designação das tempestades — por exemplo, Aline, Bernard, Céline, Domingos, Elisa, Frederico, Géraldine, Hipolito, Irene, Juan, Karlotta, Louis, Monica, Nelson, Olivia, Pierrick, Renata, Sancho, Tatiana, Vasco e Wilhelmina — tem o propósito de «chamar a atenção da população e dos meios de comunicação para a prevenção e a salvaguarda de vidas e bens em situação de risco» assim como «melhorar a comunicação entre os serviços de meteorologia e com a estrutura de Proteção Civil, facilitando a monitorização e estudo de depressões ao longo do seu percurso sobre a Europa». No caso de Comboio de tempestades, o nome aplica-se quando ocorre uma série de depressões atmosféricas com chuva de grande intensidade.]
19. — Competitividade, e não competividade
[Raros são os políticos, sindicalistas e, até, jornalistas do audiovisual que não tropeçam na competividade ...O mesmo tropeção acontece com precaridade, em vez de precariedade.]
20. — Constrangimentos
[Tudo passou a denominar-se constrangimentos no tão mal tratado Serviço Nacional de Saúde, uma das grandes conquistas do 25 de Abril — desde a fuga de médicos para os privados até ao encerramento de importantes especialidades hospitalares.]
21. — Costismo
[Durou nove anos o período de governação de António Costa como primeiro-ministro (2015-2024), que deu entretanto lugar ao montenegrismo e, com o novo secretário-geral do Partido Socialista, no pedronunismo. E, antes, ao longo destes 50 anos de democracia, convivemos com o spinolismo, o otelismo, o gonçalvismo, o eanismo, o soarismo, o cavaquismo, o guterrismo, o sampaísmo, o barrosismo, o santanismo, o socratismo e o passismo. E tivemos também o curto período pintasilguista, com Maria de Lurdes Pintasilgo — como a primeira mulher (e única, até ao presente) no cargo de primeira-ministra em Portugal e, depois, com a sua candidatura às eleições presidenciais de 1986. Com outra mulher, a chefe de orquestra Joana Carneiro, impôs-se o feminino de maestro até aí pouco usado: maestrina. Igualmente com outros relacionados com cargos e profissões tradicionalmente exercidos só por homens, tais como procuradora, juíza, notária, barbeira, bombeira ou árbitra.]
Cf. A continuada resistência ao género feminino + Palavras à procura do feminino
22. — Covid-19
[A pandemia do covid 19 contribuiu para a nossa língua com uma série de nomes até aí desconhecidos. Por exemplo: covidário, covideiro, covideos, covidexit, covidiano, covidices, covidiota, covidivórcios, covifenz, etc., etc.]
23. — Desamigar
[O verbo desamigar ganhou novo contexto por via do Facebook, quando se desagrada a alguém, deixando a pessoa que já não é considerada amiga de constar da respetiva lista de amigos, não tendo acesso ao perfil e informações de quem a desamigou, se este não for público.]
24. — Domicídio
[O neologismo domicídio foi criado na cobertura mediática brasileira sobre os trágicos acontecimentos resultantes da invasão militar israelita na faixa de Gaza, numa adaptação do inglês domicide, «destruição deliberada programada de casas e lares», formado a partir de domestic («doméstico») ou domicile («domicílio») e -cide, elemento cognato do português -cídio, que veicula a noção de «assassínio». Para o português, analistas da guerra têm usado o termo domicídio, uma mistura de «domicílio» com «homicídio» para descrever a demolição das residências, considerada deliberada. Nesses casos, a destruição vai além dos danos materiais, comprometendo também os sensos de pertencimento e de dignidade da população civil palestina que perde assim as suas casas.]
Cf. A dimensão da destruição na faixa de Gaza no fim de 2023 + Destruição em Gaza faz especialistas pedirem que crime de «domicídio» seja criado + Relatores da ONU acusam Israel de «domicídio»
25. — Empoderamento
[Do inglês empowerment (= empoderamento) é uma das palavras mas faladas ultimamente, muito pela afirmação profissional das mulheres.]
Cf .O que é ser uma mulher empoderada? Descubra aqui!
26. — Era suposto
[Absolutamente dispensável o uso do estrangeirismo «é suposto», como assinalou no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa a professora Maria Regina Rocha: «É cada vez mais vulgar o emprego na rádio e na televisão portuguesas do estrangeirismo "é suposto" + infinitivo, que leva, por vezes, a construções incorretas, como a seguinte: "As conclusões dessa comissão científica independente foram sobretudo criticadas por quem se opunha a esta metodologia e pelas populações dos locais onde estão supostos fazer-se a coincineração." Exigia-se aqui um singular (é suposto), mas diversas expressões portuguesas poderiam substituir o dispensável estrangeirismo utilizado: supõe-se, pretender-se, ser previsível, pensar-se, estar previsto, prever-se, projetar-se, etc.»]
27. — Evento
[Já não há acontecimentos, espetáculos, sucessos, ou êxitos. Tudo passou a ser um evento...]
28. — Expectável
[Termo usado para tudo e para nada — num verdadeiro empobrecimento vocabular, como se não existissem tantas alternativas que só enriquecem o discurso minimamente variado: provável, possível, previsto, prenunciado, esperado, aguardado, desejável, almejado, desejado, ensejado, etc., etc., etc.]
29. — Fantasmas digitais
[O processo de desmediatização, próprio do ambiente das redes sociais, desencadeia, segundo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, impactos sociais e políticos bastante acentuados, sendo uma ameaça para a democracia representativa.]
30. — Geringonça
[Tal como bem recordou o jornalista Henrique Monteiro num artigo publicado no semanário Expresso, aqui transcrito, a palavra geringonça já leva 475 anos de dicionarização na nossa língua. Mas foram precisos quase 500 anos para ela se afirmar no dia a dia dos portugueses, a tal ponto que até foi nomeada palavra do ano 2016 pela Porto Editora. Tudo e apenas por razões políticas: quando da formação da aliança, entre 2015 e 2019, dos principais partidos da esquerda portuguesa (Partido Socialista, que era o Governo, Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português e o Partido Ecologista "Os Verdes".]
Cf. Geringonça a palavra que deu a volta ao texto
31. — Guglar
[Como se referiu no registo sobre os 45 anos do 25 de Abril, guglar é uma das palavras resultantes da constante renovação lexical da era digital, uma atualização que conta com um sem número de vocábulos e expressões adaptados já à língua portuguesa, tais como, também, internetês, impressão digital ou identidade digital. Outros, entrados já, também, no vocabulário de qualquer falante lusófono, vão mantendo, porém, a forma original inglesa, tais como glamping ou vloger, por exemplo. E há ainda as que acusam um processo de adaptação ao português ainda em curso, exibindo marcas como a flexão verbal em -ar: deletar, scanear ou guglar.
32. — Governança
[Termo não consensual, a governança, como é descrito pelos seus apologistas, «compreende essencialmente os mecanismos de liderança, estratégia e controlo postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a atuação da gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da sociedade.»]
33. — Hidrogénio verde
[Tecnologia baseada na denominada geração de hidrogénio (um combustível universal, leve e muito reativo, obtido por meio de um processo químico conhecido como eletrólise. Um método que utiliza a corrente elétrica para separar o hidrogênio do oxigênio que existe na água. Por esta razão, se essa eletricidade for obtida de fontes renováveis, então produziremos energia sem emitir dióxido de carbono na atmosfera.]
34. — Humanitário vs. humano
[Outro recorrente modismo...errado: Quando é que um drama pode ser "humanitário"?!. Tal como o permanente erro "de encontro a" vs. "ao encontro de" ou quando há diferença entre "maremoto" e "tsunami" ]
35. — Implementar
[Modismo generalizado destes tempos de vocabulário reduzido ao uso “em circuito fechado” nos “media”.]
36. — Inteligência Artificial
[A Inteligência Artificial (sigla: IA; do inglês: artificial intelligence, sigla: AI) é descrita como um «campo de estudo multidisciplinar que abrange varias áreas do conhecimento, cujo conjunto de novas tecnologias que integra permitem aos aparelhos smart executarem várias funções avançadas de modo quase autónomo.» É considerado um marco histórico na computação moderna, com grandes potencialidades e outros riscos.]
Cf. Cientistas veem riscos e benefícios da inteligência artificial
37. — Jiadista, e não jihadista
[Os que persistem na anómala grafia jihadista fazem tábua rasa ao facto de, no português, não haver palavras com o h entre vogais.... desde a reforma ortográfica de 1911. Se o termo entrou na língua portuguesa, então, tem de assumir a (lógica) feição portuguesa: jiadista – tal como jiade, de onde se formou, e bem, o substantivo jiadista.]
38. — Lusofonia
[Muitas siglas se impuseram nestes 50 anos do 25 de Abril. Desde os primórdios do PREC (caso do COPCON, por exemplo) às dos partidos políticos finalmente legalizáveis no novo Portugal democrático — grande parte dos quais surgidos só depois de 1974, como também as das organizações sindicais e empresariais. Ou as de mais recente data como o SNS, o PRR, a CPLP, os PALOP ou a UE, entre tantas outras. Há uma, porém, a que cumpre dar o devido realce: a do Movimento das Forças Armadas, a cujos então capitães devemos a liberdade restaurada, o fim da censura, da PIDE e da guerra colonial. Uma história para a História contada na série documental de nove episódios A Conspiração — o último grande trabalho do realizador António-Pedro Vasconcelos (1939 — 2024) para a RTP.]
40. — Milícias digitais
[Influenciadores digitais passaram a utilizar plataformas online, como o Twitter, o YouTube e o WhatsApp, para criar narrativas de opinião em apoio a determinadas posições de governos e partidos por regra de extrema-direita, como aconteceu no Brasil e nos EUA, com as chamadas milícias digitais.]
Cf. Pelo direito à realidade, é preciso conter as milícias digitais e as fake news + Entenda o inquérito da milícia digital aberto pela Polícia Federal e que levou à prisão de Jefferson + Inquérito das Milícias Digitais + Milícias digitais: fragmentos de pedagogias ciberfascistas
41. — Narrativa
[A palavra narrativa já era um modismo no discurso mediático, ganhando entretanto o surpreendente novo sentido de «intriga» de «enredo ficcional» e mesmo de «mentira» — como observa a professora Carla Marques a propósito de uma entrevista televisiva do ex-primeiro-ministro português José Sócrates]
42. — Nómadas digitais
[Nómadas digitais são trabalhadores que, usando unicamente como instrumentos de trabalho um computador e um smartphone, desempenham a sua atividade profissional (daí o termo digital) a partir de qualquer lugar remoto no mundo. O nomadismo digital reflete um estilo de vida surgido no século XXI, para os trabalhadores que não possuem uma residência fixa e trabalham de qualquer local utilizando a internet. Ou seja, ser nómada digital implica trabalhar remotamente, sem necessitar de se deslocar a uma base fixa, como um escritório.]
Cf. Todos querem ser nómadas digitais. Eis como o fazer de forma ética + Nómadas digitais: os novos horizontes e desafios jurídicos de uma profissão emergente
43. — Polígrafo
[Um polígrafo ou, como é vulgarmente conhecido, detector de mentiras, é um aparelho que mede e grava registos de diversas variáveis fisiológicas, tais como pressão arterial, pulso, respiração, e condutividade cutânea enquanto um interrogatório é realizado, supostamente para tentar identificar mentiras num relato. Vários media portugueses têm já programas de fact-checking, como são denominados em inglês, de desmontagem das noticias falsas e da desinformação muito propagadas nas redes sociais em particular, nestes tempos de extremada polarizacão política no país.]
Cf. Polígrafo Portugal + Detector de mentiras tem novo substituto + O que é checagem de factos — ou fact-checking?
44. — Resiliência
[Provindo o latim resilientĭa, particípio presente neutro plural de resilīre («saltar para trás; recusar vivamente») é um termo originário da engenharia. O conceito de resiliência teve origem na engenharia, cujo conceito aponta a capacidade de resistência dos materiais à adversidade. Rapidamente "saltou" para a psicologia, que define a resiliência como a capacidade do indivíduo resistir às dificuldades. E assim se tornou num modismo tão generalizado que secou por completo qualquer dos seus 21 sinónimos, utilizáveis conforme as situações especificas de vida: resistência, adaptação, reação, superação, recuperação, força, firmeza, resistência, fibra, garra, estoicismo... Tal como sucede com adjetivo icónico, outro modismo generalizado nos media portugueses como se não houvese sinonímia correspondente mais precisa conforme o contexto específico (simbólico, emblemático, histórico, representativo, único, popular...).
Cf. O que é resiliência? Um guia completo sobre o assunto + Recepcionou suporte para experienciar a sua resiliência?
45. — Reunir ≠ reunir-se
[A confusão é frequente. Como esclareceu o saudoso professor F. V. Peixoto da Fonseca (1922-2010), o verbo reunir conjuga-se pronominalmente – reunir-se – quando significa «juntar-se», «agregar-se», «constituir-se para funcionar». Por exemplo: «O presidente reúne-se com...». Outros exemplos: «Os deputados reuniram-se para...», «Os trabalhadores reuniram-se em plenário.» Já no sentido de «congregar pessoas», «juntar (coisas), «ligar» ou «agrupar», o verbo reunir utiliza-se transitivamente. Ou seja, pede um complemento direto (reunimos alguma coisa, pessoas ou animais; isto é, juntamos, agrupamos algo que se encontra disperso, ou nos reunimos com alguém). ]
46. — “Rónaldo” pegado de estaca
[O considerado melhor futebolista português de sempre tem tanto de mediatismo quanto a errónea prolação do nome: "Rónaldo”, com o o artificialmente aberto. A avaliar pela recorrência, pegou mesmo de estaca no audiovisual português....]
Cf. As três diferentes pronúncias da vogal o
47. — Salganhada vs. salgalhada
[Muito se ouve... mal. Como escreveu a linguista Sandra Duarte Tavares, salganhada é uma deturpação da palavra salgalhada. «Esta, sim, representa o conceito que atribuímos a salganhada: "confusão, mixórdia, trapalhada" e é o único termo atestado nos dicionários (à exceção do da Academia das Ciências de Lisboa...)». Idêntica confusão se passa com a palavra soalheiro, trocado quase sempre na comunicação social por solarengo.]
48. — Talibã/Talibãs
[Talibã, no singular, talibãs, no plural, é a forma aportuguesada (e recomendável) do termo taliban, que vem de taleb («estudante», com o sufixo an, que faz o plural, no original). O movimento fundamentalista islâmico talibã – ou, simplesmente, o Talibã – emergiu com a retirada soviética do Afeganistão em fevereiro de 1989, impondo a lei islâmica mais brutal. Com a debandada das forças militares dos EUA e seus aliados da OTAN, o seu regresso ao poder em agosto de 2021 ficou na ordem dia internacional pelas mais sinistras razões.]
49. — Teletrabalho
[Decretado em Portugal no âmbito das medidas excecionais relacionadas com a covid-19, o teletrabalho veio para ficar nas relações laborais e... na língua. Assim como, para o ensino, termos como telescola, telensino ou o projeto #estudoemcasa.]
50. — Zoom
[Potenciado também no período da pandemia de covid-19, em resultado das situações de confinamento ou de isolamento obrigatório, o zoom foi uma das plataformas mais utilizadas para a promoção de reuniões, aulas, palestras, conferências e até encontros entre amigos. Com o novo normal pós-covid-19, aí está ele ainda mais aproveitado em praticamente todos os setores da sociedade: reuniões familiares e de amigos à distância, aulas, palestras, conferências, entrevistas e espetáculos de qualquer parte do mundo, apresentação de livros, videoconferências, etc., etc.]
Cf. Zoom: TUTORIAL & DICAS (para iniciantes) + Piratas informáticos em teletrabalho. Zoom é o principal alvo
N.E. — Sobre como o 25 de Abril, evento marcante na sociedade portuguesa do século XX, funcionou como agente de mudança e inovação lexical, (re)leiam-se os textos anteriores sobre este tema: Palavras que nasceram com a década [1974-1984], O 25 de Abril no léxico português, Nos 30 anos do 25 de Abril, 47 palavras nos 47 anos do 25 de Abril, 48 expressões e palavras nos 48 anos do 25 de Abril e O 25 de Abril e a afirmação da língua portuguesa em África.