Como fixar facilmente a (grande) diferença entre dar um encontrão e (precisamente) o seu contrário... – nesta crónica do autor, publicada no jornal “i” de 4 de setembro de 2014.
Na televisão, a jovem empresária explicou o segredo do êxito: a sua empresa havia desenvolvido um produto (ou um serviço) que ia «de encontro à necessidade dos consumidores».
Talvez ela quisesse afirmar exactamente aquilo. O mercado está repleto de inutilidades e irrelevâncias, há muita gente a vender gato por lebre ou a comprar lebre por gato. O êxito de muitos produtos (ou serviços) pode residir precisamente no facto de serem irrelevantes, inúteis, nocivos ou perigosos.
Talvez a entrevistada quisesse afirmar que havia lançado um produto que ia «ao encontro da necessidade dos consumidores». As duas locuções são parecidas mas não são iguais.
Daí o conselho: se a aventura empresarial der com os burros na água, que se mude de estratégia e se produza alguma coisa que vá ao encontro da necessidade dos consumidores. Talvez resulte, nunca se sabe.
Ir de encontro a alguma coisa é estar destinado a dar um encontrão. É uma colisão, um choque: «O automóvel foi de encontro a uma parede.» Ir ao encontro de é corresponder a alguma coisa, coadunar-se, concordar, realizar um movimento de aproximação: «No momento da morte, a alma vai ao encontro do Criador.»
Para fixar a diferença, basta memorizar uma frase, que utiliza os dois exemplos citados: «Distraiu- se, foi de encontro a uma parede, não resistiu aos ferimentos e foi ao encontro do Criador.» Se isto não servir, é tentar uma outra: «Estampou-se contra a parede e bateu as botas.» Mais fácil, igualmente eficaz.