Um erro muito comum, a confusão entre adesão e aderência, cometido desta feita por quem mais obrigação tinha de evitar "misturas" de dois nomes formados a partir do mesmo verbo, aderir. «São, ambos, filhos da mesma mãe, vivem juntos, mas são diferentes», lembra-se nesta crónica sobre o português em Angola, transcrita do semanário Nova Gazeta, de 2 de julho de 2015.
Responsáveis da Educação no Mungo, Huambo, mostram-se «bastante satisfeitos» com o processo de alfabetização que, desde 2007, ano em que começou a ser implementado [nesta] província [angolana], já permitiu que mais de oito mil pessoas aprendessem a ler e a escrever.
Em declarações à agência de notícias Angop, o responsável da Educação no Mungo registou que a «aderência» à alfabetização tem sido «positiva», salientando que «as mulheres são as que aderem ao programa em maior número».
Para o chefe da Repartição da Educação local, «a [aderência] feminina representa o interesse que as mulheres têm em superar-se, por forma «a melhor aproveitarem o programa de desenvolvimento destinado à mulher rural».
Enquanto cidadão interessado na redução da iliteracia em Angola, preocupa-me – e devia preocupar também as autoridades – o facto de a alfabetização registar pouca «aderência» dos homens. A menos que haja algo a ser mal aplicado nesse programa que está a ser assegurado por 71 professores e conta com a participação de várias organizações religiosas e políticas.
A solução talvez passasse por separar as coisas. Ou seja, homens num espaço e mulheres noutro. É o complexo de inferioridade ou simplesmente não gostar de misturas? O verbo aderir, por exemplo, forma dois nomes – aderência e adesão – que não admitem ‘misturas’. São, ambos, filhos da mesma mãe, vivem juntos, mas são diferentes.
Só as pessoas é que aderem a eventos como manifestações sociais, políticas ou religiosas; a programas de alfabetização, etc., etc. Nesses casos, quando são as pessoas a aderir, há adesão.
Já aderência ocorre, por exemplo, quando nos referimos a objectos, coisas e/ou substâncias. Há aderência dos pneus ao pavimento, da fita adesiva à pele, da cola ao papel.
Eu estou satisfeito com a adesão das mulheres ao programa de alfabetização, mas preocupado com a pouca aderência dos pneus de muitos carros ao asfalto. Muitos pneus são ‘carecas’ e não têm boa aderência. Por isso, a polícia realiza palestras sobre a sinistralidade rodoviária e tem registado grande adesão dos taxistas.
Crónica publicada na coluna do autor, Professor Ferrão, no semanário angolano Nova Gazeta, do dia 2 de julho de 2015. Manteve-se a grafia seguida ainda em Angola, anterior ao Acordo Ortográfico.