Na esteira dos parlapiês e das coisas escanifobéticas (ou escaganifobéticas!), há, entre tantas outras, mais uma palavra de uso bastante frequente, mas que, para grande surpresa de todos nós, não se encontra consagrada nos nossos dicionários: salganhada!
Trata-se de uma deturpação da palavra salgalhada. Esta, sim, representa o conceito que atribuímos a salganhada: «confusão, mixórdia, trapalhada» e é o único termo atestado nos dicionários (à excepção do da Academia das Ciências de Lisboa...). Diz a etimologia que provém de salgar + -alho + -ada.
A troca de um lh por um nh, que se deveu — presumo eu — a um maior conforto fónico, deu origem a uma nova palavra, que, apesar de não ter encontrado o seu lugar nas páginas dos dicionários, vingou entre os falantes.
E vamos lá ver: são, ou não, os falantes que fazem a língua?!
Será que uma palavra existe apenas se estiver consagrada nas obras lexicográficas?
Do léxico de uma língua fazem parte não só as palavras atestadas, mas também todas as palavras que já caíram em desuso (os arcaísmos), todas as palavras novas (os neologismos), todas as palavras das variedades dialectais, todas as palavras de registo popular e calão, todas as palavras possíveis... E por palavras possíveis entende-se as palavras que inventamos, mas que respeitam as regras morfológicas da língua.
Basta estarmos atentos às produções linguísticas das crianças! Cada palavra por elas inventada é, com certeza, uma palavra!
Inventam-se palavras, criam-se novos significados para as já existentes. E a língua é assim mesmo: viva e com vida em abundância.