Há cinquenta anos, quando se deu a Revolução dos Cravos, a palavra liberdade foi entoada nas ruas de muitas localidades portuguesas de modo entusiástico e frenético, quase como se fosse uma palavra de ordem que ajudaria a mudar Portugal para sempre. Revivendo algumas imagens em arquivo daquele dia, verificamos que liberdade era frequentemente cantada pela multidão expectante e esperançosa de um futuro menos austero e mais livre. Depois da saída dos militares para as ruas, na madrugada de 25 de abril de 1974, e com a rendição do Presidente do Conselho de Ministro, Marcello Caetano, anunciada às 20h05 desse mesmo dia, passou-se a considerar que o povo português viveria em liberdade, conceito que, nos dias de hoje, se confunde com o próprio dia da revolução. Mas que significado(s) se atribui(em), então, ao termo liberdade? E que história tem este vocábulo que dá nome ao feriado que assinala a revolução, conhecido comummente em Portugal por «dia da liberdade»?
Pesquisando em alguns dicionários de português como, por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL) ou a Infopédia, a palava liberdade apresenta 14 aceções possíveis. Porém, os significados que mais vezes lhe são atribuídos dizem respeito à «condição do ser que pode agir consoante as leis da natureza» (Infopédia) ou ainda «direito de um cidadão agir segundo a sua própria determinação, dentro dos limites fixados pela lei» (DLPACL). Quer isto dizer que liberdade é, no fundo, a possibilidade de proceder consoante a nossa própria vontade tendo em conta os modelos impostos. Neste sentido, este termo pode ocorrer acompanhado de outros em expressões como «liberdade individual», que designa justamente «garantia que todos os cidadãos têm de não serem impedidos do exercício dos seus direitos, exceto nos casos determinados pela lei» (Infopédia) ou também «liberdade de consciência», que tem como sentido «direito de professar as opiniões religiosas e políticas que se julgarem verdadeiras» (Infopédia).
A palavra liberdade pode ainda variar o seu sentido consoante a área em que é usada. Do ponto de vista político, os dicionários definem liberdade como «condição de autodeterminação de um povo ou de uma nação; estado do país que não está dependente de um poder estrangeiro» (Infopédia). Neste campo, liberdade está associada a expressões como «liberdade de imprensa» relativa ao «direito que os meios de comunicação social têm de expressar e divulgar opiniões e factos, sem censura prévia» (DLPACL) ou «liberdade de culto» definida como «princípio político que põe em pé de igualdade, num território, todas as religiões e o seu exercício devocional» (DLPACL). Já do ponto de vista filosófico, entende-se liberdade como a «capacidade própria do ser humano de escolher de forma autónoma, segundo motivos definidos pela sua consciência» (Infopédia) ou «livre-arbítrio ou o poder de decidir sem motivos, como manifestação absoluta da vontade» (DLPACL).
A sua origem está na palavra latina libertāte, que era utilizada para descrever a «condição de pessoa livre» (DLPACL). Deste modo, desde o seu princípio, liberdade é um conceito relacionado com o poder de decidir por si e de forma independente. Nesta perspetiva, após a revolução de 25 de abril de 1974, liberdade foi, provavelmente, a herança mais importante deste acontecimento. Resta saber, 50 anos depois da sua conquista, o que pretendem os portugueses fazer com ela.