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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, após as eleições legislativas de 10 de março, declara-se a vitória, por escassíssima margem, da coligação Aliança Democrática (AD) e, já na madrugada de 21/03/2024, é indigitado como primeiro-ministro o líder desta formação política, Luís Montenegro. A formação e continuidade do novo governo depende da negociação de equilíbrios parlamentares que se preveem frágeis, disto mesmo dando conta algumas expressões e neologismos recorrentes na comunicação social. Por  exemplo, «não é não», resposta de Montenegro à eventualidade de um acordo com o partido Chega; «negociações ad hoc», designação do cenário previsível do novo governo para a aprovação das medidas mais prementes – mantêm-se as reclamações salariais dos professores, das forças de segurança, dos profissionais de saúde e dos oficiais de justiça –, nomeadamente no âmbito do orçamento retificativo, seja com o Partido Socialista, seja com a Iniciativa Liberal e com o próprio Chega; por consequência, fala-se em «acordos à direita e/ou  acordos à esquerda», com o plural acordos raramente conforme a prolação recomendada, com o fechado; e, em alusão crítica aos apoiantes do Chega, avulta «“tiktokada” bolsonarista» (ver Público, 20/03/2024), formada por um derivado de TikTok, nome da conhecida aplicação, a que se associa o afixo de valor depreciativo -ada, e bolsonarista, outro derivado de um nome próprio famoso, Bolsonaro. Em O Nosso Idioma, um trabalho da consultora Inês Gama expande a breve lista aqui apresentada e identifica algumas confusões nos usos lexicais de políticos e profissionais dos media que caracterizam o momento político vivido em Portugal.

2. Ainda no contexto das eleições portuguesas, pergunta-se se o termo deputado pode ser sinónimo de mandato e eleito. A resposta faz parte do conjunto de seis que atualizam o Consultório e abrangem outros tópicos: o topónimo Nozedo (Bragança), a pronúncia do helenismo lógos, um caso de metonímia, a colocação pronominal depois do quantificador cada e os valores modais do verbo pensar.

3.O que faz uma perguntóloga? Tomando contacto com a área da filosofia para crianças, o consultor Paulo J. S. Barata revela em O Nosso Idioma a etimologia e o significado dos neologismos filocriatividade e perguntologia, além de avaliar a sua viabilidade.

4.O japonês integra várias palavras com origem no português, as quais se fixaram nesta língua sobretudo entre a segunda metade do século XVI e os primeiros decénios do século XVII. Em Diversidades, um apontamento da consultora Sara Mourato aborda dois desses empréstimos: kompeitō e kasutera.

5. Na Montra de Livros, apresenta-se Les mots diversement rangés. Grammaire Systématique du Portugais, de R. A. Lawton (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2024), uma gramática do português escrita em língua francesa que se afirma pela diferença teórica e metodológica do seu quadro de análise.

6. De outras publicações, transcrevem-se dois textos com a devida vénia. Nas Controvérsias, "Qual é o masculino de dona de casa", da ilustradora e ativista Clara Não (Expresso, 18/03/2024); e, na rubrica Ensino, "Escola pública: carta aberta ao futuro Governo", do professor e geólogo Galopim de Carvalho (Público, 20/03/2024).

7. Regista-se com pesar o falecimento do poeta português Nuno Júdice em 17 de março de 2024. Sobre o lugar que ocupa na literatura de Portugal e acerca da sua ação em cargos públicos com impacto no ensino e na cultura, leia-se "Ironia e melancolia: na morte de Nuno Júdice", de Fernando Pinto do Amaral (Público, 18/03/2024), e "Morreu o poeta Nuno Júdice" (RTP, 18/03/2024). Na Antologia, são quatro os textos deste autor, todos à volta de questões da língua e da linguagem.

8. Entre atividades e eventos ligados à língua portuguesa e às suas literaturas, assinalam-se o Dia Mundial da Poesia em 21 março, a propósito do qual se sugere a leitura de "Poetisa inferioriza?"; a inauguração em 19 de março da Cátedra Lídia Jorge na Universidade Federal de Goiás, numa cerimónia que contou com a presença da própria escritora*; e a Semana da Leitura, que decorre de 18 a 23 de março, numa iniciativa do Plano Nacional de Leitura.

* Ler "Lídia Jorge: Ideia de português ser preponderante 'caiu por terra'" (Diário de Notícias, 20/03/2024), notícia que dá conta de declarações prestadas pela escritora acerca da língua portuguesa e da sua variação.

9. Temas de três dos programas que, na rádio pública portuguesa, são dedicados ao português:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 22/03/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), a professora e linguista Isabel Margarida Duarte, (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), e Maria de Lurdes Gonçalves, coordenadora do Ensino do Português na Suíça, discorrem sobre a didática aplicável ao ensino do Português Língua de Herança como idioma pluricêntrico.

– No programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 24/03/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 30/03/2024, 15h30*), abordam-se as comemorações oficiais do V Centenário de nascimento de Luís de Camões numa conversa com a sua comissária, a professora Rita Marnoto (Universidade de Coimbra). Ainda a diferença entre adesão e aderência, num apontamento gramatical de Inês Gama.

– Em Palavras Cruzadas (Antena 2), programa realizado por Dalila Carvalho, as emissões de 25 a 29 de março (segunda a sexta, às 09h50* e 18h50*) são dedicadas aos acrónimos do mundo do trabalho, numa entrevista com João Gata, membro organizador do Mental – Festival de Saúde Mental, cuja 8.ª edição tem lugar entre 11 e 25 de maio.

*Hora oficial de Portugal continental.

10. De 25 de  março a 8 de abril, faz-se uma pausa nas atualizações regulares do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, coincidindo assim com a interrupção escolar do período da Páscoa. Fica também inativo o acesso ao formulário para envio de questões e, portanto, durante os próximos dias, não haverá novas respostas no Consultório. Contudo, a plena atividade é retomada em 9 de abril, e, entretanto, de modo mais espaçado, as atualidades e novos artigos sobre a língua portuguesa continuarão a marcar aqui presença. Como sempre, mantém-se disponível a consulta de todo o vasto arquivo do Ciberdúvidas, constituído por perto de 38 000 respostas e mais de 12 000 artigos sobre os temas da língua portuguesa – tanto na sua unidade como na sua diversidade.

Na imagem, à esquerda, Primavera (1933) , de José Malhoa (1855-1933) – Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha.

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1.  Como é sabido, situações novas constituem terreno fértil para a inovação lexical, nomeadamente com a criação de neologismos, os quais permitem nomear novas realidades. A situação política que se vive em Portugal é desta realidade um bom exemplo. Numa altura em que se desenham cenários relativamente ao que poderá vir a ser o novo mapa do exercício das funções parlamentares e governativas, há quem acuse a direita, que provavelmente virá a ser a detentora do poder, de pretender retomar o projeto "troikiano", que o último governo do PSD, conduzido por Pedro Passos Coelho, executava. Há também quem aponte como pouco construtiva a linguagem "chegana", que se associa ao discurso agressivo e, por vezes, excessivamente coloquial de alguns militantes do partido Chega. Ambas as palavras constituem neologismos formados por derivação a partir de um nome próprio pré-existente (Troika e Chega), ao qual se juntou o sufixo -ano, que associa à nova palavra o valor de «que é feito à maneira de». Fértil continua a ser também o terreno político para o recurso à linguagem metafórica. Deparámo-nos recentemente com expressões como: «chegar com pezinhos de lã», «preparar para a guerra», «utilizar a bomba atómica», «cálice amargo», «prova de fogo», entre outras que ilustram a criatividade linguística ao serviço da análise das perspetivas oferecidas pela realidade. 

Primeira imagem: Parlamento português ou Assembleia da República

2. A identificação de uma forma feminina para referir certos cargos ou profissões nem sempre está prevista nos dicionários, aspeto que constitui o ponto de partida para a resposta relacionada com o nome subcomandante. A ela juntam-se, nesta atualização do Consultório, oito outras, que tratam questões de sintaxe («Modificador do grupo verbal: «O avô tinha o livro na estante», «Apostos especificativo e explicativo», «Orações completivas introduzidas por para»), de semântica («Garantir com indicativo ou conjuntivo»), de ortoépia («A pronúncia de berma»), de ortografia («Os grafemas rr e ss na translineação»), de lexicologia («O gentílico de Iucatão») e do âmbito da teoria gramatical («A distinção entre morfologia e sintaxe»).

3. A data de 19 de março coincide, em Portugal com o Dia do Pai. A palavra pai encontra-se em vários textos disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas, cuja leitura aqui se sugere: «Pai», «A etimologia das palavras pai e mãe», «Pai, merónimo de família, e família, holónimo de pai», «Pátrio, pátria e pai», «Pai e Mãe Nossa que estais no céu», «O pai-nosso», «Querido pai», «Maiúscula inicial em mãe e pai».

4. A identificação natureza da locução «por exemplo» dá matéria ao apontamento da professora Carla Marques (divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2).

5. O uso incorreto do verbo desmarcar, num contexto em que se deveria ter usado a forma demarcar, é analisado pelo consultor do Ciberdúvidas Paulo J. S. Barata, neste apontamento disponível na rubrica Pelourinho. 

6. Partilhamos, com a devida vénia, alguns textos de interesse linguístico e didático:

Labrosta, calhordas, escanifobética são algumas das palavras que o tradutor Gonçalo Puga recorda num texto que alerta para o desaparecimento de muitos lexemas, que estão a deixar de constar do léxico ativo de muitos falantes. 

– A palavra povo e os seus usos em diferentes contextos permitem o desenvolvimento de valores específicos, tal como regista o professor Paulo Guinote no seu artigo em torno das conotações políticas do lexema.

– A obra A crise da Narração, de Byung Chul Han, ilustra, na perspetiva da professora universitária Dora Gago, a atitude dos alunos que têm cada vez mais dificuldades em ouvir o outro, revelando uma crescente dependência dos conteúdos digitais.

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1. A atualidade internacional pode continuar trágica e angustiante por causa da guerra na Ucrânia, na faixa de Gaza ou noutros pontos do planeta, mas um tema aparentemente frívolo tem igual destaque: a suspeita de utilização do programa Photoshop no tratamento de uma fotografia oficial da princesa de Gales, Kate Middleton, depois de prolongada ausência da vida pública. O caso tem motivado fortes críticas, que não são de admirar quando se pensa na atual tecnologia digital, exponencialmente aperfeiçada pela Inteligência Artifical, e no seu uso nefasto na manipulação informativa, como acontece com a produção de conteúdos deepfake, isto é, ultrafalsos (ver Abertura de 06/06/2023). A propósito das notícias sobre a controvérsia que envolve Kate Middleton, a consultora Sara Mourato dá conta, na rubrica O Nosso Idioma, do verbo photoshopar, um neologismo derivado de Photoshop. Não obstante, a grafia inglesa de Photoshop, é possível manter ph e sh na palavra photoshopar, porque são permitidos grafemas alheios ao português em vocábulos derivados de nomes estrangeiros (cf. "Estrangeirismos").

2. Se no Brasil se emprega mídia (substantivo feminino, no singular), como adaptação do inglês media (de mass media, «meios de comunicação de massas»), em Portugal, recomenda-se a forma media, em itálico e sem acento gráfico, assim evitando a confusão com a homófona média. No Pelourinho, o jornalista José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, comenta o uso erróneo de média na sinopse de uma série em exibição na RTP2.

3. Uma entrevista antiga, com o famoso futebolista brasileiro Pelé (1940-2022), foi pretexto para a Revista Leia Escola (vol. 23, n.º 4, 2023, Universidade Federal de Campina Grande) reunir um conjunto de estudos sobre interação discursiva e, em especial, sobre a entrevista. Na Montra de Livros, apresenta-se este novo número da referida publicação, com coordenação de uma equipa de investigadoras dUniversidade de Pernambuco

4. «Precisamos de descobrir a gramática da bondade», diz o escritor e arcebispo Tolentino de Mendonça. A frase pede reflexão mas pode igualmente prestar-se a uma pergunta: que ato ilocutório é por ela configurado? No Consultório, à questão somam-se outras cinco, sujeitas aos seguintes tópicos: a expressão «é um pincel»; o auxiliar ir com gerúndio; o uso do presente do indicativo valor de passado; um complemento oblíquo associado ao verbo ver; um caso de complemento direto preposicionado.

5. Nas Controvérsias, reflete-se sobre o sentido e a oportunidade do termo populismo, na tradução em português de um artigo em inglês, que o especialista em ciências políticas Aurelien Mondon publicou em The Conversation. Texto divulgado pelo jornal eletrónico  Esquerda.net em 11/03/2024.

6. Nas comunidades e países muçulmanos, celebra-se o mês do Ramadão, que, em 2024, se prolonga de 11 de março a 9 de abril. Sobre esta festividade e outros aspetos das sociedades em que predomina o Islão, releia-se "Palavras referentes ao Islão".

7. Entre notícias, registos e recursos difundidos pela Internet, direta ou indiretamente à volta da língua portuguesa, salientam-se:

Miminhos da Di, um novo canal no Youtube, com objetivos didáticos e dirigido às crianças que aprendem a língua portuguesa em Timor-Leste;

– um apontamento de Marco Neves, a respeito da origem de coche e carro (Certas Palavras, 14/03/2024);

– o estudo que um grupo de investigadores da Universidade do Algarve desenvolve sobre o discurso de ódio nos ambientes dos jogos em linha (informação na emissão de 14/03/2024 do programa de rádio 90 Segundos de Ciência).

– a 16.ª edição do Congresso Internacional sobre Processamento Computacional do Português (PROPOR-2024), que decorreu em Santiago de Compostela de 12 a 15 de março;

8. Temas dos programas de português na rádio pública de Portugal:

– No Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 15/03/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), Sofia Gonçalves (Escola Superior de Educação de Coimbra) fala sobre o projeto Viajar com Livros, nomeadamente sobre a criação de 14 bibliotecas escolares em Cabo Verde, abrangendo mais de 600 alunos deste país e a oferta de 9000 livros de literatura infanto-juvenil.

– Nas Páginas de Português (Antena 2, no domingo, 17/03/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 23/03/2024 às 15h30*), entrevista-se a investigadora e professora Noémia Jorge (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria), sobre as principais características da apresentação oral. O programa inclui ainda um apontamento gramatical da professora Carla Marques, sobre locuções adverbiais e prepositivas.

– Nas Palavras Cruzadas, igualmente transmitido na Antena 2 e realizado por Dalila Carvalho, dedica as suas emissões de 18 a 22 de março (segunda a sexta, às 09h50 e 18h50) ao tema das palavras “em via de extinção”, numa conversa com o tradutor e cronista Gonçalo Puga.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Portugal foi a votos no dia 10 de março. Ditou a escolha popular que não existisse uma maioria parlamentar, tendo os partidos que tradicionalmente ocupam o arco da governação ficado praticamente empatados (Aliança Democrática, com 79 deputados, face a 77 do PS — faltando ainda apurar os resultados dos círculos das comunidades portugueses no estrangeiro), seguidos pelo partido Chega\ (com 48 deputados). O facto de um terceiro partido ter crescido de forma acentuada, distanciando-se dos chamados pequenos partidos, levou a que comentadores políticos e politólogos descrevessem a situação como o aparecimento do tripartidarismo em Portugal. Desde o 25 de Abril até ao momento, Portugal tinha vivido uma situação política de bipartidarismo. Este termo, referente a uma organização do sistema política assente em dois partidos que vão alternando no poder, é formado pelos elementos bi-, que significa «dois, duas vezes, dúplice», e partidarismo, que significa «qualidade daquele que segue um partido». Já a palavra tripartidarismo designa uma organização política que assenta em três partidos mais relevantes e é formada pela associação de tri- («três, três vezes, três partes») a partidarismo. A este propósito, surge também o termo tripolarização que se relaciona com o termo bipolarização, ambas palavras formadas com base em polarização, termo usado para descrever a «concentração em extremos opostos, relacionados com grupos ou interesses». 

No acervo do Ciberdúvidas encontram-se outros textos relacionados com o tema de abertura: «Bipartidismo e bipartidarismo», «Partidarizar» e «Sobre a palavra partisan».  

2. Existirá alguma relação entre as palavras indígena e índio? Nesta resposta, abordamos a etimologia de ambos os lexemas para comprovar que não estamos perante palavras da mesma família. Na atualização do Consultório, podem ainda ser consultadas as respostas às seguintes questões: Qual a função do constituinte «para seleção» após o verbo chamar?; Qual a diferença entre as palavras carantonha e carranca?; Qual a construção mais correta: «rogar que» ou «rogar para»?; O topónimo Miraldo deriva da forma latina Miraldus?; Qual o significado de alguns termos usados nos dicionários?; Qual a forma correta: «bife a rolê» ou «bife rolê»?; Que preposições rege o nome confiança?

3. A etimologia da palavra azeitona e a sua relação com o nome oliva constituem o tema central do apontamento da professora Carla Marques, divulgado semanalmente no programa Páginas de Português, da Antena 2 (edição de 10 de março). 

4. Com a devida vénia, partilhamos alguns textos relacionados com a língua e a literatura:

– A tradução poderá ser um instrumento de vital importância para inúmeras línguas cuja sobrevivência se encontro ameaçada: é a mensagem central do texto do filósofo André Barata

– A integração num dado país passa obrigatoriamente pelo conhecimento da língua. Este é um aspeto fundamental tratado pelo professor Diogo Cardoso, que questiona a seleção do nível A2 como critério para a aquisição do título de residência permanente em Portugal;

– O poeta e crítico António Carlos Cortez coloca no centro do seu texto a publicação de Agostinho da Silva intitulada Um Fernando Pessoa. Partindo do conteúdo da obra e do estilo do seu autor, leva-nos a revisitar uma visão de Mensagem, do fenómeno da heteronímia e do seu criador, o poeta Fernando Pessoa.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Assinala-se, em 8 de maio, o Dia Internacional da Mulher, e, no Ciberdúvidas, regista-se a data com um trabalho intitulado "A linguística portuguesa feita no feminino", de autoria da consultora Inês Gama, que passa em revista as figuras femininas que nos últimos 200 anos, em Portugal, têm contribuído para o desenvolvimento da linguística e dos estudos gramaticais. Recordam-se igualmente alguns conteúdos Ciberdúvidas dedicados a esta celebração: os nomes das profissões no feminino, em "Direitos por conquistar e palavras por criar no Dia Internacional da Mulher..." (2020) e "As mulheres e o nome das atividades que exercem" (2021); e sobre a etimologia do nome mulher, "As muitas faces (linguísticas) da mulher" (2021).

Fonte da imagem: TrueMindThoughts, 08/03/2024

2. Se em «mil e uma noites», a palavra mil é um quantificador numeral, então qual será a classe de palavras de milhar em «um milhar de pessoas»? A resposta encontra-se no Consultório, cuja atualização integra outras seis perguntas: em «não faça isso, não», a vírgula é facultativa? O nome e adjetivo viajante tem algum antónimo? O que será mais correto, «o que se bebe e come» ou «o que se bebe e se come»? Em «com Maria também apareceu a luz», o constituinte «com Maria» tem que função sintática? Como se analisa a sequência «tanto assim que»? E será que a expressão «Excelentíssimos Senhores» abrange claramente o género feminino?

3. A escolarização da população portuguesa é recente quando comparada com a de outros países, sobretudo europeus, e ainda hoje se encontram pessoas, geralmente idosos, que o sistema de ensino não logrou integrar. Em Montra de Livros, apresenta-se Um Dedo Borrado de Tinta (Fundação Francisco Manuel dos Santos 2024), um livro da jornalista Catarina Gomes, que narra a história de alguns habitantes da freguesia do Casteleiro (Guarda) que não tiveram oportunidade de aprender a ler e a escrever.

4. Foi notícia a sobrevacinação – 217 vacinas – contra a covid-19 a que se submeteu um cidadão alemão, ao que parece sem reações secundárias. Na rubrica A covid-19 na língua, entrada hipervacinação dá conta deste caso.

5. Na Europa, o Festival Eurovisão da Canção continua a ter público, e os canais de televisão de diferentes países selecionam concorrentes. Em Portugal, as eliminatórias nacionais andam longe dos tempos em que apenas se ouvia cantar em português. Em Diversidades, a consultora Sara Mourato comenta a edição de 2024 do Festival RTP da Canção, a qual se distinguiu pelo seu caráter poliglota.

6. Do Brasil, chegam ecos da polémica gerada pelo uso do termo pardo. No contexto de políticas de inclusão, negro e pardo são categorias que permitem definir cotas para facilitar o acesso à formação universitária entre grupos sociais desfavorecidos; contudo, vários são os jovens que têm sido rejeitados sob a suspeita de procurarem viciar a seleção. O linguista Aldo Bizzocchi explica o que se passa no seu mural no Facebook (07/03/2024) e dá conta do léxico identificador de características fenotípicas como a cor da pele.

7. Regista-se com pesar o  falecimento, em 05/03/2024, do cineasta português António-Pedro Vasconcelos (n. 1939, Leiria). Foi figura destacada do Cinema Novo Português, tendo-se distinguido em 1973 com o filme Perdido por Cem, a que se sucederam outros filmes, incluindo sucessos comerciais nas salas portuguesas, como O Lugar do Morto (1984) e Jaime, (1999), filme este que ganhou a Concha de Prata do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, e em Portugal, os Globos de Ouro para Melhor Filme e Melhor Realizador (cf. Academia Portuguesa de Cinema). António-Pedro Vasconcelos, defensor de uma cinematografia atenta ao público, deixa, sem dúvida, uma obra que ocupa lugar cimeiro no audiovisual em língua portuguesa.

8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

– No programa Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 08/03/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se Ana Boléo, professora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal sobre o seu artigo "Oralidade no ensino de Português Língua Não Materna Documentos de Referência e Diferenciação Pedagógica" (Palavras – 60/61, revista da Associação de Professores de Português).

– No Páginas de Português (Antena 2, domingo, 10/03/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 16/03/2024 às 15h30*), inclui-se uma conversa com Maria de Lurdes Gonçalves, coautora de Ensinar Português Língua de Herança como Língua Pluricêntrica (Centro de Linguística da Universidade do Porto) e um apontamento da professora Carla Marques sobre a etimologia da palavra azeitona e a sua relação com a palavra oliva.

– No Palavras Cruzadas (Antena 2), programa realizado por Dalila Carvalho, as emissões de 11 a 15 de março (segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*) são preenchidas pelo tema da diferença das vozes usadas na publicidade, na locução e nos videojogos, numa conversa com o ator Ricardo Carriço.

 * Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Um acontecimento novo é sempre espaço fértil para a criação de neologismos, palavras novas que permitem descrever as realidades que vão surgindo. O período de campanha eleitoral em Portugal, que atualmente decorre em Portugal, tem, em consonância com esta ideia, aberto caminho à criação de novos termos. Entre eles, realçamos os que descrevem os movimentos políticos que têm origem em líderes partidários. Fala-se, assim, de "pedronunismo" (composição a partir de Pedro Nuno (Santos), secretário-geral do Partido Socialista), a que se junta o sufixo -ismo) ou de "venturismo" (formado pela junção do sufixo -ismo ao nome próprio Ventura (de André Ventura, líder do Chega). A criatividade linguística permitiu também criar o termo "farsismo", palavra usada por Rui Tavares, cabeça de lista do Livre, que resulta de uma junção das palavras fascismo e farsa. Também os cenários pós-eleitorais geram expressões particulares. Neste contexto, há quem peça uma «vitória robusta», mas fala-se sobretudo de «arranjos partidários», para descrever os acordos entre partidos políticos, ou de «acordos de incidência parlamentar», para descrever uma situação em que um partido apoia outro no parlamento. Diferente do anterior, será um «acordo de governo», que permitirá ao partido apoiante decidir sobre aspetos da governação do país e mesmo integrar a equipa ministerial. Entre as acusações que os partidos trocam, ouve-se a de «enviesamento ideológico», segundo a qual algumas medidas são tomadas apenas para não contrariar a ideologia de um dado partido. Alguns temas são considerados «elefantes na sala», o que significa que a sua força é tal que poderão destruir tudo à sua volta. Por fim, há situações em que são os próprios membros do partido que surgem como vozes dissonantes, causando problemas ao líder. E o chamado «fogo amigo». Ainda neste quadro de campanha eleitoral, a professora universitária e linguista Margarita Correia continua a analisar os programas eleitorais do ponto de vista linguístico, no artigo que aqui partilhamos com a devida vénia. 

2. O jornal Público, que assinala, no dia 5 de março, 34 anos de existência, marca esta data com a designação de Maria Teresa Horta para o cargo de «diretora por um dia». O texto do jornal descreve-a usando o termo poeta, uma opção que retoma uma querela antiga relacionada com a forma feminina do substantivo. Segundo as gramáticas normativas, poeta tem como forma feminina a palavra poetisa. Não obstante, o lexema poeta tem sido usado no feminino, sobretudo desde o século XX, até por figuras destacadas na literatura como é o caso de Sophia de Mello Breyner Andresen, que assumiu uma posição contrária à de, por exemplo, Natália Correia, que sempre reivindicou o estatuto de poetisa.

Cf. "Poetisa" inferioriza? + A juíza + a aprendiza 

3. Existem razões para a palavras “unbiúnio” se escrever com uma grafia que desrespeita os princípios da ortografia? A resposta a esta questão pode ser consultada na atualização do Consultório. A ela juntam-se ainda «Ajudar como verbo transitivo indireto», «Adjunto adverbial de modo e predicativo do sujeito», «O anglicismo teaser», «O nome gravaneiro», «Ordem direta e ordem inversa» e «Passiva sintética e concordância».

4. A língua portuguesa não parece ser a língua de comunicação para alguns treinadores  estrangeiros de futebol que trabalham e vivem em Portugal, como assinala, na rubrica Pelourinho, José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, a propósito das opções linguísticas do treinador alemão do Benfica, Roger Schmidt.

5. Os aforismos são tradicionalmente associados ao texto literário ou ao pensamento filosófico, mas o seu alcance pode ser mais extenso, como esclarece a professora Carla Marques neste apontamento dedicado ao tema.

6. A língua portuguesa no mundo e as suas múltiplas facetas dá matéria ao artigo da jornalista Francisca Gorjão Henriques, intitulado «Que língua é esta?» (publicado no sítio da Fundação Francisco Manuel dos Santos e aqui partilhado com a devida vénia).

7. O professor de história Paulo Guinote apresenta um artigo de reflexão em torno da proposta lançada pelo Conselho Nacional de Educação relativamente à eliminação do segundo ciclo de ensino escolar, questionando a pertinência da análise que foi feita (artigo divulgado no jornal Diário de Notícias, aqui partilhado com a devida vénia).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No segundo dia da campanha para as eleições legislativas que se realizam em Portugal, em 10 de março, uma figura partidária relacionou polemicamente a questão da segurança com a intensificação dos fluxos imigratórios no território português. As reações, concordantes e discordantes, não se fizeram esperar, enquanto se fala igualmente da integração linguística dos migrantes, a qual se torna premente na vida escolar, como confirma a entrevista concedida pela subdiretora-geral da Educação, Eulália Alexandre, ao jornal Expresso (29/02/2024). Mas também problemática se revela a integração de falantes de variedades do idioma diferentes da de Portugal, como é o caso de estudantes do Brasil e dos países africanos de língua oficial portuguesa a frequentarem universidades portuguesas. A verdade é que as características gramaticais e estilísticas do português europeu podem criar obstáculos e gerar mal-entendidos, quando se trata de escrever uma dissertação ou uma tese. Das dificuldades linguísticas encontradas por três estudantes universitários – um português, uma são-tomense e um brasileiro – trata a consultora Inês Gama num apontamento disponível na rubrica O Nosso Idioma e que vem na sequência do trabalho "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024), entrevista feita pelo Ciberdúvidas aos alunos do Iscte.

2. Querendo recordar a revolução sexual dos anos 60, ocorre empregar a expressão «amor livre», mas será que «livre amor» é expressão com igual legitimidade? A dúvida integra-se no conjunto de sete novas perguntas da atualização do Consultório, onde ainda se analisam os seguintes tópicos: a associação dos pronomes si e consigo às formas de tratamento; o topónimo Sydney; a etimologia de dois topónimos do norte de Portugal; o valor causal de por com infinitivo; duas construções não habituais, uma com o verbo saber e outra com gostar.

3. Durante muito tempo, na história da língua portuguesa, raramente se falava do galego a não ser para o integrar no composto galego-português. Nos últimos anos, porém, tomou-se consciência de que as origens do português são também galegas, como já assinalaram Fernando Venâncio e Marco Neves. Na Montra de Livros, apresenta-se O Galego e o Português. Passado Presente, livro eletrónico resultante da colaboração de académicos brasileiros e galegos, contribuindo para a avaliação ajustada do papel linguístico e cultural da Galiza na história do português.

4. Sobre a censura de certos gramáticos prescritivos ao uso de «o mesmo», em frases como «pediram um parecer ao provedor e aguardam a intervenção do mesmo», transcreve-se, com a devida vénia, em O Nosso Idioma, o apontamento que o escritor e revisor  brasileiro Gabriel Lago publicou no mural Língua e Tradição (Facebook, 23/02/2024).

5. Já se encontra disponível o 8.º episódio do podcast do Ciberdúvidas, cujas anfitriãs, Sara Mourato e Jessica Mendes, comentam desta vez os particípios passados aceitado, imprimido e matado, e dão pistas para o uso correto de «menos mal» (ver Notícias).

6. Registos de conteúdos e atividades com interesse linguístico e cultural:

– A passagem do dia 29 de fevereiro, que só figura no calendário nos anos bissextos, deu o mote a mais um episódio do programa Pilha de Livros, de Marco Neves: trata-se de "O dia mais raro e as ideias erradas sobre as línguas" (29/02/2024). Dos episódios recentes deste podcast, destaca-se ainda este outro: "Porque nos irritamos tanto com a língua?" (27/02/2024).

– A apresentação, em 25/02/2024, do projeto Greenhouse ("Estufa") na Estufa Fria, em Lisboa, pela artista visual Mónica de Miranda, a historiadora Sónia Vaz Borges e a coreógrafa Vânia Gala, que este ano representam Portugal na 60.ª Bienal de Arte de Veneza. As três artistas, que têm raízes na diáspora africana de Angola e Cabo Verde, vão criar um “jardim crioulo” no Palácio Franchetti, de 20 de abril a 24 de novembro, durante os sete meses de duração da Bienal. O projeto coincide com duas comemorações, a do cinquentenário do 25 de Abril de 1974 e, em setembro, a do centenário de Amílcar Cabral (1924-1973).

7. Tema centrais de três dos programas que a rádio pública portuguesa dedica à língua portuguesa:

–  A diferença entre orações subordinadas substantivas relativas e orações subordinadas adjetivas relativas é explicada pela linguista Sandra Duarte Tavares, em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 01/02/2024, 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*).

–  Em Páginas de Português (Antena 2, domingo, 03/02/2024, 12h30*; repetido no sábado seguinte, 09/02/2024 às 15h30*), entrevista-se a professora Carla Marques sobre os aforismos e a sua função num texto escrito, com recurso a alguns exemplos de Fernando Pessoa e Agustina Bessa-Luís. Ainda um apontamento gramatical de Inês Gama sobre classes de palavras.

–  Igualmente na Antena 2, refira-se ainda Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho, cujas emissões de 4 a 8 de março (segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*) são preenchidas pelo tema da alfabetização.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em Portugal, o período de campanha eleitoral teve início a 25 de fevereiro. É tempo de desenvolvimento de estratégias políticas e estas passam também por questões de natureza linguística. Uma delas está relacionada com o uso de chavões. Neste contexto, importa distinguir chavão, de bordão e de jargão. Este último termo pode ser usado com um valor equivalente ao da palavra gíria e aplica-se à linguagem usada por um determinado grupo social ou profissional, que, por vezes, se socorre de termos técnicos ou de expressões que estão codificadas e que, por isso, não são compreendidas por quem não pertence ao grupo. O bordão, por sua vez, é uma palavra ou locução que se vulgarizou, tendo perdido o seu sentido original. Usa-se no discurso de forma automática, como apoio em situações de hesitação ou de reformulação do texto, como acontece com as construções «Estás a ver?» ou «Portanto». Por fim, o chavão corresponde a uma frase feita ou a um lugar-comum, que apresenta ideias já desgastadas, de conteúdo banal ou trivial. Também há quem refira o chavão como sendo um clichê. Na atual campanha política, vamos encontrando chavões que são usados para descrever medidas a implementar, para servir de ataque ao adversário, para ilustrar opções partidárias ou para caracterizar uma realidade pós-eleitoral: «linhas vermelhas», «aventura fiscal», «bala de prata», «fazer parte da solução», «voto útil», «campanha em bolha» ou «valorização salarial». Refira-se ainda que os chavões são muito úteis nas formas de comunicação com o eleitorado, nomeadamente no contexto das redes sociais, porque as afirmações curtas e muitas vezes repetidas chegam a mais eleitores e correm mesmo o risco de viralizar, o que pode auxiliar a construção da notoriedade de um partido político. A propósito das «questões linguísticas nos programas eleitorais», partilhamos, com a devida vénia, o artigo de autoria da professora universitária e linguista Margarita Correia, que regressa à análise dos programas eleitorais dos diferentes partidos para desta feita passar em revista as propostas relacionadas com o ensino das línguas e com a sua promoção em diferentes contextos. 

Recordamos textos publicados no Ciberdúvidas relacionados com as palavras em destaque: «Jargão», «A definição de gíria e de calão», «Calão/jargão», «Tipo, não uses bengalas, tás a ver».

Primeira imagem: ilustração divulgada no Blog da Boitempo 

2. Os processos sintáticos de realce de constituintes numa frase são diversificados. Entre eles, encontramos as construções clivadas, estruturas cuja natureza particular exige uma observação mais fina no plano sintático. Neste âmbito, analisa-se numa das respostas integrantes do Consultório a frase «Não é porque o carro à nossa frente passou no amarelo que devemos arriscar transitar num vermelho». Na atualização de hoje, podem ainda ler-se as seguintes perguntas e respostas: «Oração substantiva completiva de nome», «Levar (alguém) a + orações infinitivas», «Propor e propor-se a», «Valores da conjunção mas», «Futuro imperfeito do indicativo», «Pronome clíticos e «passar a» + infinitivo», «Foliação e "foliatação"» e ««Comparecer à reunião» e «apresentar-se num local»». 

3. Pronúncia e pronuncia são duas palavras parónimas que pertencem a diferentes classes de palavras e cuja prolação é distinta, o que é assinalado pelo uso do acento agudo, tal como explica a consultora do Ciberdúvidas Inês Gama no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, na Antena 2. 

4. A prótese do a em formas verbais é um processo fonológico muito presente na evolução do português, continuando a ser observável em sincronia. Há, todavia, entre os falantes a ideia de que as formas verbais protéticas denunciam a presença de um falante menos culto. O professor universitário brasileiro Rafael Rigolon analisa esta situação, considerando no seu apontamento o caso do dialeto sertanejo, num artigo de âmbito fonológico e de linguística histórica. 

5. Conselho Nacional de Educação  português divulgou o relatório sobre o Estado da Educação 2022. Aqui apontam-se cinco domínios que deverão ser centrais nas políticas de educação no país: 

  • A existência do 2.º ciclo do ensino básico.
  • A inteligência artificial e as suas relações com as múltiplas dimensões do sistema educativo e formativo.
  • O imperativo do desenvolvimento do ensino artístico especializado.
  • O ensino profissional e a sua relevância para o desenvolvimento de novas e inovadoras ideias fundadoras da educação secundária.
  • As novas demografias e a necessidade de as integrar plenamente na conceção de um sistema aberto, livre, inclusivo e socialmente responsável.

Cf. Conselho Nacional de Educação defende fim do 2.º ciclo do básico + Conselho Nacional de Educação considera necessário ensinar alunos de outras formas

 

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Na Europa, as preocupações com a guerra na Ucrânia, desencadeada em 27 de fevereiro de 2022, são agravadas pelo desaparecimento do líder da oposição russa Alexei Navalny*. O ministro português do Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, alertando para a degradação da ordem internacional, critica a desatenção dos partidos políticos portugueses, os quais se preparam para  entrar em campanha para as eleições legislativas a realizar em Portugal, em 10 de março. Contudo, a pressão dos problemas socioeconómicos sobre os Portugueses dá prioridade a questões internas, como seja a habitação, tema que motivou Mariana Mortágua, a líder do Bloco de Esquerda, a relatar um episódio que envolveu a própria avó. O caso gerou polémica, e, portanto, o apelido Mortágua tornou-se palavra da atualidade portuguesa, a ponto de a sua pronúncia ter suscitado dúvidas ao jornalista Carlos Vaz Marques e ao humorista Ricardo Araújo Pereira no Programa Cujo Nome Estamos Legalmente Impedidos de Dizer (SIC Notícias, 17/02/2024). Na rubrica O Nosso Idioma, a consultora Sara Mourato dedica um apontamento ao assunto, revelando que o o de Mortágua soa como [u] no português europeu, por efeito da redução das vogais átonas, um fenómeno característico da variedade lusitana. No entanto, regionalmente, ocorre também a variante com "ó" aberto – símbolo fonético [ɔ] –, numa prolação tradicional, por exemplo, na região da vila de Mortágua**, topónimo na origem do apelido em apreço. Não erra, portanto, quem diz "Mòrtágua".

* Adota-se a forma Alexei Navalny, corrente nos media em português; porém, apesar de existirem várias propostas e critérios (ver Contributo para a transliteração do russo para o português, Pórtico da Língua, 22/11/2017, e o sistema de transliteração ISO 9), é de notar que ainda não existem regras estáveis e uniformes para a transcrição/transliteração de nomes russos para português (ver "A ortografia dos nomes Boris e Vladimir"). 

** Na imagem, um aspeto do trilho das quedas de água de Paredes, no concelho de Mortágua.

2. Ainda em O Nosso idioma, a consultora Inês Gama desenvolve nova reflexão sobre o pluricentrismo da língua portuguesa, na sequência do trabalho "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024), uma entrevista a alunos do Iscte pelo Ciberdúvidas.

3. Em Os Lusíadas (canto V, estância 54), a personagem do gigante Adamastor, acerca de um amor infeliz, diz: «Eu, que cair não pude neste engano»? Não será o verso contraditório, quando se sabe que a personagem caiu, afinal, numa armadilha sentimental? A resposta junta-se a outras seis, num total de sete, compondo a atualização do Consultório. Outros tópicos abordados: o nome credência; os adjetivos fofo e massa; as locuções «na direção de» e «em direção a»; os verbos demorar e levar; o uso de «bem como» e «assim como»; e o valor do advérbio mais associado a nunca.

4. Que sentido tem afirmar que uma língua é mais bonita do que outra? A esta questão procurou dar resposta uma investigação que foi realizada com base em 228 idiomas e cujos resultados se analisam num artigo do portal Líder Magazine (02/02/2024), transcrito, com a devida vénia, em Diversidades.

5. A questão da ortografia volta a estar na ordem do dia, em Portugal, por causa, por exemplo, do slogan eleitoral «Mais ação». Na rubrica Acordo Ortográfico, disponibiliza-se devidamente atribuído o artigo de opinião que o jornalista Nuno Pacheco assinou no jornal Público (22/0/2024), criticando a ortografia em vigor em Portugal, a propósito da supressão das chamadas consoantes mudas em casos como o de ação (antes acção).

6. Um registo que se impõe, por se tratar de uma publicação com 20 anos e que, partindo da atividade de tradução na União Europeia, constitui um repositório precioso de propostas e reflexões sobre a língua portuguesa: trata-se de A Folha, o boletim da língua portuguesa das instituições europeias, cujo primeiro número é o da primavera de 2004 (ler aqui).

7. No âmbito das atividades da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, e com intervenção da editora Boca, destacam-se duas iniciativas: a apresentação dos dois primeiros volumes de Os primeiros contos do mundouma coleção criada a partir dos textos fundadores das várias culturas –, em 27/02/2024, às 18h30, com entrada livre; e, enquadrado pela comemoração do 25 de Abril de 1974, o podcast Pe_Soa: a que estado queremos chegar, lançado todas as quarta-feiras, até 24/04/2024, sempre às 22h55, exatmente hora a que, em 24 de abril de 1974, a rádio transmitiu a senha para o movimento militar avançar e derrubar o regime autoritário então existente.

8. Quanto aos temas de três dos programas que a rádio pública de Portugal dedica à língua portuguesa, salientam-se:

– Em Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 23/02/2024 às 13h20*; repetido no dia seguinte, c. 09h05*), emite-se uma entrevista com Cristina Martins, professora e investigadora do Celga-Iltec – Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada da Universidade de Coimbra, sobre a temática do artigo "O que ainda não sabemos e precisávamos de saber para o ensino de Português Língua Não Materna", publicado na Revista da Associação Portuguesa de Linguística.

– No programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 25/02/2024, às 12h30*; repetido no sábado seguinte, 02/03/2024 às 15h30*), entrevista-se a professora Carla Marques, também investigadora do Celga-Iltec e consultora permanente do Ciberdúvidas, sobre as condicionantes da elaboração de um manual escolar.

– Salienta-se ainda Palavras Cruzadas, realizado por Dalila Carvalho e transmitido igualmente na Antena 2, cujas emissões de 26 de fevereiro a 1 de março (de segunda a sexta-feira, às 09h50* e às 18h50*), são dedicadas à comunicação oral e da eficácia do discurso. A convidada é a professora Maria Regina Rocha.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. No âmbito da preparação para as eleições legislativas, terminou, em Portugal, o período de debates televisivos, por onde passaram os líderes dos partidos com assento na Assembleia da República na legislatura que agora se encerra. Os candidatos preparam-se agora para dar início ao período de campanha eleitoral, que se desenrolará entre 25 de fevereiro e 8 de março, tendo a votação presencial lugar a 10 de março. Na fase pré-eleitoral, o discurso público em torno dos debates centrou-se muito na construção de metáforas bélicas, que evidenciam que a interpretação que se dá ao momento vivido em Portugal não se centra no conceito de apresentação e discussão de ideias, mas evidencia antes a perspetiva de um conflito, por vezes violento, entre as partes envolvidas. Assinalamos, neste contexto, o uso de expressões claramente bélicas, como «duelo final», «puxar das armas», «ataques», «ponto forte/fraco» ou  «bala de prata» (ver também aqui), que associam os debates a uma imagem de ferocidade muitas vezes associada ao processo de apresentação de argumentos, que se «esgrimem» ou que se transformam em «troca de acusações». Neste âmbito eleitoral enquadra-se também o artigo da professora universitária Margarita Correia, que se propõe analisar questões linguísticas nos programas dos diferentes partidos políticos, começando, neste texto, pelo Chega

2. A diferença entre «estar grato» e «ser grato» está relacionada com o tópico dos predicados estáveis ou transitórios. Esta é uma questão de ordem semântica que se inclui na atualização do Consultório e à qual se junta uma resposta relacionada com o valor de uso do condicional. No plano sintático, apresentamos três novas respostas: a omissão da preposição em orações coordenadas, modificadores apositivos do nome e a correção da estrutura «definidos como sendo». Por fim, no plano ortográfico, encontra-se a revisão da grafia de «chá verde» e, no no âmbito lexical, a existência e formação da palavra projetual

3. Os anglicismos red flag e green flag, usados no campo semântico das relações amorosas, são analisados, neste apontamento, sob diferentes pontos de vista pela consultora do Ciberdúvidas Sara Mourato.

4.  A questão de saber se o nome spa tem forma plural dá matéria para o apontamento da professora Carla Marques, incluído no programa Páginas de Português, na Antena 2, em 18 de fevereiro de 2024.  

5. Na rubrica Ensino, partilhamos a reflexão da escritora e  professora  Dora Gago relativamente ao uso didático da música em relação com o estudo de textos literários. 

6. O festival Correntes d'Escrita, que reúne escritores de expressão ibérica, tem início a 21 de fevereiro, na Póvoa do Varzim, com um programa muito diversificado, que se prolonga até sábado, dia 24. O evento comemora os seus 25 anos de existência adotando como tema a liberdade (programa completo aqui).