Como se atesta na gramática de M. H. M. Neves¹, há pelo menos quatro valores semânticos da conjunção adversativa mas: contraste, compensação, restrição, negação de inferência. A definição sempre dependerá do contexto.
Quanto à ideia de contraste, pode haver, segundo a autora, contraste com oposição, isto é, entre significados opostos (1) ou contraste sem oposição, ou seja, entre significados não antitéticos (2):
(1a) «Esse tempo chuvoso é um pouco deprimente, mas de algum modo me traz paz.»
(1b) «Ela estudou muito para a prova, mas foi desclassificada.»
(2a) «Uma argumentação sem muito fundamento mas repetida dezenas de vezes pode convencer muitas pessoas.»
(2b) «Desistiu de concorrer àquela vaga, mas continuou no emprego de sempre.»
Sobre o valor semântico de compensação, diz Neves que «geralmente resulta da diferente direção dos argumentos, podendo ir do argumento mais forte para o mais fraco (3), ou o contrário [...]» (4):
(3a) «João era muito simpático, mas sua aparência atrapalhava tudo.»
(3b) «Os dois se amam bastante, mas vivem brigando entre si.»
(4a) «João tinha uma personalidade insuportável, mas era bastante prestativo.»
(4b) «Aqueles dois vivem discutindo, mas sempre buscam a reconciliação.»
Sempre às ordens!
1 Cf. Neves, A gramática do português revelada em textos. Editora Unesp, 2018, p. 832-840.