De início, cumpre observar que a lição dada pelo gramático Celso Cunha não tem ligação nem semelhança com a estrutura de dupla negação, completamente correta e existente na norma culta escrita lusófona (há séculos!) e documentada por gramáticos normativos tradicionais.
Sobre as suas questões, acompanhe:
(1) A repetição do "não" ao fim da frase é realmente aceita pela gramática normativa?
Sim, é. Já se encontra isso em João Ribeiro, na sua Grammatica Portugueza (1889: 257). Em Julio Ribeiro, na sua Grammatica Portugueza (1911: 301). Em Alfredo Gomes, na sua Grammatica Portugueza (1913: 343). Em Maximino Maciel, na sua Grammatica Descriptiva (1914: 363). Em Domingos P. Cegalla, no seu Dicionário de dificuldades da língua portuguesa (2012: 268). Em Celso Cunha e Lindley Cintra, na sua Nova gramática do português contemporâneo (2017: 169). Certamente há outros gramáticos não elencados aqui a ensinar o mesmo.
(2) O "não" repetido precisa ser precedido imediatamente por vírgula; se sim, por qual razão?
Sim, é a prática escrita, o uso que determina a norma. A razão é a ênfase, o reforço, a intensidade atribuída ao sentido negativo que se deseja imprimir à frase.
(3) Esse uso aparece nos nossos melhores escritores?
Sim, tanto nos portugueses quanto nos brasileiros: Miguel Torga, Júlio Dinis, Almeida Garrett, Antonio Callado, José de Alencar, Coelho Neto, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, etc.
Sempre às ordens!