O constituinte «que devemos arriscar transitar num vermelho» não corresponde a uma oração subordinada completiva.
No caso em apreço, estamos perante uma estrutura clivada (ou expletiva). Estas estruturas permitem focalizar um dado constituinte da frase, que é, por este processo, separado do resto da frase1 com a intenção de lhe dar relevo na frase.
No caso em apreço, a estrutura utilizada é a seguinte: «SER + oração + que»
A frase apresentada equivale à seguinte frase onde não se usa a construção de foco ou de clivagem:
(1) «Não devemos arriscar transitar num vermelho porque o carro à nossa frente passou no amarelo».
O cotejo das duas frase (clivada e não clivada) mostra que o locutor, na frase clivada, pretendeu coloca o enfoque na oração «porque o carro à nossa frente passou no amarelo». Note-se que esta oração continua a desempenhar, na construção clivada, a mesma função que desempenha na construção não clivada, ou seja, trata-se de um modificador.
Por fim, refira-se que a partícula que não é relativa porque não tem um antecedente e também não é completiva porque não introduz um argumento pedido por alguma palavra. Trata-se de um elemento da partícula expletiva «é que», que neste caso se encontra descontinuada.
Disponha sempre!
1. Cf. Martins e Lobo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 2640 e ss.