A Morfologia e a Sintaxe vão além das definições apresentadas na pergunta. Cada estudioso (seja gramático, seja linguista) define à sua maneira esses dois níveis da gramática. Todavia, geralmente há em comum alguns pontos dentro das conceituações.
Ao passo que a Morfologia trata da estrutura das palavras (radical, desinências, afixos, etc.), da formação das palavras (derivação, conversão, composição, etc.) e da classificação das palavras (substantivo, adjetivo, verbo, etc.), a Sintaxe trata da combinação das palavras para a formação duma frase, levando-se em conta a ordem, a relação e a função exercida por elas dentro do período.
Com uma visão mais apurada, alguns estudiosos (como os gramáticos Celso Cunha e Evanildo Bechara) perceberam que a Morfologia e a Sintaxe não são dois domínios autônomos, porque tudo na língua está relacionado a uma combinação de formas. Assim, surge o conceito de Morfossintaxe, na qual uma palavra só passa a receber, com precisão, determinada classificação morfológica (e sintática) a depender da relação entre as palavras dentro da frase.
É a partir da Morfossintaxe, portanto, que se afirma ser um substantivo a palavra caminhar na frase «O caminhar da mulher é bonito», pois (1) esse vocábulo vem antecedido de artigo definido, ocorrendo o processo de substantivação; e (2) ocupa a posição sintática de núcleo do sujeito, implicando um valor nominal, próprio de um substantivo.
Mas afirma-se, por outro lado, que caminhar é verbo na frase «Eu amo caminhar com você», porque (1) essa palavra está na forma infinitiva e (2) constitui uma oração subordinada substantiva objetiva direta.
O mesmo se dá com o vocábulo bastante, trazido pelo consulente. Na frase «Temos bastante tempo ainda», por exemplo, essa palavra é classificada pela maioria dos gramáticos brasileiros como pronome indefinido adjetivo, conforme se verifica em Cegalla (2008: 187), por estar ligada a um substantivo (tempo). Entretanto, a mesma palavra pode ser classificada como um advérbio de intensidade, como se vê em «Eu já falei bastante», em que bastante se relaciona sintaticamente com o verbo (falar).
Em suma, quando se faz uma análise morfossintática, percebe-se que determinada classificação morfológica está condicionada à relação sintática existente entre as palavras que constituem a frase.
Sempre às ordens!
* Por ser brasileiro o consulente, empregou-se terminologia própria da nomenclatura tradicional vigente utilizada no ensino de gramática no Brasil.