Os usos da língua portuguesa têm sido fonte inesgotável para a criação de efeitos de cómico, pelo menos, desde Gil Vicente (1465?-1536?), autor que muito aproveitou a variação dialetal e socioletal para os seus autos e farsas. O sotaque e certos chavões são, por exemplo, aspetos que a generalidade de cómicos e humoristas explora – basta lembrar as muitas figuras inventadas por humoristas portugueses como Herman José ou Ricardo Araújo Pereira. Mas será possível fazer humor à volta de termos e conceitos gramaticais mais elaborados ou menos conscientes no conhecimento que temos da linguagem quotidiana? O programa brasileiro Porta dos Fundos, que o YouTube popularizou entre os falantes de português, atreveu-se a brincar com a gramática descritiva, a propósito de noções como conetor (ou conector, ou ainda, como também se diz, conetivo) e tipos de frase (declarativa, interrogativa, entre outras). O resultado foi o episódio intitulado Problemas linguísticos*, que a seguir se apresenta:
* Agradecemos ao consulente Nicolas Maia (Rio de Janeiro, Brasil) a chamada de atenção para este vídeo.
As questões abordadas nesta atualização do consultório focam aspetos da variação inerente a qualquer língua, quer evoluindo no tempo quer diferenciando-se nos espaços que povoamos e demarcamos. Ficamos a saber, por exemplo, que amálgama já se usou apenas no masculino, mas hoje ocorre também no feminino. A propósito do topónimo Arneiroz (Ceará), descobrimos que, no Brasil, a grafia dos nomes de lugar nem sempre se subordina à regras ortográficas vigentes. Apercebemo-nos também de alguma dificuldade em emitir juízos sobre o emprego de algures e alhures, porque estes advérbios se usam raramente. Passando às demais rubricas, o Pelourinho assinala um tropeção recorrente: em lugar de meteorologia, a deturpação "metereologia", que teimosamente mancha a melhor prosa. Poderá um erro destes ser alguma vez tolerado? Menos controversa parece a mudança nas fórmulas usadas em saudações e despedidas no português falado em Portugal – é a conclusão da leitura de uma crónica que o escritor português Miguel Esteves Cardoso publicou no jornal Público e que a rubrica O Nosso Idioma igualmente acolhe.
De repente, a música popular põe na moda certas expressões: é o caso do angolanismo jajão, «conversa para enganar ou convencer» – ou seja, o mesmo que lábia ou palavrório. A palavra foi agora convertida em título de uma canção cuja letra suscita ao jornalista angolano Edno Pimentel mais um comentário sobre os usos linguísticos do seu país, o qual se pode ler em crónica disponível na rubrica O Nosso Idioma (texto original publicado em 11/05/2015 no jornal angolano Nova Gazeta). No consultório, três novas questões mostram que, para falar e escrever bem, jajão não serve: que significa «troca por troca»? A locução «à parte» usa-se com preposição? Qual o plural de pequeno-burguês?
Nesta atualização, são igualmente de salientar:
– na rubrica Acordo Ortográfico (Notícias), a entrevista dada por Marisa Mendonça, diretora-executiva do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, ao programa Fórum África (10/06/2015), da RTP África, a respeito do Vocabulário Ortográfico Comum, dos trabalhos com os vocabulários nacionais e da aplicação do Acordo Ortográfico;
– e, em O Nosso Idioma, a referência a um novo tutorial do projeto Scriptorium – Centro de Escrita Académica em Português, da Escola Superior de Educação de Lisboa, desta vez, sobre o uso de vírgulas com conjunções e conetores.
– finalmente, uma chamada de atenção, de novo, ao erro recorrente na prolação do plural da palavra acordo. Voltou a ouvir-se /acórdos/ em vez de /acôrdos/. Foi o que se ouviu nas notícias televisivas, em Portugal, sobre a privatização da transportadora aérea nacional TAP – como foi o caso concreto do ministro da Economia Pires de Lima e o do secretário de Estado dos Transportes Sérgio Monteiro. Como se pode ouvir/ver aqui e aqui.
A partir desta data, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa volta a estar acessível, com todas as suas rubricas ativas, incluindo o consultório, em novos servidores – os do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Sendo assim, à parte os anteriores e tradicionais endereços do Ciberdúvidas, que se mantêm (www.ciberduvidas.pt e www.ciberdúvidas.com), o alojamento em novo servidor, do ISCTE-IUL, acrescentou um terceiro: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt.
A mudança é considerável, tendo exigido a alteração do visual gráfico, o aperfeiçoamento da pesquisa quer de respostas quer dos textos das demais rubricas e a criação de novas funcionalidades, sempre no intuito de facilitar a consulta destas páginas. Há 18 anos dedicado a esclarecer, divulgar e debater temas da língua portuguesa, este serviço gracioso regressa, portanto, com renovada energia ao convívio de quantos querem conhecer melhor a língua que falam para a utilizar com critério e adequação.
Encontrando-se ainda esta reestruturação do Ciberdúvidas em fase de acertos informáticos, todas e quaisquer anomalias eventualmente detetadas por quem o consulte por estes dias, muito agradecemos nos sejam comunicadas por este correio eletrónico: ciberduvidasdalinguaportuguesa@gmail.com .
Podemos anunciar o regresso do consultório no dia 10 de junho, data que também marca a passagem destas páginas para os servidores do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Como já explicámos, esta mudança implica alterar o visual gráfico do Ciberdúvidas, melhorar a pesquisa de respostas e artigos, bem como apresentar novas funcionalidades, no intuito de servir cada vez melhor quantos, por esse mundo fora, querem e gostam de saber sempre mais sobre o idioma partilhado, hoje, por oito povos.
Como sempre, fica, entretanto, disponível para consulta todo o vasto arquivo de respostas do consultório, a que se juntam os perto de 4 mil textos das demais rubricas. E, para assuntos que não digam respeito a dúvidas linguísticas, recomendamos a utilização dos contactos aqui indicados.
Conforme já assinalámos, o envio de questões ao consultório encontra-se suspenso e, pedindo desde já a compreensão de todos os nossos consulentes, assim ficará durante mais alguns dias, de maneira a possibilitar que o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa volte de "cara nova", mais de acordo com a energia dos seus 18 anos de atividade. Vamos atravessar, portanto, uma grande transformação, que é a de muito em breve este portal ficar alojado nos servidores do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Trata-se de um processo que determina alterar o visual gráfico destas páginas, melhorar a pesquisa de respostas e artigos, bem como apresentar novas funcionalidades, no intuito de servir cada vez melhor quantos, por esse mundo fora, querem e gostam de saber sempre mais sobre o idioma partihado, hoje, por oito povos. A conclusão de todo este trabalho está muito próxima, aguardando nós a todo o momento a oportunidade de podermos anunciar a data precisa da colocação em linha do renovado Ciberdúvidas.
Entretanto, deixamos disponível para consulta cerca de 40 mil textos, entre respostas e os textos mais variados das demais rubricas. E, para assuntos que não digam respeito a dúvidas linguísticas, recomendamos a utilização dos contactos aqui indicados.
Reagindo à maneira como, na televisão pública portuguesa, o Jornal 2 (RTP2) tratou em 11 de maio p. p. o tema da entrada em definitivo da nova ortografia no país – com uma peça jornalistica emitida também nos demais canais da RTP, eivada de imprecisões factuais e muita confusão sobre o objeto concreto do Acordo Ortográfico –, a professora universitária Margarita Correia (vice-presidente do Centro de Estudos de Linguística Aplicada-Instituto de Linguística Teórica e Computacional), entrevistada nessa em direto nessa mesma emissão, reclamou junto do provedor do Telespetador da RTP, Jaime Fernandes, que a ouviu no programa Voz do Cidadão, de 30 de maio p.p.1 Aqui fica (e na rubrica Acordo Ortográfico) o registo das suas críticas e reparos à referida peça.
Disponível aqui.
1 Nos reparos à peça em causa, segundo a qual só Portugal aplicava o Acordo Ortográfico e apenas quatro países o tinham ratificado até à presente data (outro erro, porque se trata de seis: Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), Margarita Correia incorreu num lapsus linguae, ao falar em ratificação, em vez de assinatura. Foi o que aconteceu, de facto, no ato oficial, ocorrido em Lisboa a 22 de setembro de 1990, com a assinatura da aprovação do Acordo Ortográfico pelos representantes dos então sete países lusófonos (Timor-Leste, ainda não independente, só o subscreveria posteriormente, em 2004) – e não a ratificação propriamente dita. Ainda sobre esta contestação, leia-se o comentário Sobre pessoas que nunca mais devem pôr os pés na RTP. no blogue A Lâmpada Mágica, de Jorge Candeias.
Continuamente se apresenta o inglês como a língua franca da atualidade, mas o ciberespaço tem maior diversidade linguística do que poderia calcular-se e são muitas as línguas que aí se afirmam, entre elas, o português. Com efeito, um artigo – intitulado The digital language divide, ou seja, a A barreira linguística digital – do jornal inglês The Guardian revela que, no conjunto das línguas mais utilizadas no universo digital, a língua portuguesa ocupa o quinto lugar, com mais de 121 milhões de utilizadores. Essa posição corresponde a um perfil de utilização que não se confunde com o de outras línguas concorrentes; contudo, o acesso à informação pode ser deficitário, levando a lusofonia a recorrer ao inglês e a outras línguas para obter ou difundir o conhecimento em linha não recoberto pelo português. E, na verdade, revela ainda o mesmo artigo, quem escreve em português no Twitter também o faz em inglês. O multilinguismo é, portanto, uma dimensão incentivada na Internet, mas até que ponto esta capacidade não acaba por beneficiar as línguas hegemónicas e enfraquecer ainda mais o uso de línguas com menos falantes e menor capacidade de afirmação cultural e tecnológica? E que futuro terá o próprio português num espaço digital tão disputado?
As notícias sublinham um consenso entre os participantes da conferência Português, Língua de Oportunidades, realizada pelo Diário de Notícias, em Lisboa: os líderes políticos da CPLP devem falar sempre em português perante a comunidade internacional. Pela defesa deste princípio, manifestou-se o embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, cujo ponto de vista teve o reforço de outras intervenções; por exemplo, a do embaixador português Francisco Seixas da Costa, que considerou necessária a aposta dos países lusófonos na formação de intérpretes e na criação de instrumentos para permitir a utilização da língua portuguesa nos organismos internacionais; registem-se também as declarações de Jorge Sampaio, antigo presidente da República português, que vê urgência na inclusão do português entre o grupo de línguas oficiais das Nações Unidas. Assinale-se ainda a posição de Luís José de Almeida, embaixador angolano junto da CPLP, atribuindo ao português a função de promover a unidade e a coesão interna de norte a sul de Angola, ao mesmo tempo que pediu a Portugal e ao Brasil maior empenho na projeção da língua. Não obstante o percalço do cartaz com o programa desta conferência, sob o título genérico O futuro da língua portuguesa discutido em bom português – comentado no Pelourinho, por contraditoriamente apresentar anglicismos inúteis –, só se deseja a (breve) concretização em atos do que foi aí proferido.
Ver mais: Comunidade deve falar em português + Machete defende estudos sobre o "valor económico" da língua portuguesa + Jorge Sampaio: «Não devíamos desistir de conseguir incluir o português entre as línguas oficiais da Europa + DN prepara aposta nos países de língua portuguesa + Reformas chinesas oferecem novas "oportunidades de desenvolvimento"
O título é do Jornal de Angola, que, algo surpreendentemente*, assim editou, na última página da sua edição de terça-feira, 26 p. p., a notícia distribuída pela agência Lusa sobre os trabalhos da X Reunião Ordinária do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), com as declarações da respetiva diretora executiva, a moçambicana Marisa Mendonça. «Em nenhum dos países» – sublinhou – «está em causa o Acordo Ortográfico. O que é diferente é o processo, as estratégias e os tempos que se prevê para a implementação plena das novas regras».
[A notícia fica disponível na rubrica Acordo Ortográfico, na íntegra, com a pormenorização, segundo a diretora executiva do IILP, do faseamento da aplicação das novas regras ortográficas do português nos países da CPLP. Nomeadamente em Portugal e no Brasil («praticamente plena», apesar da contestação de setores anti-AO num e noutro lado do Atlântico), em Cabo Verde («em processo de implementação») e em Moçambique (onde se aguarda homologação parlamentar, após aprovação governamental), enquanto em Angola ainda se está «em fase de discussão».]
* Surpreendentemente, tendo em conta algumas tomadas de posição mais virulentas dadas à estampa pelo jornal oficial angolano contra o Acordo Ortográfico mas, ao mesmo tempo, em sintonia, já, com as mais recentes declarações da coordenadora da Comissão Nacional de Angola no Conselho Científico do IILP, Ana Paula Henriques.
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