São territórios que têm uma dimensão simbólica na construção da história social, política e cultural do português: se Goa evocará sempre o auge do expansionismo português no século XVI, a Galiza configura-se como ponto de partida do idioma e centro dinamizador da cultura em que Portugal se foi definindo nos alvores da Idade Média. Daí o relevo que merecem sempre as iniciativas de goeses e galegos no âmbito da promoção da língua portuguesa. Dois exemplos:
– o primeiro Festival da Lusofonia Goa 2015, que a Sociedade Lusófona de Goa organiza de 20/02 a 20/03 com o objetivo de dar a conhecer a cultura dos países e regiões lusófonas, focando nesta edição Angola, Brasil, Cabo Verde, Macau, Portugal e Timor-Leste;
– a emissão que o programa Galicia por diante, da Rádio Galega, dedicou em 26/02 ao ensino do português na Galiza, já no novo contexto criado pelo memorando assinado pela Junta da Galiza e pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, em 19/02, na Corunha (ouvir aqui).
A crise financeira não larga Portugal, agravando problemas económicos e sociais. Mas há também motivo de preocupação para a língua portuguesa, porque, nas intervenções e declarações dos dirigentes políticos, se ouve novamente a forma incorreta "precaridade", em lugar da palavra devida, precariedade. É o que se conclui da cobertura mediática do encontro The Lisbon Summit 2015, promovido pelo jornal britânico The Economist no dia 24 de fevereiro em Cascais, que reuniu várias figuras políticas e empresários. Recordemos o que já se disse aqui acerca da razão de precariedade ter a forma que tem: "Precariedade... por mais que haja quem a ponha em causa", "Razões q.b. para recusarmos o barbarismo `precaridade´", "Precariedade, e não ´precaridade`", "Teimando no disparate `precaridade´".
No contexto da aprendizagem do Português como Língua Estrangeira (PLE), reconhece-se a importância de os alunos desenvolverem muito cedo a capacidade de pôr em texto o registo das suas experiências e opiniões. Sobre esta necessidade, a rubrica Ensino disponibiliza uma breve reflexão de Ana Martins sobre os exercícios de escrita propostos pela Ciberescola da Língua Portuguesa aos seus alunos de PLE: os temas são bem concretos e podem vir a propósito, por exemplo, do sistema de cobrança de portagens das autoestradas portuguesas, ao que parece, nada favorável aos condutores estrangeiros.
Quando no final de 1961, após mais de 400 anos de história como possessão de Portugal, o território de Goa foi integrado na União Indiana, a língua portuguesa viu bruscamente alterar-se aí a sua sorte, conotada que estava com o colonialismo; e, durante as últimas cinco décadas, o seu uso foi perdendo terreno para outros idiomas (o concani, o marata, o canada, o hindi, o urdu e o inglês). São, pois, de assinalar neste dia as celebrações do Dia da Língua Portuguesa (Portuguese Day), mais uma vez realizadas no Parvatibai Chowgule College, em Margão (Goa), com o apoio do Centro de Língua Portuguesa que o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua mantém em Pangim. Contando com a participação de professores e alunos das escolas secundárias e do ensino superior do estado de Goa, a iniciativa abrange várias atividades (concursos, oficinas de trabalho) e inclui, além de uma exposição (O Potencial Económico da Língua Portuguesa), uma cerimónia de entrega de diplomas e certificados aos alunos que concluíram em 2014 os cursos de Língua e Cultura Portuguesas na instituição que acolhe o evento.
Cf. Júlio Gonçalves e a Literatura Romântica na Índia Portuguesa
Novamente disponível e atualizada, a Plataforma do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) é lançada publicamente neste dia, na sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa. Instrumento de gestão linguística cuja elaboração foi coordenada pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa, entidade responsável pela política da língua no âmbito da CPLP, o VOC reúne todos os vocabulários ortográficos nacionais (VON) dos Estados-membros, fixando a grafia das palavras conforme os princípios do novo Acordo Ortográfico, a que se acresce informação sobre a flexão e a divisão silábica dos vocábulos. Sublinhe-se que a importância deste instrumento advém igualmente de ser esta a primeira vez que países como Moçambique ou Timor-Leste tiveram a oportunidade de organizar os seus próprios vocabulários ortográficos nacionais, juntando-se assim a Portugal e ao Brasil, onde tal tipo de recursos já tem tradição. «Em fase de incorporação e já validado pelas autoridades competentes – segundo declarações do linguista José Pedro Ferreira ao Jornal de Notícias – encontra-se o vocabulário de Cabo Verde, enquanto o de São Tomé e Príncipe está em fase de validação.» Mais atrasados estão os trabalhos com os vocabulários da Guiné-Bissau e de Angola. É ainda de lembrar que o VOC foi oficialmente reconhecido pelos Estados-membros da CPLP mediante as conclusões finais da X Conferência de chefes de Estado e de Governo da CPLP, realizada em julho de 2014 em Díli. Mais pormenores na rubrica Notícias.
Como no Brasil, também nos Açores se pode dizer apelido aquilo que no continente é conhecido como alcunha. E que alcunhas ou apelidos se usam no arquipélago? A rubrica O Nosso Idioma disponibiliza um texto do jornalista açoriano Joel Neto publicado no Diário de Notícias justamente sobre os nomes usados nas ilhas açorianas; são exemplos Chorica, porque o/a visado/a chora ou se queixa frequentemente, e Fininho, certamente em alusão à magreza –, mas há mais.
No Pelourinho, retomando anteriores chamadas de atenção registadas aqui no Ciberdúvidas – a última das quais foi esta –, inclui-se um apontamento do professor António Bagão Félix, respigado do blogue Tudo Menos Economia, sobre o uso incorreto do adjetivo humanitário na comunicação social portuguesa.
O consultório põe em foco dúvidas quanto à sintaxe e boa formação de palavras, além de explicar como se referenciam as imagens usadas num documento; e, ainda, em nota a uma resposta recente, a nossa consultora Sandra Duarte Tavares apresenta mais argumentos para considerar que a sequência «já tenho problemas que cheguem» é uma frase correta, ao contrário de «já tenho problemas "que chegue"».
As notícias em Portugal voltam a ter incidência linguística. Desta vez, é por causa da subida do preço dos sacos plásticos para transporte das compras feitas nos supermercados e hipermercados. Acontece que a publicidade e a comunicação social se referem a estes espaços comerciais por formas mais curtas, sobretudo no caso de hipermercado, escrevendo frequentemente híper e, no plural, "hipers". Contudo, para a congruência destas formas com as regras que definem a relação grafia-fonia, o uso correto corresponde a híper e híperes, à semelhança da acentuação de líder e líderes. Também a forma "super-", um prefixo que pode passar a palavra autónoma, deve ser grafada súper, quando ocorre como adjetivo e substantivo: «gasolina súper»; «fomos ao súper» (cf. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e dicionário da Porto Editora). Observe-se que os atuais vocabulários ortográficos não registam estas palavras.
Apesar do inverno benigno de parte de Portugal, é lugar-comum a referência ao ambiente gélido de muitas casas, por exemplo, da capital portuguesa, sem sistema de aquecimento para resistir ao frio inesperado. Se não fossem os dias "solarengos"... – perdão, os dias soalheiros. Na verdade, um dia cheio de sol é um «dia soalheiro» ou um «dia ensolarado», mas nunca um «dia "solarengo"», como se continua erradamente a dizer nos media portugueses (por exemplo, aqui), agora a propósito do tempo luminoso mas gelado que vem assolando quase todas as terras lusas. Basta consultar um texto em arquivo no Pelourinho para recordar que solarengo nada tem que ver com sol. Relaciona-se, sim, com o substantivo solar, «palácio ou edifício pertencente a família nobre», que vem de solo, «terra».
Sob a influência do frio continua o consultório, para falar da conjugação do verbo gear, além de abordar outros tópicos: o significado de moche, o uso do estrangeirismo gruyère, a regência do verbo ascender e a diferença entre ofender e insultar. Finalmente no Correio, um consulente manifesta o seu apreço por uma resposta do nosso consultor Gonçalo Neves.
Perdura a discussão de certas questões linguísticas, porque subsistem dúvidas sobre os critérios a ter na boa formação de palavras e expressões. Deve dizer-se «ciclo vicioso», ou «círculo vicioso»? «Círculo vicioso» é que é a forma correta, como se explica na atualização do consultório, onde também se pergunta: é legítimo associar considerar à preposição de e dizer que «consideramos uma visita "de" positiva»? E como usar as locuções «por seu turno», «por parte de» e «a exemplo de»? E, rebuscando antigas perguntas em arquivo, estará certo empregar perca em vez de perda? No Correio, uma consulente retoma outro velho problema: «melhor feito» poderá ser uso mais correto que «mais bem feito»?
Apreciando os usos linguísticos das notícias publicadas em Portugal, selecionamos duas questões:
– Em referência às dificuldades de acesso a um medicamento inovador para o tratamento da hepatite C, notam-se oscilações na pronúncia da vogal que começa o próprio nome da doença: h[é]patite, h[ê]patite, ou h[i]patite? Esta variação, típica do português de Portugal, não é alvo de censura normativa, conforme se pode avaliar pelo seguinte comentário: «[...] a rubrica das vogais átonas iniciais provenientes de [e] e de [o] (grafadas <(h)e-> e <(h)o->, respectivamente) é, de facto, uma das mais difíceis de caracterizar em termos absolutos. Na realidade, no estado actual do português europeu não é possível uma caracterização absoluta que corresponda à identificação de uma pronunciação única ou claramente dominante» (António Emiliano, Fonética do Português Europeu: Descrição e Transcrição, Lisboa, Guimarães Editora, 2009, 377; manteve-se a ortografia original).
– Sobre um encontro do líder espiritual dos tibetanos com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, surgem hesitações na escrita de dalai-lama: como se vê, é palavra que tem hífen e se grafa geralmente com minúscula inicial (a maiúscula ocorrerá só em situações que requeiram especial deferência).
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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